30.11.10

Um grito

O que menos importa no vídeo que se segue - por razões de qualidade acústica e visual - é a interpretação de Pablo Milanés.

O que nos faz tremer - e a outros faz temer - é aquele grito de alma que vem da plateia, o grito genuíno e comovente da gente de Cuba que sabe afirmar-se... se a deixam.




Como diz a letra da canção:
No ha sido fácil tener
una opinión que haga
valer mi vocación
mi libertad para escoger.

29.11.10

Preso hoje em Cuba (actualizado)

(ACTUALIZAÇÃO)
Radio Martí, 29/11/10) El bloguero, poeta y opositor cubano Luis Felipe Rojas Rosabal, fue puesto en libertad y pocos minutos después, habló con Radio Martí. El escritor explicó que una patrulla policial lo dejó a 12 kilómetros de su pueblo, San Germán, y que se encontraba bien a pesar del contratiempo.
(Fim de actualização)

«Yo estoy obsesionado con la libertad y muy pocas cosas me entretienen de ese camino»
Luis Filipe Rojas

28 de Novembro de 2010: foi preso mais uma vez.

«Rojas, colaborador de DIARIO DE CUBA, fue esposado delante a su familia y subido a una patrulla. Mensajes publicados por "amigos" en la cuenta de Twitter del periodista indicaron que este fue conducido al cuartel de la Seguridad en Guantánamo.

El oficial que realizó la detención de Rojas no creyó el motivo de su presencia en Guantánamo. "Sin importarle las condiciones en que quedaban Exilda y sus dos hijos, que lloraban, el gendarme los trató con despotismo y cinismo, diciéndole al chofer del carro en el que viajaban que la dejara 'botada' en Santiago de Cuba"

Este "perigoso comunista", digo anti-castrista, respondia assim, recentemente, a uma
entrevista:

¿A qué Cuba aspira Luis Felipe Rojas?
LFR: Fácil. A la de una hora de Internet sin que te cueste lo mismo que diez libras de carne de cerdo. Sueño con el día en que en una pantalla gigante colocada aquí en el parque Calixto García, de Holguín, pueda ver pitchear a Aroldis Chapman sin que lo abuchee "el pueblo enardecido", a sentarme a ver el noticiero del mediodía para ver salir de la cárcel a Oscar Elías Biscet, Juan Carlos Herrera Acosta, Orlando Zapata Tamayo, Próspero Gaínza Agüero y Enyor Díaz Allen de la cárcel y sean recibidos por el nuevo Ministro del Interior, que debe ser un médico, un sociólogo o un ingeniero, y los reciban en el nuevo Palacio de Gobierno, se les rinda honores y se puedan ir a donde les salga de sus… ganas.

28.11.10

Belmiro contra Belmiro

Belmiro de Azevedo apoia a recandidatura de Cavaco Silva, de 71 anos, à Presidência da República (1). Mas diz que Manuel Alegre devia ter juízo por se candidatar aos 74 anos!

Belmiro apoia a candidatura de Cavaco Silva porque lhe reconhece "as competências certas para garantir um segundo mandato sereno e construtivo". Mas há dez meses dizia que Cavaco era “um ditador” ! (2)

Belmiro é (era...) contra a existência de um Bloco Central, porque se existisse virava "ditadura a dois” (2) – ficamos a perceber que ele só está contra as ditaduras se forem bicéfalas.

Com este nível de coerência não surpreende que o dono da Sonae... tivesse afirmado, também em Janeiro, que "para se ter uma sociedade coesa, os trabalhadores têm de ser bem tratados, não se podem explorar".

(1) Diário Económico 27 de Novembro de 2010.

(2) Revista Visão de 27 de Janeiro de 2010.

26.11.10

Desunião europeia

«Não há uma solução fácil nem rápida para a crise» - vão assumindo os próprios dirigentes políticos a todos os níveis, desde os que governam os países até aos que governam a pseudo-União Europeia.
Enquanto as exigências dos países mais ricos da “União” Europeia encostam sucessivamente à parede os países mais pobres, através de exigências que estes não têm condições para satisfazer, e enquanto os efeitos impopulares destas exigências nas políticas dos países mais dependentes vão gerando descontentamento e contestação, os próprios governos destes países vão pagando a factura política.

