28.2.15

O País está… diferente!

António Costa disse aos chineses que o país estava melhor do que em 2011. Mas falou em português, isto é, convencido de que os chineses não entendiam patavina do que ele falava.

Este parece-me ser o único argumento de que os activistas do PS não se lembraram para justificar aquelas declarações.


Mas também não me parece mal o argumento do “contexto”… Sobretudo ao visionar os dois excertos seguintes das suas declarações para o canal da internet dedicado à comunidade chinesa em Portugal, CCTV:




Está-se literalmente a ver que o António Costa estava a pensar em tudo menos em política.

Imagens recortadas de vídeo publicado no Observador.pt

26.2.15

Até Freitas

O que menos interessaria nas negociações do governo grego com o Eurogrupo, é saber quem “leva a bicicleta”. O resultado deste jogo está à vista: a Alemanha salva a sua face e a Grécia salva a sua tesouraria.

A narrativa corrente, segundo a qual “o governo grego teve que ceder em toda a linha”, obriga porém a uma resposta. E para quê invocar Marx, Lenine ou Rosa Luxemburgo, se Freitas do Amaral explica tudo e bem e em português?

A Alemanha recuou muito mais que a Grécia:
- o governo grego acabou com o tabu de que a política neoliberal da União Europeia não podia ser discutida ou modificada, e pôs toda a europa a discutir os méritos e deméritos dessa política;
- o governo grego conseguiu mais 5 milhões de euros de financiamento para a banca grega, como pretendia; 
- o governo grego “dobrou a Alemanha” que não queria qualquer acordo e foi obrigada a aceitar um acordo

As medidas propostas pelo governo grego foram aprovadas por todo o eurogrupo – é a reforma do Estado!
Vai haver disciplina orçamental, sim, mas a austeridade pura e dura morreu. Como morreu a troika – as discussões deixam de ser ao nível de funcionários e passam a fazer-se ao nível de ministros.

(2015-02-26 Freitas do Amaral em “Grande Entrevista / RTP Info.)

Na foto:
Margarida Marante modera debate com Freitas do Amaral, Pinto Balsemão, Mário Soares e Álvaro Cunhal

24.2.15

Grécia vista pelo KKE

Não é só a Alemanha e os seus 17 cordeiros que combatem o SYRISA. Do mesmo se encarregam os ultra-radicais de esquerda, entre “syrisistas” e comunistas do KKE.

Desta parte semeiam-se algumas dúvidas: «como é que o povo continuará a pagar o alto preço pela dívida que ele não criou; como é que a competitividade dos grupos de negócios será reforçada; como prosseguirão as "reformas" (as quais são objectivos do governo, ninguém está a impor-lhes); e quão prontamente o dinheiro será assegurado para a recuperação do capital?». Aqui fica alguma lenha de esquerda para alimentar a fogueira da direita política interna e externa.

E o PKK denuncia ainda o «novo programa, em acordo com os prestamistas e a garantia de que os compromissos para com os "predadores dos mercados" serão observados, o que significa que o povo pagará pelos empréstimos». Além de que «este governo honrará suas "obrigações" para com a NATO».

O que faria o KKE se fosse governo, é a grande questão… em que os gregos não estão interessados, a avaliar pelos resultados eleitorais de 25 de janeiro, em que o partido comunista teve 5,5% dos votos – comparável ao resultado dos Gregos Independentes (ANEL) com quem o SYRISA teve de coligar-se.

É que o KKE, “ao contrário do SYRISA” «luta pelo cancelamento unilateral da dívida, a saída da Grécia da União Europeia e da NATO e a socialização dos meios de produção básicos».

Se o KKE acreditasse em Lenine, reconheceria que vale a pena dar um passo atrás quando isso permite dar dois passos à frente.

22.2.15

Porque hoje é domingo (68)

Muito daquilo que está a acontecer com as negociações da Grécia, está previsto na passagem do Evangelho que a Igreja invoca neste domingo – S. Marcos, cap. 1.

