3.1.07

Não matarás !


Aquilo a que o mundo assistiu pela televisão, entre o Natal de 2006 e a passagem de ano, à mistura com mensagens de paz e amor e fogo de artifício, o enforcamento de um político - um dos muitos criminosos políticos conhecidos - foi chocante para o conceito que os humanos têem de si próprios.

Mais do que erro político, inoportunidade ou precipitação, para além das circunstancias deploráveis e de um falso justicialismo, foi a brutalidade, a barbárie do "país-modelo" do Ocidente, a hipocrisia cruel dos que se proclamam cristãos. Sim, porque não é por Bush fingir que dormia ou por ter lavado as mãos nas "autoridades" iraquianas, que "o diabo" americano deixa de ser o supremo responsável pelos acontecimentos.

O próprio Papa se perdeu em apreciações ambíguas e políticas, esquecendo a única coisa que lhe competia dizer, invocando a palavra do seu Deus: “Não matarás!”.

Junta-se a autoria-delegada à cumplicidade-disfarçada e o que resulta é o deplorável espectáculo do poder que governa o mundo.
E o patético apoio dos lacaios.

A PROPÓSITO:

Durante o ano de 2006, os EUA executaram 53 prisioneiros. O número de sentenças de morte em 2006 foi de 114, o menor em 30 anos e muito abaixo das quase 300 condenações à morte anuais, na década de 1990.
De: http://penademorte.enaoso.net


PORTUGAL:

Portugal foi pioneiro na abolição da pena de morte e na renúncia à sua execução mesmo antes de abolida.

A última execução de pena de morte por motivo de delitos civis ocorreu em Lagos, em Abril de 1846. No que se refere a crimes militares, a última execução terá ocorrido em França, na pessoa de um soldado do Corpo Expedicionário Português, condenado por espionagem.

No colóquio internacional comemorativo do centenário da abolição da pena de morte, realizado em Coimbra, em 1967, Miguel Torga e Vergílio Ferreira falaram assim:

Miguel Torga:

"A tragédia do homem, cadáver adiado, como lhe chamou Fernando Pessoa, não necessita dum remate extemporâneo no palco. É tensa bastante para dispensar um fim artificial, gizado por magarefes, megalómanos, potentados, racismos e ortodoxias. Por isso, humanos que somos, exijamos de forma inequívoca que seja dado a todos os povos um código de humanidade. Um código que garanta a cada cidadão o direito de morrer a sua própria morte".

Vergílio Ferreira:

"...E acaso o criminoso não poderá ascender à maioridade que não tem? Suprimi-lo é suprimir a possibilidade de que o absoluto conscientemente se instale nele. Suprimi-lo é suprimir o Universo que aí pode instaurar-se, porque se o nosso "eu" fecha um cerco a tudo o que existe, a nossa morte é efectivamente, depois de mortos, a morte do universo".

Recortado de: http://www.pgr.pt/portugues/grupo_soltas/efemerides/morte/indice.htm