24.12.13

Desejos para 2014

Yoani Sanchez, famosa blogueira cubana e contestatária do regime, lançou uma pergunta vulgar no seu espaço twitter: o que deseja para o ano de 2014?

Das respostas que recebeu, destaco esta de Yusimi:
Deixar de trabalhar para qualquer xulo; trabalhar para mim mesma!”.

Mas também esta de Ailyn Castillo: “… um país a que possa regressar, não para visitá-lo por um mês, mas onde possa construir uma vida”.

E eu pergunto quantos portugueses não diriam o mesmo.


21.12.13

Não há dinheiro (4)



Texto recortado em 5dias.net - Premir para ampliar.

16.12.13

O Chile escolheu

Quando penso no Chile, lembro-me de Salvador Allende e Pablo Neruda, Victor Jara e Violeta Parra. Mas qualquer coisa me diz que, salvaguardada a devida distância, o nome de Michelle Bachelet vai passar a ocupar também algum espaço no meu pensamento. Afinal, se as pessoas fazem a História, a História também faz as pessoas, e a América Latina está a escrever páginas novas.

Saído de uma violenta ditadura que vigorou desde o golpe de Estado de Pinochet que assassinou o presidente Allende em 1973, até às eleições de 1989, o Chile veio a eleger Michelle Bachelet, na primeira vez, em Janeiro de 2006, derrotando nessa altura Sebastian Piñera. Mas o conservador e ultra milionário Piñera ganharia as eleições de 2010, governando o Chile até hoje de acordo com a sua ideologia.
Michelle e Piñera

Michelle acaba este domingo de vencer novamente as eleições presidenciais no Chile, apoiada por uma aliança formada pelos socialistas, os democratas-cristãos e os comunistas, isto numa época em que a corrente progressista vem crescendo na América Latina. E não é por ser considerada uma socialista moderada, que as circunstâncias do mundo actual, entre a ofensiva ultraliberal e a resistência progressista lhe dispensarão gestos audaciosos. Para quem sofreu a prisão e a tortura às ordens de Pinochet, tal como aconteceu com o seu pai, não é esperar demais.

Michelle Bachelet tem a seu favor um resultado eleitoral de 62,16% contra os 37,83 % de Evelyn Matthei. Mas tem sobretudo a aspiração do seu povo a uma política “mais justa, mais solidária e mais humana” – para usar as suas palavras no discurso de agradecimento.

Se a abstenção de cerca de 53% é de facto muito relevante, não parece que ela possa contar a favor ou contra as candidaturas em presença – é objecto de outra análise.

Três grandes objectivos foram afirmados na sua candidatura e confirmados no discurso de vitória: reforma tributária, reforma da Constituição e reforma do Ensino. Isto é: uma política de impostos que ajude a diminuir a desigualdade entre ricos e pobres; alteração da actual Constituição do Chile que foi aprovada num plebiscito nacional altamente irregular em 1980, sob o governo militar de Augusto Pinochet (embora já tenha sofrido algumas emendas), e alargamento do ensino gratuito às universidades no prazo de 6 anos.


Para cumprir o seu programa, Michelle Bachelet conta na coligação que a apoia, com a maioria de 55% que possui nas duas Casas do Parlamento – a Câmara de Deputados e o Senado. Mas aquela aliança não dá a maioria de dois terços necessária para a revisão da Constituição – para isto terá de contar com os conservadores.

No domínio social – “en la calle” - terá de contar com uma população desenganada, desiludida, descrente na política (uma das causas da abstenção). Terá ainda de contar com a herança e a oposição das forças que antes apoiavam Sebastian Piñera. Terá que se apoiar no Povo, enfim, e numa política de alianças internacionais próxima do Brasil, da Argentina, da Venezuela, do Equador…
Da esquerda: Evo Morales, José Mujica, Dilma Rousseff, Cristina Kirchner, Rafael Correa.

12.12.13

"Estratégia de crescimento"



NOTÍCIA (Lusa/RTP)

A diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, admitiu (10/Dezº) que a instituição errou quanto aos efeitos da austeridade nos países europeus em maiores dificuldades.
Mas também disse:
"Não pode haver abrandamento e não é com 1% de crescimento (esperado para o próximo ano) na zona euro que devemos abrandar o ritmo das reformas", assinalou.

10.12.13

Socialismo é possível

Apesar da sabotagem electrica, alimentar e económica, e da desestabilização em geral, a oposição de direita ao governo chavista de Nicolas Maduro não tem conseguido vencê-lo.

Os resultados eleitorais de domingo passado deixaram a MUD* de Capriles atrás do PSUV* de Maduro com 9% de diferença, se considerarmos a soma nacional dos votos. Vitória do governo progressista e bolivariano, portanto, se quisermos extrair uma leitura nacional destas eleições regionais como pretendeu fazer o MUD durante a campanha eleitoral.

