29.11.13

Não há dinheiro (3)

Os 25 mais ricos de Portugal são hoje donos de 10% do PIB, quando há um ano as suas fortunas não chegavam aos 8,5% do PIB.

Conclusão:
a crise é mesmo uma oportunidade!

O fosso entre ricos e pobres e o enriquecimento à custa da pobreza, não são um fenómeno novo nem português, claro. Os socialistas (propriamente ditos) de todo o mundo andam a denunciar isso há mais de um século...

Não é sequer inteiramente novo que a Igreja Católica denuncie as injustiças sociais em termos tão contundentes como acaba de fazê-lo o Papa Francisco. Na encíclica Populorum Progressio fala-se, por exemplo, no "escândalo de desproporções revoltantes, não só na posse dos bens mas ainda no exercício do poder".

O que pode ser novo  é o grau de exploração que se atingiu, avaliado pela desproporção a que se chegou entre os rendimentos.

A notícia de ontem, é exemplar: «a reforma complementar de 21 milhões de euros prevista no contrato do ainda presidente do grupo PSA (Peugeot-Citroën),  está a chocar a França e foi um dos temas abordados na reunião de hoje do conselho de ministros  francês». Em Portugal, notícias equivalentes são interpretadas como bons sinais do mérito dos nossos gestores, porventura objecto de condecorações.

É a crise, a crise moral - coisas de que não tratam os juristas e menos ainda os economistas.

12.11.13

Messidependência

Eu descia pacificamente La Rambla, na noite deste Domingo, dia 10, sem me dar conta de que muitos catalães estavam preocupados com outra coisa mais que a luta independentista da sua província.


Mas será que havia catalães a percorrer aquele extenso “passeio público” de Barcelona, lá onde o espaço amplo e o comércio apelativo, mas também a comodidade de descer até ao porto e desfrutá-lo, distraíam de qualquer preocupação? Percebi mais tarde que o cidadão local tinha a cabeça noutro sítio. Aqueles com quem me cruzava eram turistas, na sua esmagadora maioria, o que em Barcelona é óbvio.

Para perceber onde os naturais tinham a cabeça àquela hora, ouvi uma mulher gritar por 3 ou 4 vezes, num tom indignado: messidependencia, messidependencia, messidependencia… Depressa a mensagem se encontrou no meu cérebro com a imagem que havia captado em vários estabelecimentos por onde passava: a transmissão de um jogo de futebol, um facto tão habitual no meu país, que não mereceu a mínima atenção da minha parte.

O que eu não sabia era que nessa noite se disputava um jogo importante entre o clube local de futebol, o Barça, e o Bétis. E muito menos podia imaginar que a estrela do Futebol Clube de Barcelona tinha saído do jogo aos 22 minutos com uma lesão grave. Vá-se lá dizer que “quem corre por gosto não cansa”...



Alheio ao acontecimento dominante, saí pela Carrer de Colon, sem lesões, e desfrutei da “Plaça Reial de Barcelona” formada interiormente por quatro paredes de edifícios idênticos de arquitectura antiga. Em todos eles se apresentam arcadas preenchidas por esplanadas de restauração diversa, discretamente iluminadas, à noite, para acrescentar sossego à tranquilidade geral do ambiente.

Aqui não há música gravada ou ao vivo, nem futebol. Tomo um café enquanto Neymar, Pedrito e Fábregas fazem o seu trabalho pela equipa local, e Jorge Molina marca contra ela o seu golo de honra. Por noventa minutos deixou de ser grave a dependência do poder central; grave mesmo é agora uma lesão no bíceps femoral da perna esquerda de um jogador de futebol que o torna dependente, por sua vez, de um simples médico anónimo.

Este texto sofreu uma alteração na parte final, depois de publicado.

8.11.13

O que falhou

«O que me surpreende são os comentários, de pessoas responsáveis que conhecem a economia, de que este Governo é «incompetente», a «austeridade não está a resultar», as previsões «falharam». Nada falhou nesta política do ponto de vista de quem ganhou até agora. Ela é aliás muito bem sucedida – há mais milionários em Portugal e os milionários têm mais.

Falhou claro, até agora, a resistência. Não acredito que por muito mais tempo. Porque há limites objectivos à tolerância dos «de baixo» que quando derrubam os «de cima» deitam para o caixote de lixo da história o senso comum, o velho senso comum que diz que os portugueses são «brandos, não saem do sofá, são acomodados». Descobre-se então um outro senso: o bom senso de quem já não suporta o terrorismo laboral e a inércia e, às vezes, o bloqueio mesmo, daquilo que deveria ser a oposição.»



