30.12.16

As metáforas de Passos Coelho


Creio que Passos Coelho se referia a António Costa, Jerónimo de Sousa e Catarina Martins quando profetizou a vinda dos três reis Magos em Janeiro. 

Se o disse como saudação ou como ameaça, é que não se percebeu. Mas o que consta da lenda religiosa é que Herodes se mostrou solidário com os Magos apenas como estratégia para liquidar o recém-nascido. Nada que possamos depreender do sorriso pretensamente irónico do Coelho.

De Herodes consta que assassinou a própria família. De Passos Coelho não consta coisa muito diferente, politicamente falando, claro. Enfim, quem metáforas atira…

28.12.16

Descubra as semelhanças

A lembrar as conversas de balneário de Donald Trump, o ministro Augusto Santos Silva foi surpreendido a manifestar semelhanças entre o Conselho de Concertação Social e uma feira de gado.

Como o ministro não especificou aquelas semelhanças, aqui ficam imagens das duas organizações para ajudar à respectiva identificação.


Resta-me acrescentar, em caso de dúvida, que a primeira foto é de uma reunião da Concertação Social e a segunda é de uma feira de gado ocorrida em Arcos de Valdevez e publicada no Blogue do Minho.

Mas junto ainda uma terceira foto que dá outra visão possível de uma feira de gado - vá-se lá saber se na cabeça do ministro estava a ideia de bagunça geral representada na foto anterior, ou a visão de submissão de um dos lados, como parece representar a imagem seguinte.

24.12.16

Os limites do humor

Concordo com aqueles que defendem que a liberdade de fazer humor obedece ou deve obedecer às mesmas regras que a liberdade de expressão em geral. O “nosso” Ricardo Araújo Pereira já exprimiu esta mesma opinião. 

Acrescentaria apenas  que aquilo que torna a crítica humorística mais tolerável é o facto de se assumir como expressão não rigorosa mas antes distorcida de uma ideia ou de uma forma, assumir-se não como verdade mas caricatura reconhecível como tal. 

  “Morra o Dantas, morra!” pronunciado por Almada Negreiros, não levou o autor do poema satírico para a cadeia em 1916 como não levaria em 2016, exactamente porque o poeta não está a incentivar à morte, está sim a usar formas de estilo literário que recorrem à ironia e ao sarcasmo, ao exagero e à metáfora, para aumentar o dramatismo literário de um texto.

A identidade do autor, o contexto da frase e o absurdo da ideia, ao contrário de sugerirem a prática de um crime, antes põem a ridículo a própria sentença. Este é o álibi do humor.


A imagem é um auto-retrato de Almada.

21.12.16

Natais há muitos…


Por inconfidência de Pedro Barahona de Lemos  fiquei a saber que o dia 25 de Dezembro celebra Mitra e não Jesus de Nazaré. Segundo os estudos em que se apoia o autor de Todos Somos Lázaro, esse tal Mitra que viveu muitos anos antes de Jesus, nasceu de uma virgem, morreu e foi sepultado numa gruta, tendo ressuscitado ao terceiro dia, etc., etc., etc..

Muitas “virgens” pariram antes de Maria, e também no dia 25 de Dezembro. Muito corpo de Deus em forma de pão foi repartido e comido, nomeadamente no Egipto; muitos presentes foram oferecidos a pretexto de outros natais que não vingaram porque lhes faltou o profissionalismo, o poder e a manha da Igreja Católica.

Mas ensina a técnica ficcional, que não se deve estragar uma boa história só porque a verdade é outra.

20.12.16

Efeitos da nova guerra-fria

Há quem diga que na guerra-fria entre os Estados Unidos e a Rússia..., ganhou a China. 
Na renovada guerra entre os mesmos, ganha o ISIS/DAESH,  ao que tudo indica. E desta vez a gravidade é outra.


17.12.16

O regresso aos desenhos rupestres

Os signos que usamos hoje nos aparelhos electrónicos, nomeadamente, são um retrocesso comunicacional que se pode medir em milhares de anos. Em vez das palavras, voltamos aos desenhos para exprimir ideias, identificar objectos e pessoas. Voltamos ao analfabetismo.

Existem pinturas rupestres feitas há 17 mil anos, nas cavernas de Altamira, na Espanha, e nas cavernas de Lascaux, na França, por exemplo, que estão ao mesmo nível de evolução. Já para não falar nas que se encontram aqui em Vila Nova de Foz Coa.

Era assim quando o homem não conhecia a expressão verbal, quando se desenhava uma roda para dizer "roda", um veado para dizer "veado" e... um avião para dizer "avião". 

Será que o próximo Acordo Ortográfico vai acabar com todas as palavras, em obediência à "evolução" do uso? Sim, já é tempo de aprender com as civilizações mais evoluídas, "tipo"  o homem do Cro-Magnon. 

11.12.16

Porque hoje é domingo (82)

Neste domingo, a Igreja Católica invoca um relato de Mateus (11,2-11) com alguns dados históricos credíveis: a prisão de João Batista e a sua cumplicidade com Jesus que, de resto, era seu familiar.
Estranho é que João mandasse perguntar a Jesus, como se não o conhecesse, se este era o enviado de Deus de que falava a Bíblia ou “se deviam esperar outro”. Esclarecedor é que Jesus aproveitasse a oportunidade para dizer do outro que, “de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista”.