«Eis que eu envio o meu anjo ante a tua face» é, sem dúvida, Alexis Tsipras, o primeiro-ministro grego, anunciando a ida de Varoufakis, ministro das finanças, à reunião do Eurogrupo para explicar-se ao colega alemão. E ao chamar ao enviado, uma “voz que proclama no deserto”, Jesus, digo Alexis sabia que esse deserto (de apoiantes) havia de revelar-se cada vez mais povoado.

É neste contexto que ocorre a confissão dos pecados de Jean-Claude Junker, presidente da Comissão Europeia. Essa confissão estava já prevista no texto bíblico quando se refere ao “arrependimento, para remissão dos pecados” (Marcos 1:4)

Na descrição bíblica, o mensageiro “andava vestido de pêlos de camelo, e com um cinto de couro em redor de seus lombos” (Marcos 1:6). É uma referência clara, em termos da época, ao casaco de motocar e ao cachecol tão comentado de Varoufakis.

“E ali esteve no deserto quarenta dias, tentado por Satanás. E vivia entre as feras…” (Marcos 1:13) é uma alusão às reuniões intermináveis com os adversários europeus que o tentaram demover das suas convicções e da sua missão.

“O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos, e crede no evangelho. (Marcos 1:15). Entenda-se o que há de metafórico, sabido que tudo é metafórico na Bíblia: “Deus” representa a verdade, a justiça, o bem; crer no “evangelho” é crer na mensagem do Syrisa.

E por aqui me fico, fazendo notar apenas a proximidade geográfica entre a Grécia e a Galileia onde ocorre o episódio narrado no Evangelho.

Na imagem, S. João Baptista em escultura de Rodin.

19.2.15

Austeridade feliz de Maria Luis

Foto copiada do jornaldigital.com de 4NOV2014, via Google.

Enquanto Maria Luis Albuquerque, numa conferência em Berlim, rejubila com o programa da troika que tem sacrificado o emprego, os salários e as reformas dos portugueses, além do mais, o presidente da Islândia, numa outra conferência atribui a recuperação económica do seu país à rejeição do “programa de austeridade”, nomeadamente proposto pela União Europeia!

A Islândia, implementando políticas próprias, recuperou o terreno perdido com o colapso de 2008, quando o desemprego era de 11,9%, estando agora com uma taxa de desemprego entre 3% e 4%, e o Governo prevê uma expansão do PIB, de 3,3%.

Sabemos que Portugal não é a Islândia. Mas também não é a Grécia. Logo, deixem que os gregos façam o seu caminho fora do lamaçal em que os programas de austeridade os enterraram com a ajuda dos governos anteriores.

17.2.15

O outro lado do mundo

Como se a Terra fosse plana e não esférica, nós, europeus, perdemos facilmente de vista o que se passa do outro lado do mundo. Há mesmo quem recorra a esta ilusão de optica para nos convencer que o mundo somos nós e o que vemos à nossa volta, apenas. 

Era assim que se imaginava o mundo, realmente, até os gregos – lá está! - nos revelarem que há mais Terra, mais territórios, mais nações, mais gente, mais economias, mais exércitos além da nossa linha de horizonte.

Com efeito, Pitágoras e Aristóteles – que não eram do SYRISA – já terão problematizado o consenso sobre a forma da Terra, e nem foram os primeiros gregos a levantar o problema. Curiosamente foi preciso esperar por um português para provar a tese, muitos séculos mais tarde, com a viagem de circum-navegação. Foi Fernão de Magalhães, em 1522. A História tem o seu tempo.

O que era a grande heresia até cinco séculos antes de Cristo, revelou ser a grande verdade! 

É isto que me lembra o argumento em que se apoiam os greco-cépticos quando invocam a posição dos 18 ministros das Finanças da zona do euro que se opõem à posição do governo grego (dando de barato que se trata de uma posição realmente unânime sobre o mesmo conteúdo).