Na Grécia, na Irlanda, na Espanha, em Portugal… as crises governamentais já chegaram ou estão à porta. Por enquanto são as quedas ou remodelações governamentais, mas a prazo serão certamente as próprias políticas.

Desmascarada a incapacidade desta “União” Europeia para responder aos problemas da região, incapacidade que já vai sendo assumida pelos próprios dirigentes, e dado o caracter anti-democrático do seu funcionamento, uma corrente cada vez mais forte da sociedade europeia se vai adiantando a eles na contestação global da organização.

Parece que só o fantasma do medo pelas repercussões incertas do retorno às moedas nacionais vai refreando ou adiando essa decisão, já que a cooperação económica parece nunca ter passado de um embuste. Mas o medo perde a eficácia, aqui como na vida, quando se revela maior do que o perigo.

Quando são cada vez mais os países de baixo (até no sentido literal) a cair no índex económico, é o próprio sistema que vai ruindo e com ele se arriscam a apagar-se os próprios líderes da organização, seja a Grã-Bretanha, a França ou a própria Alemanha.

Outra Europa é possível?
Esta não é! Encalhou nos seus próprios sofismas.


Recomendo:El País e o artigo
"Condenados à dívida perpétua" em ALAINET.org
Imagem inicial:
composição original

25.11.10

Aviso prévio

NOTÍCIA
A proposta de Orçamento de Estado para 2011, vai ser definitivamente aprovada na Assembleia da República na próxima sexta-feira, 26 de Novembro, com os votos a favor do PS e com a abstenção do PSD destinada a viabilizá-lo.

DENÚNCIA
Este O.E. incorpora a vontade política dos países mais ricos da União Europeia e os respectivos interesses, bem como a opção liberal dos partidos portugueses que se reclamam “do arco da governação".

ACUSAÇÃO
As políticas contempladas no documento em apreço têm efeitos claros:

1) destinam-se a fazer pagar aos trabalhadores e às camadas sociais menos protegidas, o preço exclusivo de uma crise que não provocaram, através da redução directa de salários e do congelamento de pensões; do aumento de impostos sobre o trabalho e o consumo (IRS e IVA) que corresponde a uma desvalorização indirecta das remunerações;
2) degradação do tecido económico, recessão, falências e desemprego:
3) empobrecimento crescente da população e agravamento das condições de funcionamento da Segurança Social;
4) aumento das desigualdades e desmotivação da população para as soluções políticas da crise, com reacções sociais imprevisíveis.

AVISO
A contestação «vem para ficar e para ser o impulso forte e combativo para todas as pequenas e grandes lutas que os próximos tempos continuarão a reclamar imperativamente, sector a sector, empresa a empresa, medida a medida, luta a luta, batalha a batalha, e nacionalmente» (Victor Dias)

Assim conserve o Movimento Sindical - digo eu - a confiança que já foi perdida, por razões diversas, nos partidos políticos fundadores desta democracia empobrecida .

Quanto aos efeitos da «terapia de» choque receitada por Merkel e Sarcozy, mais depressa os “curarão” a eles e à União Europeia, do que às economias nacionais que lhes são dependentes.

E não é porque não tenham sido eleitos. É por não terem sido eleitos... para isto!

21.11.10

"Contenção" salarial


Recorte do CM de 21 de Novembro de 2010 - no escândalo dos cortes salariais e do congelamento de pensões, ambos agravados por aumentos de impostos. Infelizmente é apenas um de muitos exemplos do cinismo do "arco da governação". Infelizmente há muito mais razões para a Greve Geral do dia 24.

A censura anda aí


Funcionários da Polícia Municipal da cidade do Porto, entraram nas instalações da "Federação dos Sindicatos do sector Têxtil, Vestuário e Calçado" e retiraram ilegalmente uma faixa de propaganda que fazia o apelo à Greve Geral de 24 de Novembro e que estava colocada na varanda das instalações da própria Federação.Esses mesmos elementos da Polícia Municipal tentaram retirar uma faixa idêntica no "Sindicato dos Trabalhadores de Transportes Rodoviários e Urbanos do Norte" sendo que aqui, legitimamente, o Sindicato conseguiu impedir essa acção.