O que consta nos evangelhos oficiais (canónicos), é que não só eram filhos de duas primas como ambos eram frutos de partos milagrosos – Maria era virgem e Isabel era estéril.


Milagre ou fantasia, mistério ou propaganda religiosa, o que mais importa é que o próprio texto em que a Igreja se baseia é um embuste: nem Mateus terá sido o verdadeiro autor dos textos que assina, nem testemunha dos acontecimentos – ele que não foi apóstolo de Jesus mas uma espécie de ficcionista empenhado na criminalização dos judeus da época - eles que combatiam a ocupação romana.

Nada que preocupe a Igreja Católica, como se ouvirá hoje por esse mundo fora onde a “palavra do senhor” (aliás de Mateus, aliás...) ira ecoar no discurso hipócrita dos sacerdotes – dos templos crstãos até aos “décors” de televisão.

9.12.16

Mitologia pseudo-comunista

Quem escreve o “discurso apócrifo” que se segue, não esconde nem se arrepende de ter sido militante do Partido Comunista Português desde 1974 até à “eleição” de Jerónimo de Sousa. Assume as suas críticas aqui como assumiu no interior do Partido, e se fala hoje de fora para dentro do PCP é porque se mostrou definitivamente ocioso falar lá dentro, como adiante se verá.

Em todo o caso, agora como antes, não se trata de um distanciamento político, no sentido estrito, mas de uma profunda discordância com o funcionamento interno do qual os congressos são o embuste mais relevante. 


Lembro.me de um Congresso para o qual fiz uma proposta no sentido de diminuir o peso dos funcionários na composição dos orgãos dirigentes. Por força do "centralismo democrático", tal proposta como todas as outras, não foi do conhecimento senão da direcção central que é composta por... funcionários! O que veio inscrito na "resolução final" do Congresso foi um panegírico texto laudatório do papel dos funcionários do PCP. (1)

Hoje cá fora, como antes lá dentro, a minha posição é a mesma: de crítica e combate contra todas as formas de injustiça social e, nomeadamente, contra todo o autoritarismo, seja ele estúpido ou esclarecido, assumido ou disfarçado.

Serve-me de esqueleto o discurso de encerramento do XX Congresso do PCP, no passado dia 5 de Dezembro, lido pelo Secretário-Geral.


DISCURSO APÓCRIFO
DE ENCERRAMENTO DO XX CONGRESSO DO PCP

Camaradas e amigos
Estimados convidados
Desprezíveis “folhas secas” (2)

Podemos afirmar que alcançámos com êxito os objectivos a que nos propunhamos.

Desde logo, pelo grau de envolvimento e participação de delegados a quem foi servida a ementa por nós elaborada para este banquete de palavras. A sua presença e concordância permanentes com as teses que a direcção do Partido lhes impôs, justificaram o mandato que lhes foi atribuído... pelos dirigentes partidários, funcionários diligentes e remunerados. 


Ninguém vos obrigou. Foi um acto de liberdade e responsabilidade de homens e mulheres genuinamente preocupados, em geral, com a sorte dos mais desfavorecidos, mas a quem não se apresenta nenhuma questão que não seja de aceitação geral, e muito menos se dão a conhecer as divergências internas, para o que praticamos o método do centralismo-democrático tal como o entendemos: ninguém pode saber o que pensam os militantes das outras organizações!

O que importa é que se batem nos seus locais e empresas por uma vida melhor para os trabalhadores e o povo português. No resto confiam nos seus grandes-líderes, o que está bem e nem podia estar melhor. 


Camaradas e amigos
Estimados convidados
Desprezíveis “folhas secas” 

O Congresso confirmou e reafirmou a nossa identidade como partido dos dirigentes da classe operária e de todos os trabalhadores, independentemente da seriedade do nosso funcionamento interno e da credibilidade popular do nosso ideal de sociedade. 


O Congresso confirmou e reafirmou os objectivos supremos, a construção do socialismo e do comunismo, seja o que isso for, de uma sociedade liberta da exploração e opressão capitalistas, confiante nos méritos da ditadura boa. 


Confirmou e reafirmou a sua base teórica, segundo a interpretação da Comissão Política, os seus princípios de funcionamento baseados no centralismo antidemocrático por definição, assentes numa profunda mistificação interna, numa única orientação geral e numa única direcção central.

A concretização do fascinante projecto e objectivo por que lutamos, esse sonho milenar do ser humano de se libertar da exploração por outro homem, o projecto e ideal que nos trouxe a este Partido, possivelmente só será materializado para além das nossas vidas. Ou mesmo nunca, mas nós já cá não estaremos para prestar contas da nossa incompetência.

Viva o XX Congresso! Vivam os congressos todos.
O que a gente quer é festa. Música, Maestro!