Embora Varoufakis afirme que a Grécia não tem um plano “B” e que vai continuar no euro, eu julgo oportuno transcrever um excerto do discurso do ministro chinês, Wang Yi num encontro de três países – China, Rússia e Índia – estranhos à União Europeia e relativamente próximos da Grécia,  no princípio deste mês de Fevereiro:

"China, Rússia e Índia são grandes países, dos maiores do mundo; e somos, todos, economias de mercado emergentes. Todos temos compromisso com política independente para a paz, e com a via do desenvolvimento pacífico. Geramos sempre mais energia positiva para o resto do mundo, e trabalharemos sem descanço para tornar o mundo mais seguro e mais estável. Nossos três países unem-se para cooperação mais próxima, mutuamente benéfica, e para nosso desenvolvimento comum. A união beneficiará diretamente mais de 40% da população do planeta Terra".

E não será só em matéria de “desenvolvimento”, digo eu. Nem será só entre estes três países. O mundo é bem maior do que parece a alguns, apostados em isolar a Grécia.

10.2.15

Augusto Santos Silva desilude

O dirigente do PS acima mencionado, é um homem do Porto e é inteligente. Duas razões para que eu gostasse de ouvi-lo – razões subjectivas, eu sei. Mas quanto mais o ouço em “Política Mesmo” da TVI24, mais me desgosta.

Interpelado sobre a falta de esclarecimentos de António Costa quanto aos objectivos deste como candidato, Augusto Santos Silva contou que, a caminho da TVI , tinha visto um cartaz do PCP onde se lia “Por uma política patriótica e de esquerda”, o que, a seu ver, não significava nada!

Que uma política de esquerda não signifique nada para o dirigente do PS, já não me espanta, mas que nem sequer faça sentido para ele “política patriótica”, particularmente num tempo em que o país aliena tudo quanto é património e estrutura produtiva nacional, e em que o Governo actual é um submisso cordeiro da Alemanha, isso é um escândalo.

Que Augusto Santos Silva não tenha resposta para a questão colocada pelo jornalista, é uma coisa; que queira fazer de nós parvos é, no mínimo, uma desilusão.

Para a troca, aqui deixo um recorte de um folheto do PCP que encontrei "a caminho de casa", onde se resumem posições do Partido Comunista Português que a miopia de ASS o impede de ver:

NOTA para quem já foi Ministro da Educação e Ministro da Cultura e gosta de citar figuras clássicas:
Aristóteles caracterizava a demagogia como a corrupção da democracia. Toma e embrulha! - isto digo eu.

6.2.15

O PCP explica aos meninos

Se não viu no dia 21 do mês passado, talvez porque as televisões gostam mais de cassetes, aqui se lembra um dos muitos truques do Governo para nos convencer que "o país está melhor"...

2.2.15

António Costa no divã


Catherine Millot foi a última amante oficial de Jackes Lacan, prestigiado estudioso da psicanálise e promotor do regresso ao verdadeiro pensamento de Freud.

Catherine estava com Lacan no momento em que este morreu. Depois disso surgiu todo um mito que ela alimentou, obviamente, de que Lacan, exactamente antes de morrer, lhe teria revelado uma fórmula secreta, o máximo da sabedoria. Todos ficaram na expectativa de que ela dissesse que fórmula era essa. Até hoje!

Isto faz-me lembrar – ou será o contrário? – a pressão que o líder do PS está a receber de dentro e de fora do partido, para revelar o seu programa político com vista a um próximo e eventual governo do Partido Socialista.

Esta pressão não é recente. Lembro as interrogações de Alfredo Barroso em Julho passado: "que novas 'teorias' António Costa irá inventar, para se furtar ao debate da questão do Tratado Orçamental, da questão da renegociação e/ou reestruturação da dívida, da questão das privatizações e da questão da promiscuidade entre o PS e os negócios?"

Estamos (ainda) ao nível das conferências ou seminários lacanianos, das abordagens parciais, não das grandes revelação ansiadas pelos cidadãos e, menos ainda, do compromisso? Talvez António Costa esteja a protelar estrategicamente a grande revelação, até para evitar histerias jornalísticas, mas há quem receie que a morte política o surpreenda entretanto.

O certo é que o candidato a primeiro-ministro nem mesmo no divã se entrega completamente.