É o PSD que quer ser governo nacional... Dasss!

20.11.10

Jornais que matam

Uma amiga, prestigiada cançonetista, dizia-me que não era grave que dissessem mal dela mas sim que a ignorassem. Ignorar alguém que, pelo seu mérito e interesse público deva ser notícia, é matá-lo. Isto é o que fazem jornais impresssos, falados ou audiovisualisados. É nisto, entre outras razões, que um relevante serviço público de Informação se torna indispensável.

Quase só como pretexto, que os há muitos e todos os dias, trago por razões de actualidade a notícia da morte de Joaquim Gomes que não era cantor nem actor nem jogador de futebol nem ministro – era apenas um homem que passou a vida inteira a lutar contra a ditadura salazarista, primeiro, e contra a tirania capitalista, então e sempre.

Dos que “apesar de tudo, falam” para expressar ódios anti-comunistas, não reproduzo o que dizem mas algumas respostas que mereceram:

«... Este comentário deve ser lido por todos para que se apenda quais os limites da ignorância, do ódio, da falta de verdade e de vergonha. Este tipo de pensamento é que nos arrasta para o buraco em que nos encontramos, mas já é antigo. Vê-se coisa idêntica nos textos dos que atacavam o Mestre de Avis e queriam dar o Reino de Portugal aos Espanhois. Encontrava-se nos que resistiam aos Filipes de Espanha, nos que defederam o Salazarismo e de forma geral dos que sempre estiveram do lado errado da História, aquele que sempre trocaram a inteligência e a cultura pela traição ao seu povo».

Não resisti também a escrever:

«Imbecis anónimos que se colocam do lado dos assassinos contra as vítimas, do lado dos carrascos, contra os perseguidos, do lado dos opressores contra os oprimidos, "eunucos que se devoram a si mesmos", fazem sobresair ainda mais a grandeza e a dignidade, a generosidade, a coragem e a actualidade de homens como Joaquim Gomes, valores que estão muito acima de quaisquer polémicas sobre opções de percurso».

Mas falta uma palavra sobre as atitudes mais graves de que falava a minha amiga cantora – os silêncios que matam.

A "Visão online" (de manifesto pendor “socialista”) começou por remeter para espaço escondido a notícia sobre um homem que dedicou a vida à resistência anti-fascista e à defesa dos mais fracos. Nada que se compare com as notícias que destaca, desde o rádio que foi atirado à cabeça de Scolari, à montagem do espectáculo de Shakira, da deputada argentina que dá uma bofetada numa colega até ao que se diz sobre um anúncio de Bayoncé... e outras frivolidades ainda menos interessantes e importantes.

Mas enquanto eu escrevia este comentário, a notícia envergonhada sobre Joaquim Gomes, foi simplesmente eliminada... Assim vai a cegueira da Visão.

Colômbia e Venezuela aproximam-se

Hugo Chavez, praticamente orfão do seu mentor ideológico, Fidel Castro, abriu os braços desmesurados e imprevisíveis, em 10 de Agosto, ao novo presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, que foi braço-direito do ex-presidente Uribe, ambos carrascos dos opositores políticos e que ficaram muito conhecidos pelo mundo no âmbito da operação de resgate de Ingrid Betancourt. (Na foto, ela ao centro e Santos à direita, de camisa branca)

Santos e Chavez comprometem-se a buscar o consenso e evitar divergências. Fazem acordos de cooperação no combate ao narco-tráfico. A troca de prisioneiros é já uma realidade.

Colômbia e Venezuela compartilham 2.219 quilômetros de fronteira. Chavez, há um ano, mandava avançar as tropas para a fronteira com a Colômbia devido à suposta ameaça desta atacar a Venezuela. "Estamos dispuestos a todo" dizia Chavez na televisão em Novembro... de 2009. Antes da tomada de posse de Juan manuel Santos, Chavez ainda assumia a relação conflituosa com a Colômbia de Uribe. Este acusava o presidente da Venezuela de "ocultar a guerrilleros en su territorio" e anunciava "que llevará el asunto a la Organización de Estados Americanos (OEA)".