(1) Mais de 90% dos membros do Comité Central do PCP, “eleitos” no Congresso, são empregados do Partido ("funcionários"). Isto é, a sua discordância ou menor colaboração com as directrizes centrais põe em causa o seu emprego. 
(2) “Folhas secas” é como Jerónimo de Sousa, citando Álvaro Cunhal, chama aos ex-militantes do PCP, muitos deles bem mais corajosos, dedicados e sacrificados pelo partido do que o indigitado Secretário-Geral. 

Nota complementar

Sim, os congressos do PCP como do PC de Cuba, por exemplo, são preparados com muita antecedência e muito participados. Mas isso que devia servir para o aparecimento e valorização de ideias novas, serve sim, por força do controlismo e do centralismo, para filtrar posições divergentes  - as ideias novas morrem onde nasceram e os textos a aprovar são previamente aprovados por aquele orgão de poder partidário - o grande líder esclarecido.

8.12.16

Mal por mal prefiro o Pai Natal

A prova de que este Governo é muito imperfeito é que inscreve nos feriados oficiais o 8 de Dezembro enquanto dia da Imaculada Conceição.

Comete dois “pecados” o Governo. O primeiro é porque acolhe na ordem política uma matéria que é de ordem estritamente religiosa – não é o mesmo que o Natal, porque este ganhou o estatuto autónomo e laico de festa da família.

O segundo pecado é porque esta data celebra um dos maiores embustes da Igreja Católica: a virgindade da mãe de Jesus.

De Gabriel, o “mensageiro do Espírito Santo”, já falei no artigo anterior. Adianto apenas que há quem defenda que a palavra “anjo” não deve ser tomada à letra, o que não quer dizer necessariamente que tenha sido ele próprio a engravidar a jovem Maria e a sua prima Isabel. Adiante.

O que é irresistível trazer à reflexão é que “nascer de uma virgem fecundada por um Deus ou por um seu emissário foi um mito bastante difundido em todo o mundo anterior a Jesus” nomeadamente na China, no Japão, no México… (*)

António Costa pode “acreditar” que algumas vacas voam e que algumas virgens engravidam, mas o que não deve é inscrever essa fé no calendário civil. Outra coisa é que os vencimentos auferidos quando se retiram feriados, sejam ajustados na proporção do correspondente aumento de tempo de trabalho anual. Questão quase teórica, é certo, dados os valores em causa, mas bem mais razoável do que submeter-se um governo republicano a falsas leis divinas. Mal por mal, prefiro a história do Pai Natal.


(*) Pedro Barahona de Lemos em “Todos Somos Lázaro”, cap. 2, onde invocam outros nascimentos iguais ocorridos muitas centenas de anos antes de Jesus.

4.12.16

Porque hoje é domingo 81

Era um tempo em que havia mais profetas do que hoje há comentadores políticos ou políticos comentadores e, tal como estes, dedicavam-se a prever o futuro e anunciar desgraças.

Entre eles aparece um tal João Batista de que fala a homilia deste domingo. Lê-se (Mat. 3, 1-12) que ele avisou da chegada do “reino dos céus” e daquele que viria depois dele, referindo-se a Jesus ao que tudo indica.

Duvido que o profeta João Batista tivesse profetizado a sua própria desgraça, ele que seria preso por delito de opinião e extremismo revolucionário, “arrastando multidões” atrás de si.


Mais duvidam alguns historiadores que tenha sido decapitado por capricho duma gaja da corte de Herodes. O certo é que há registo “fotográfico” e a cores, destes horrores à maneira jihadista.

Quanto à mensagem do falecido, ainda em vida - se era vida andar pelo deserto vestido com pelos de camelo e “alimentando-se de gafanhotos e mel silvestre” - o que ele anunciava era o que nós sabemos que “vai acontecer” daqui a menos de um mês: o nascimento de Jesus!

Não foi grande proeza ter ele profetizado "a vinda" de Jesus, uma vez que eram primos com apenas seis meses de diferença. Pela mesma razão podemos nós “profetizar” que toda a história à volta do “enviado de Deus” é um conluio familiar em que participam os dois protagonistas anteriores e as suas mães, Maria e Isabel, sem esquecermos um tal Gabriel a que chamaram anjo mas que tudo indica estar demasiado relacionado com o emprenhamento destas duas irmãs.

E por aqui me fico antes que uma Salomé qualquer peça a minha cabeça.

3.12.16

Maldita lucidez

O PCP fecha os olhos à natureza autoritária de regimes pró-comunistas com a mesma tolerância e esperteza com que a Igreja fecha os olhos ao fariseismo dos seus sacerdotes. Não há outra forma de sobreviverem como instituições, de tal modo alguns elementos da sua história e a sua doutrina, cumplicidades e contradições, estorvam a sua imagem sagrada.

Mas o que é desarmante para quem quer ou precisa de seriedade nos processos e nos argumentos, é que isto funciona e, em boa medida, funciona bem. Vejam-se as multidões devotas de Nossa Senhora e de Fidel Castro. Acerca deste, lê-se no editorial do último Avante, que teve “uma vida inteiramente consagrada aos ideais da liberdade”…

Enfim, para quem precisa de um mundo racional para viver, este não é o mais adequado. Por isso recomendo: Pensadores de todo o mundo, matem-se!