9.4.13

Coreia do Norte muito nublada

Alguém disse que a primeira vítima da guerra, é a verdade. No sentido de minimizar esse efeito, aqui fica uma modesta contribuição sobre o que se passa na Coreia do Norte.

Ao centro, o “brilhante camarada” Kim Jong-uno

A análise da situação não deve ser desligada e muito menos deve ignorar o isolamento a que foi votada pela “comunidade internacional” no âmbito da luta ideológica anticomunista. O desmoronamento da União Soviética teve consequências trágicas para aquele país, como de resto aconteceu em relação a Cuba: isolamento político, depauperação económica e tensões militares.

Nestas condições, nenhum país escapa a um regime autoritário, a uma economia de guerra e a uma sociedade militarizada - actualmente 1.500.000 militares norte-coreanos estão envolvidos regularmente em apoio a actividades civis.

Os efeitos sociais estão associadas a todas as outras consequências da tensão internacional. A fome é habitual na vida dos norte-coreanos mas actualmente a situação agrava-se, com a dificuldade de importar da China e da Rússia de onde se abasteciam habitualmente. São os resultados “humanitários” das “sanções” internacionais implementadas pelo Concelho Geral da ONU comandada pelos Estados Unidos da América.

A recente hostilidade internacional fundamenta-se no facto da Coreia do Norte ter lançado um satélite e ter realizado experiências nucleares subterrâneas. O país, por sua vez, sente-se no direito de desenvolver estas actividades tal como o fazem os próprios EEUU, a Rússia, a França e outros.

Por detrás dos argumentos estado-unidenses esconde-se a importância estratégica da Coreia do Norte, por estar encostada à China e à Rússia e possuir uma desenvolvida tecnologia de guerra, com capacidade para causar grandes danos nas instalações militares norte-americanas da Coreia do Sul e do Japão.

Que outra coisa se pode esperar de um país ameaçado militarmente, senão que tente defender-se militarmente? A pretexto de "proteger a Coreia do Sul", os Estados Unidos que têm 200 vezes mais armas nucleares do que a Coreia do Norte, sobrevoam este país com 200 voos de reconhecimento por ano, efectuam voos de bombardeiros nucleares, colocam barcos militares em posições de ataque contra a Coreia do Norte, mantêm no sul 28.500 soldados e desenvolvem provocatórias "demonstrações de força" perto da fronteira.

Desde 2000 até 2008 uma política de paz e cooperação pôde desenvolver-se entre as duas Coreias, que almejava inclusivamente a reunificação. Mas um novo presidente ultraconservador da Coreia do Sul, mais comprometido com os EEUU do que com a sua região, segundo a sua vizinha, pôs cobro a todos os acordos que se firmaram nesse período.



As relações pacíficas da Coreia do Norte com os Estados Unidos da América assentavam ultimamente num tratado de armistício de 1953, entre as duas Coreias mas patrocinado pelos EUA e promovido pela ONU, criando uma zona desmilitarizada entre os dois países da península coreana. Mas este armistício foi profundamente abalado em 2006 quando a ONU decretou sanções contra o país a pretexto de experiências nucleares que a Coreia justificou como exercícios de defesa e dissuasão.

Se a Coreia do Norte descuidasse a sua defesa, os Estados Unidos da América fariam no seu país o que fizeram no Afeganistão, no Iraque ou na Líbia – ocupariam o país para apoderar-se dos seus recursos e zonas estratégicas. Este é o ponto de vista norte-coreano.

Desde 2000 até 2008 uma política de paz e cooperação pôde desenvolver-se entre as duas Coreias, que almejava inclusivamente a reunificação. Mas um novo presidente ultraconservador da Coreia do Sul, mais comprometido com os EEUU do que com a sua região, segundo a sua vizinha, pôs cobro a todos os acordos que se firmaram nesse período.

Em Maio de 2009 é a própria Coreia do Norte que rompe unilateralmente o acordo de paz, depois do seu vizinho da península anunciar que aderia ao programa de George W. Bush «para impedir o tráfico mundial de armas de destruição em massa» - o programa PSI (Iniciativa de Segurança contra a Proliferação) .

De notar que os EEUU criaram a sua própria fronteira marítima sem atender ao paralelo 38, isto é, ao arrepio do acordo que vigorava desde 1953. Os EEUU mantêm na região 28.500 soldados, um porta-aviões e dezenas de armas nucleares.

Há quem desvalorize as ameaças recentes da Coreia do Norte, nomeadamente o próprio vizinho, mas são sempre imprevisíveis estas situações. Há que ter em conta que em 2010 houve mesmo um enfrentamento directo quando três disparos da Coréia do Sul contra a do Norte foram respondidos com um bombardeio sobre uma ilha.

Previsível é o sofrimento das populações que não contam, como se percebe, para as decisões estratégicas militaristas. A não ser na medida em que são necessárias pessoas para fazer a guerra.



Este artigo recolhe, entre outras fontes, uma parte das declarações de Alexandre Cao de Benós, único representante ocidental da República Popular Democrática de Coreia.

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