Agora que Santos assume a presidência colombiana, Chavez ainda quer lá as tropas mas é para evitar que traficantes colombianos utilizem ou se refugiem no seu país – o que responde, afinal, à preocupação de Álvaro Uribe.

A Colômbia é o maior produtor mundial de cocaína, e a Venezuela é tida como um importante entreposto na rota do tráfico para a Europa e os Estados Unidos. Os seus acordos internacionais para combate ao narco-tráfico não se limitam à Venezuela. Ainda há dias o presidente Santos esteve na Jamaica* com o mesmo propósito declarado, além dos acordos económicos e de cooperação nas áreas da educação e do desporto.

É nítido o esforço do novo presidente colombiano para desenvolver e melhorar as relações diplomáticas com outros países e a diferença de atitude em comparação com o seu antecessor. Será um lado positivo da crise económica mundial?


* A Jamaica situa-se a cerca 145 quilômetros ao sul de Cuba. É uma monarquia parlamentarista e o chefe de estado é o monarca - actualmente é a Rainha Isabel II do Reino Unido.

19.11.10

Mais Fidel, menos Fidel

Fidel desprende o segundo laço que o amarrava à direcção política de Cuba, ou esta a ele. Depois de deixar formalmente a direcção do governo, em 2008, deixa agora a direcção do partido. Uma vez mais, por razões de saúde.
”No vacilé ni un segundo al deponer mis cargos" – disse como quem não se tivesse agarrado ao poder durante cinquenta anos à custa do monopartidarismo, da repressão e da censura.

Vai mesmo ao ponto de declarar a sua concordância com as reformas em curso e fala da necessidade de "salvar la Revolución" y fortalecer la "crítica y la autocrítica" – sem se criticar!

De notar que o Partido Comunista de Cuba realizará em Abril de 2011 o seu VI Congresso onde se aprovará um plano de reformas económicas mas que também “elegerá” a nova cúpula do partido único, incluindo o seu secretário geral (“primer secretario”).

18.11.10

Metáfora para os tempos que correm


Quem escrevera Port-Wine, que eu já conhecia numa gravação de Mário Viegas, não podia ser menos que uma entidade transcendente. Mas foi na aldeia do meu pai que o encontrei, por acaso, ao entrar na Casa do Povo de Murtede. Não o achei simpárico, Joaquim Namorado, o mítico autor do poema! O mito fez-se homem onde menos esperava.

Compreendi que a obra transcende o autor.

Não me venham por isso com as histórias privadas e mesquinhas do genial pintor que deixava a roupa espalhada pela casa ou do revolucionário que...


17.11.10

Carta histórica

«... Todos estamos de acordo em que há dois problemas fundamentais, sem cuja solução não poderá haver paz social, sejam quais forem as aparências. O primeiro é que os frutos do trabalho comum devem ser divididos com equidade e justiça social entre os membros da comunidade, quer no ponto de vista dos indivíduos quer no dos sectores sociais».
(...)
«O segundo é que, seja qual for o conforto ou riqueza que se atribuam a um indivíduo ou a uma classe, nunca eles estarão satisfeitos enquanto não experimentarem que são colaboradores efectivos, que têm a sua justa quota-parte na condução da vida colectiva, isto é, que são sujeito e não objecto da vida económica, social e política».
(...)
«Nestes termos e pedindo me releve a recta intenção em tudo quanto possa ter magoado V. Exa e reiterando a expressão da minha muita consideração pessoal, fico aguardando ordens de V. Exa e subscrevo-me
De V. Exa
Venerando e muito obrigado
a) António, Bispo do Porto

13 de Julho de 1958

(Fim de citação)

Sendo eu António e do Porto, não sou o autor deste texto como acima ficou esclarecido - extraí-o da carta histórica que deu origem ao exílio de António Ferreira Gomes (na foto).

Tampouco pretendo fazer comparações de personagens ou de contexto senão naquilo que este excerto denuncia: a vocação dos dirigentes políticos para abusarem do poder que supostamente pertence ao povo.


Até para que os mais distraídos compreendam o sentido de uma greve geral.