Os resultados municipais propriamente ditos só confirmam esta leitura: 234 municípios para o PSUV e 53 para a MUD, isto é, 76% contra 20%.


Estas eleições confirmaram a popularidade das políticas chavistas, isto é, soberanistas e populares, patrióticas e revolucionárias, bolivarianas e socialistas.

É, sem dúvida, uma inspiração para a região sul-americana mas também para os povos que noutros continentes necessitam resistir contra os poderes económicos e financeiros que bloqueiam o seu progresso e bem-estar da população.

É a demonstração de que há formas socialistas de governar que colhem apoio popular num quadro democrático, apesar da forte hostilidade dos poderes económicos e dos interesses estrangeiros.


*PSUV - Partido Socialista Unido de Venezuela;
MUD - Mesa de la Unidad Democrática.
Na foto: Hugo Chavez, Nicolas Maduro... e a Constituição.

7.12.13

Resposta aos Cavacos

É tarde; Inês é morta!
(Excerto de uma peça sobre Inês de Castro)

Mas ainda está a tempo de combater o apartheid
que oprime largas camadas de portugueses...


6.12.13

Hipocrisias fúnebres

«Por decisão e orientação de um governo de Cavaco Silva, Portugal votou na ONU contra uma moção que reclamava a libertação de Nelson Mandela».

Excerto de um post de Vitor Dias em
"O Tempo das Cerejas".

Mandela foi condenado a prisão perpétua porque fazia parte da oposição ao regime do apartheid, que negava direitos políticos, sociais e económicos aos negros, mestiços e indianos. Isto fazia dele... um terrorista, no juízo de alguns!

4.12.13

Eu avisei

( texto rectificado )

A foto acima documenta a forma como alguns trabalhadores da "Radiotelevision Valenciana" (RTVV) reagiram contra o presidente da "Generalidad Valenciana" (representante ordinario do Estado Espanhol na "Comunidad Valenciana"), na sequência do encerramento daquela estação pública.

Isto fez-me lembrar a maior greve que ocorreu na RTP, creio que em 1980.

Lá onde os jornalistas fazem sempre a sua "luta" à parte, beneficiando da sua influência política, até estes aderiram. A emissão manteve-se no ar - com alterações - apenas porque meia dúzia de pessoas são o suficiente para fazê-lo durante poucos dias com materiais gravados, e alguns quadros de chefia não se importaram de sujar temporariamente as mãos nas máquinas...

Era presidente da administração, Proença de Carvalho que, ao sair de carro pela garagem, foi surpreendido por um grupo de trabalhadores que o aplaudia. Fez parar a viatura e saiu para agradecer. Foi então vaiado com uma assobiadela geral e recolheu imediatamente à viatura que logo se afastou. Quem não sabia assobiar, como eu, gritou... qualquer coisa.

Tudo acabou assim, sem um murro no carro, uma riscadela, um vidro partido - assobios apenas. À portuguesa! - dir-se-há. Mas devemos reconhecer que a gravidade não é a mesma.

Talvez seja o nível de gravidade das acções, acima de tudo, que provoca o grau das reacções. Pelo menos na Física é assim. Talvez haja mesmo alguém encarregado de medir a resistência "da corda" a cada momento. Creio que sim. Até que rebente, só podemos dizer que ela está tensa. Depois, todos dirão: eu avisei!...

1.12.13

Honduras e as nossas ondas

A República de Honduras foi a votos há uma semana, dia 21 de Novembro, para a presidência e orgãos locais. Depois do golpe de estado da direita hondurenha que depôs e deportou o presidente legítimo Manuel Zelaya em 2009, foi criado um novo partido, há menos de dois anos, que apresentou agora como candidata à presidência, a mulher de Manuel Zelaya, Xiomara Castro.

Trata-se do Partido Liberdade e Refundação, geralmente designado por “Livre”. Qualquer coincidência com o partido que Rui Tavares quer criar, além do nome e do posicionamento à esquerda, talvez seja mera coincidência. Até porque, se “não vem mal nenhum ao mundo” no caso deste não eleger ninguém, como diz o próprio fundador, já no caso das Honduras, a questão é completamente diferente: os partidários do casal Zelaya reivindicam a vitória depois da comissão eleitoral a ter atribuído ao Partido Nacional.

O “Partido Nacional”, de direita e que tem governado o país depois de ter promovido o golpe contra Zelaya, concorreu à presidência com Juan Orlando Hernandez de quem vale a pena citar esta afirmação ainda em jeito de comparação com a política portuguesa: 'Eu garanto a você que o que é de um lado uma crise, pode ser visto pelo outro lado como uma grande janela de oportunidade'.

A questão é que o partido “Libre” denuncia fraudes e irregularidades graves no processo eleitoral, sem as quais considera que Xiomara teria maior resultado do que Juan Orlando.