Isto é um excerto de um artigo de Raquel Varela em 5dias.net

5.11.13

Não há dinheiro (2)

(Na última semana de Outubro), a EDP apresentou lucros na ordem dos 800 milhões de euros. Curiosamente, nessa semana também, a EDP decidiu desencadear uma mega-operação de corte de electricidade a um sector de privilegiados que vive à grande e à francesa nos “luxuosos” bairros sociais de Lisboa e Porto.

E se aqui se usa de uma certa ironia, veja-se como, na idiossincrasia de João Miranda, se desenha uma vida faustosa das gentes de um desses bairros, no caso o do Lagarteiro, caracterizada por ele como gente que recebe – e coloca tudo ao molho para engrandecer ainda mais a coisa… – “uma data de pensões”. Aquilo é um fartote! É uma data de euros e de euros valentes! Aquilo é que é “mamar”!

João Miranda fala de “complemento solidário para idosos, subsídio social de desemprego, abono de família e pensão social de invalidez” como se estivesse a falar de mais-valias bolsistas, salários milionários de gestores, motoristas particulares, jactos privados, benesses e luxos que auferem e de que beneficiam certamente os Mexias desta louvada terra.

Texto de Ivo Rafael Silva, recortado em CINCO DIAS de 2013Nov02

E ainda... em comentários:

-”EDP pagou 3,1 milhões de euros em remunerações e prémios a António Mexia” .Só no ano de 2012. http://www.publico.pt/economia/noticia/edp-pagou-31-milhoes-de-euros-em-remuneracoes-e-premios-a-antonio-mexia-1590365
-”De acordo com o relatório da eléctrica, o montante global bruto das remunerações pagas aos membros dos órgãos de administração e fiscalização da EDP, no exercício de 2012, rondou os 18 milhões de euros.” http://sol.sapo.pt/inicio/Economia/Interior.aspx?content_id=72464

4.11.13

Qual crescimento?

Num contexto em que a população nacional vê os seus rendimentos violentamente reduzidos e o consumo interno diminui drasticamente, as empresas são obrigadas a desenvolver estratégias de exportação para sobreviverem.

É assim que a economia nacional recupera alguma coisa da recessão em que está mergulhada ou, melhor dizendo, abranda temporariamente a recessão. Não é por mérito das políticas dos governos, salvo no que toca à desvalorização do trabalho; é por um esforço de sobrevivência dos negócios.


Sobretudo, a relativa recuperação económica daquelas empresas que resistem à onda de falências, não se reflecte na vida dos cidadãos que continuam a ser agredidos com o aumento do custo de vida, o aumento de impostos, o confisco em salários e reformas, etc.

É a banca e as grandes empresas quem se apropria dos benefícios económicos. E, por via do abaixamento do imposto sobre os lucros (IRC), são os grandes empresários e os especuladores quem beneficia. E as famílias, claro, as famílias deles.

3.11.13

Administração danosa

Código Penal Português - Artigo 308º - Traição à pátria
Quem, por meio de violência, ameaça de violência, usurpação ou abuso de funções de soberania: a) Tentar separar da Mãe-Pátria, ou entregar a país estrangeiro ou submeter à soberania estrangeira, todo o território português ou parte dele; ou b) Ofender ou puser em perigo a independência do País; é punido com pena de prisão de 10 a 20 anos.

Código Penal - Artigo 235.º - Administração danosa
1 - Quem, infringindo intencionalmente normas de controlo ou regras económicas de uma gestão racional, provocar dano patrimonial importante em unidade económica do sector público ou cooperativo é punido com pena de prisão até cinco anos ou com pena de multa até 600 dias.

O blogue Mito & Realidade conta-lhe o resto. Demagogia? Nada que se compare ás declarações de Passos Coelho ou de Paulo Portas!

1.11.13

Défice de verdade

O défice de 4% previsto para 2014 não será cumprido, tal como aconteceu com os anteriores. É apenas um pretexto para impor mais austeridade e reconfigurar o Estado à medida dos interesses da banca e dos grandes grupos económicos.

Em poucas palavras, Paulo Sá diz tudo o que há a dizer sobre o Orçamento de Estado proposto por Passos Coelho.