16.11.10

Homens fazem milagres

Quem estuda os fenómenos da luz e da formação das imagens, sabe que nós não vemos os objectos mas sim a luz que eles reflectem na nossa direcção.

Por isso é que vemos um lago no meio do deserto quando a atmosfera faz reflectir, da areia, luz proveniente das nuvens – que são água, é certo, mas que não está onde a localizamos.

Por isso também é que os objectos “desaparecem” quando a luz se apaga. Por isso é que continuamos a ver astros que já não existem ou não existem onde os vemos – devido ao tempo que demora a luz a percorrer o espaço entre eles e nós.

Nada mais parecido com os discursos políticos "do arco da governação" e os seus ecos nos comentadores do mesmo “espectro” político: com mais ou menos convicção, eles querem mostrar-nos uma realidade que muito simplesmente não está lá; está fora do seu espaço ideológico!


Nada se espera de gigantes sem alma que nos são impostos como salvadores. Como se pode perceber no vídeo que se segue, os milagres possíveis são feitos por aqueles que rompem as convenções, para transformar a realidade.


15.11.10

Assim falava... Karl Marx (2)
(sobre "a crise")


«As relações burguesas de produção e de intercâmbio, as relações de propriedade burguesas, a sociedade burguesa moderna que desencadeou meios tão poderosos de produção e de intercâmbio, assemelha-se ao feiticeiro que já não consegue dominar as forças subterrâneas que invocara.

De há decénios para cá, a história da indústria e do comércio é apenas a história da revolta das modernas forças produtivas contra as modernas relações de produção, contra as relações de propriedade que são as condições de vida da burguesia e da sua dominação.

Basta mencionar as crises comerciais que, na sua recorrência periódica, põem em questão, cada vez mais ameaçadoramente, a existência de toda a sociedade burguesa.

Nas crises comerciais é regularmente aniquilada uma grande parte não só dos produtos fabricados como das forças produtivas já criadas. Nas crises irrompe uma epidemia social que teria parecido um contra-senso a todas as épocas anteriores — a epidemia da sobreprodução.

A sociedade vê-se de repente retransportada a um estado de momentânea barbárie; parece-lhe que uma fome, uma guerra de aniquilação universal lhe cortaram todos os meios de subsistência; a indústria, o comércio, parecem aniquilados.

E porquê? Porque ela possui demasiada civilização, demasiados meios de vida, demasiada indústria, demasiado comércio. As forças produtivas que estão à sua disposição já não servem para promoção das relações de propriedade burguesas; pelo contrário, tornaram-se demasiado poderosas para estas relações, e são por elas tolhidas; e logo que triunfam deste tolhimento lançam na desordem toda a sociedade burguesa, põem em perigo a existência da propriedade burguesa.

As relações burguesas tornaram-se demasiado estreitas para conterem a riqueza por elas gerada. E como triunfa a burguesia das crises? Por um lado, pela aniquilação forçada de uma massa de forças produtivas; por outro lado, pela conquista de novos mercados e pela exploração mais profunda de antigos mercados.

De que modo, então? Preparando crises mais omnilaterais e mais poderosas, e diminuindo os meios de prevenir as crises.

14.11.10

Assim falava... Karl Marx
(sobre economia)

Recupero este post que havia publicado em Maio, por razões de crescente actualidade.

Anoto apenas, já que o não fiz na altura, que onde se diz burguês ou burguesia deve ler-se aquele ou aquela classe que detém o poder económico. A razão do termo usado é o contexto histórico em que o texto foi escrito. As imagens e apenas as imagens são actuais. O texto é integralmente de 1848... Embora não pareça!

«A burguesia despiu da sua aparência sagrada todas as actividades até aqui veneráveis e consideradas com pia reverência. Transformou o médico, o jurista, o padre, o poeta, o homem de ciência em trabalhadores assalariados pagos por ela. A burguesia arrancou à relação familiar o seu comovente véu sentimental e reduziu-a a uma pura relação de dinheiro».

