15.5.17

Irracionais graças a Deus

“A música não é fogo de artifício”, disse Salvador Sobral. Tomadas à letra, estas palavras soam… artificiais. Mas nós não somos computadores e, portanto, percebemos a intenção da metáfora apesar de sabermos que a música também é fogo de artifício – desde logo o hino oficial da União Europeia, o chamado Hino à Alegria, da Nona Sinfonia de Beethoven.

A música, como todas as artes e artifícios, é expressão da natureza irracional do ser humano – é sentimento como disse Salvador. Se lhe juntarmos outras dimensões como a religião e o futebol, por exemplo, percebemos como somos irracionais e como isso é necessário à nossa felicidade.

Ainda bem que há um refúgio para o desespero. Se for a religião, que seja. Ainda bem que há espaço para a euforia. Se for um campo de futebol, que seja. Ainda bem que não somos robots, se isso é o domínio das artes, tanto melhor. Ser humano é ser frágil, irracional e sentimental.

No dia 13 de Maio de 2017 os portugueses testemunharam esta experiência, esta santíssima trindade, de uma só vez. Tantas emoções positivas num só dia mais parecem milagre. Se “uma desgraça nunca vem só”, uma graça também não, ao que parece. Ocorreu em Fátima, na Luz e em Kiev – foi no televisor de lá de casa. Uma enorme multidão celebrou o centenário das “aparições”, uma grande multidão celebrou “o tetra” do Benfica, uma multidão celebrou a vitória de Portugal no Festival da Eurovisão. Para os portugueses emigrados em França, a imponente tomada de posse de Macron apagou-se nas sombras dos Campos Elíseos.

Seria injusto não assinalar neste contexto, o sofrimento de todos aqueles que são derrotados num concurso, num campeonato, numa celebração sectária, mas deixemos isso para um dia em que estejamos tristes e então solidários com todos os vencidos.

Foto RTP recolhida no Google

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