«A necessidade de um escoamento sempre mais extenso para os seus produtos persegue a burguesia por todo o globo terrestre. Tem de se implantar em toda a parte, instalar-se em toda a parte, estabelecer contactos em toda a parte».
«A burguesia, pela sua exploração do mercado mundial, configurou de um modo cosmopolita a produção e o consumo de todos os países. (...) As antiquíssimas indústrias nacionais foram aniquiladas, e são ainda diariamente aniquiladas. São desalojadas por novas indústrias cuja introdução se torna uma questão vital para todas as nações civilizadas, por indústrias que já não laboram matérias-primas nativas, mas matérias-primas oriundas das zonas mais afastadas, e cujos fabricos são consumidos não só no próprio país como simultaneamente em todas as partes do mundo».
«Para o lugar das velhas necessidades, satisfeitas por artigos do país, entram [necessidades] novas que exigem para a sua satisfação os produtos dos países e dos climas mais longínquos».

«Para o lugar da velha auto-suficiência e do velho isolamento locais e nacionais, entram um intercâmbio omnilateral, uma dependência das nações umas das outras.

(...) A burguesia, pelo rápido melhoramento de todos os instrumentos de produção, pelas comunicações infinitamente facilitadas, arrasta todas as nações, mesmo as mais bárbaras, para a civilização. Os preços baratos das suas mercadorias são a artilharia pesada com que deita por terra todas as muralhas da China, com que força à capitulação o mais obstinado ódio dos bárbaros ao estrangeiro».

«Compele todas as nações a apropriarem o modo de produção da burguesia, se não quiserem arruinar-se; compele-as a introduzirem no seu seio a chamada civilização, i. é, a tornarem-se burguesas»
.

Excertos do Manifesto do Partido Comunista, de Marx e Engels.

11.11.10

Novas classes na Greve Geral

A adesão dos magistrados portugueses à Greve Geral de 24 de Novembro, no seguimento da sua greve de Outubro de 2005, revela uma realidade nova no contexto das lutas sociais: a proletarização cada vez mais ampla dos trabalhadores.

Karl Marx previu este fenómeno na forma de passagem dos profissionais independentes a assalariados, mas acresce a isto, se não é o mesmo, a ampliação do caracter hostil do capitalismo (ou dos governos que o suportam) a profissões que até agora pareciam ou estavam protegidas pelo sistema.

Parece inserir-se neste caso, pois, a adesão dos magistrados à Greve Geral de 24 de Novembro, associando as suas reclamações à reclamação geral dos trabalhadores, isto é, revelando a consciência de que o estatuto privilegiado que o sistema lhes oferecia para lhes ganhar a cumplicidade, era hipócrita e efémera.

Para o capitalismo, todo o independente deve ser recrutado para o seu exército e todo o assalariado deve ser explorado a favor do lucro – seja ao nível da remuneração ou do tempo e condições de trabalho, o que vai dar ao mesmo.

De notar que as greves de magistrados não são uma originalidade portuguesa nem europeia sequer.

Mas é claro que isto fere os sentimentos classistas de quem exerce o poder acima da sociedade real – uma sociedade que é una como um navio apesar de serem diversas as funções dos seus tripulantes, e cuja divisão em castas perde sentido quando se trata de salvar a embarcação em que todos estão metidos.

Que este sentimento classista seja partilhado e expresso por aqueles que assimilaram o conceito mesmo sem terem o Poder, é tão velho quanto o argumentário. Cito um exemplo actual:

«Da mesma maneira que não tem qualquer utilidade social haver uma princesa que se comporta precisamente como a nossa vizinha badalhoca do 5º Esquerdo, também se torna difícil conferir dignidade a uma classe de magistrados que se comporta colectivamente da mesma forma que o pessoal da estiva…»

Neste texto*, como se vê, a classe trabalhadora, especialmente retratada no “pessoal da estiva”, é uma “vizinha badalhoca” da qual a elite social deveria evitar o contágio – além do cheiro.

Para manter o nível da conversa, cito Brecht:
«Para quem tem uma boa posição social, falar de comida é baixo. É compreensível: eles já comeram».

Historicamente, a greve, antes de ser um facto regulado por lei, já era um facto regulado pela vontade dos seus actores, os trabalhadores, no exercício da sua liberdade natural. Ao contrário do que pensam alguns, não são as leis que fazem a sociedade; é a sociedade que faz as leis.


* Consulta integral do texto citado, AQUI.

Relacionado com este tema publiquei aqui em Março um artigo a propósito da greve dos pilotos: «Pilotos e Classes Sociais»

9.11.10

Acudam ao Capitalismo

Assim abria o "Prós e Contras" desta noite (8 Nov)
– quatro frases, quatro disparates:

«O modelo de economia capitalista vai ter que se humanizar para garantir a sua própria sobrevivência. Esta ideia está a ganhar cada vez mais adeptos. E já hoje é visível a multiplicação de iniciativas particulares na área social e sobretudo a aposta na chamada economia social.
Empresas que não colocam os lucros como objectivo máximo a atingir e conseguem evitar o prejuízo».
(...)
«O futuro passa pela inovação social, pelo empreendorismo, pelas redes de solidariedade social, e pelo voluntariado».
(...)
«Pretende-se que o debate desta noite seja a alavanca dessa redobrada consciência social e que se torne por sua vez numa mobilização para a acção».

Pese embora a ingenuidade aparente da apresentadora, já a escolha do “painel” e mais obviamente ainda a cândida tese do “capitalismo humanizado” deram uma imagem pungente do que é o esforço dos orgãos de informação ao serviço de uma ideologia e do que é o desespero patético dos seus funcionários mais fiéis e/ou mais convictos.

Dir-se-ia que o capitalismo está mesmo por um fio, mas receio que esse pânico seja precipitado. Para já, que eu saiba, é só uma greve geral. E é só no dia 24.

4.11.10

JORNAL (é) DE NOTÍCIAS

(ou não é jornal)

Não se entenda isto como piada contra o jornal de Mário Crespo ou até o de Ana Lourenço que eu ouço e vejo (respectivamente?) com interesse. Mas jornal quer notícias e quer-se universal. Fica aqui a nota deste “provedor”.
Quanto à Imprensa, gostaria de partilhar uma “impressão” que tem tanto de gráfico como de sentimental: o proveito e o prazer que me dá o Jornal de Notícias, jornal "de preferência" se não fôr "de referência".

Bastaria ao JN a crónica habitual de Manuel António Pina para justificar a consulta do jornal. Mas “além disso” que afinal é jornalismo de opinião, o que surpreende num leitor do século XXI, é que o diário é rico de noticiário – porventura mais que nunca por razões de concorrência. Que gaste muito papel com os crimes de faca e alguidar, anúncios suspeitos e publicidade mortuária, não é menos legítimo do que ouvir horas a fio, dias, semanas, meses..., os mentores convidados das televisões a dizer as mesmas coisas sobre os mesmos assuntos, tão falsamente discordantes entre si como José Sócrates e Passos Coelho.

Pelo contrário, não só é legítimo como é necessário. Na medida em que a “vox populi” *, fica ali melhor representada do que nas entrevistas de rua, pescadas à rêde e posteriormente editadas como se assim não fôsse.

Na medida, também, em que as tais notícias de histórias individuais de grande impacte, são materiais com valor sociológico maior do que as opiniões de Francisco Van Zeller, marido de Maria João Avilez, irmã de Maria José Nogueira Pinto, esposa de Jaime Nogueira Pinto..., por mais representativas que sejam as suas opiniões sobre as empresas e "as famílias".


* “vox populi” é uma expressão que ficou consagrada no jornalismo para designar a recolha improvisada de opiniões na rua, lá onde a "voz do povo" se pode escutar, supostamente livre e genuína.

1.11.10

Brincando ao arco (2ª versão)


«Toda esta noite o rouxinol cantou,
gemeu, chorou, gritou perdidamente.
Alma de rouxinol, alma de gente,
tu és talvez»... ministro das finanças.

As horas passam, perdem-se as esperanças
e os banqueiros perdem a paciência:
- Assinem um acordo; dêem uma conferência.
Precisamos de carne p’ró banquete!

Diz o mandatário competente:
- Se baixarmos salários e subirmos impostos,
nós salvamos a Pátria e a finança anima.

Mas o povo sussurra em cada esquina:
- Ora queimam a lenha, ora nos pedem pão.
Maldito “arco da governação”!


2010 OUT 30 às 23h20min