No país mais violento do mundo, onde a criminalidade tem subido a níveis assustadores e, com ela, tanto cresce o mêdo como a pobreza – nas Américas, só o Haiti apresenta uma taxa de pobreza maior que Honduras – as perspectivas de paz, desenvolvimento e justiça social, são desanimadoras. Se a segurança e o desemprego eram as preocupações mais invocadas pelos seus cidadãos, na oportunidade destas eleições, nada parece melhorar com a situação criada. Outro tanto se diria em relação às dívidas externa e interna – sem pretender voltar às comparações.

Depois de cem anos de bipartidismo de direita, parece que a população tentou organizar-se para responder à ausência do Estado. A estas eleições já se apresentaram nove partidos, e a grande participação da juventude trazia um sinal de esperança para o futuro. Faltava saber, como alguém comentava, se aqueles que fizeram um golpe de estado iriam permitir agora eleições democráticas. E se os Estados Unidos da América que aproveitaram a situação para instalar duas bases militares neste país, depois de 2009, não jogarão na confusão política e na extrema dependência das Honduras em relação à América do Norte, de forma determinante.

Como em toda a América Latina, o que se joga nas Honduras é a correlação de forças entre uma esquerda independentista e uma direita capitulacionista, entre o modelo estorpecedor do passado e o projecto progressista de futuro. Com o Brasil e a Venezuela, o Equador, a Argentina e outros, as Honduras podem almejar mais do que nunca instalar as bases da independência e do progresso; de contrário, as perspectivas estão à vista nestes quatro anos de usurpação.

29.11.13

Não há dinheiro (3)

Os 25 mais ricos de Portugal são hoje donos de 10% do PIB, quando há um ano as suas fortunas não chegavam aos 8,5% do PIB.

Conclusão:
a crise é mesmo uma oportunidade!

O fosso entre ricos e pobres e o enriquecimento à custa da pobreza, não são um fenómeno novo nem português, claro. Os socialistas (propriamente ditos) de todo o mundo andam a denunciar isso há mais de um século...

Não é sequer inteiramente novo que a Igreja Católica denuncie as injustiças sociais em termos tão contundentes como acaba de fazê-lo o Papa Francisco. Na encíclica Populorum Progressio fala-se, por exemplo, no "escândalo de desproporções revoltantes, não só na posse dos bens mas ainda no exercício do poder".

O que pode ser novo  é o grau de exploração que se atingiu, avaliado pela desproporção a que se chegou entre os rendimentos.

A notícia de ontem, é exemplar: «a reforma complementar de 21 milhões de euros prevista no contrato do ainda presidente do grupo PSA (Peugeot-Citroën),  está a chocar a França e foi um dos temas abordados na reunião de hoje do conselho de ministros  francês». Em Portugal, notícias equivalentes são interpretadas como bons sinais do mérito dos nossos gestores, porventura objecto de condecorações.

É a crise, a crise moral - coisas de que não tratam os juristas e menos ainda os economistas.

12.11.13

Messidependência

Eu descia pacificamente La Rambla, na noite deste Domingo, dia 10, sem me dar conta de que muitos catalães estavam preocupados com outra coisa mais que a luta independentista da sua província.


Mas será que havia catalães a percorrer aquele extenso “passeio público” de Barcelona, lá onde o espaço amplo e o comércio apelativo, mas também a comodidade de descer até ao porto e desfrutá-lo, distraíam de qualquer preocupação? Percebi mais tarde que o cidadão local tinha a cabeça noutro sítio. Aqueles com quem me cruzava eram turistas, na sua esmagadora maioria, o que em Barcelona é óbvio.

Para perceber onde os naturais tinham a cabeça àquela hora, ouvi uma mulher gritar por 3 ou 4 vezes, num tom indignado: messidependencia, messidependencia, messidependencia… Depressa a mensagem se encontrou no meu cérebro com a imagem que havia captado em vários estabelecimentos por onde passava: a transmissão de um jogo de futebol, um facto tão habitual no meu país, que não mereceu a mínima atenção da minha parte.

O que eu não sabia era que nessa noite se disputava um jogo importante entre o clube local de futebol, o Barça, e o Bétis. E muito menos podia imaginar que a estrela do Futebol Clube de Barcelona tinha saído do jogo aos 22 minutos com uma lesão grave. Vá-se lá dizer que “quem corre por gosto não cansa”...



Alheio ao acontecimento dominante, saí pela Carrer de Colon, sem lesões, e desfrutei da “Plaça Reial de Barcelona” formada interiormente por quatro paredes de edifícios idênticos de arquitectura antiga. Em todos eles se apresentam arcadas preenchidas por esplanadas de restauração diversa, discretamente iluminadas, à noite, para acrescentar sossego à tranquilidade geral do ambiente.

Aqui não há música gravada ou ao vivo, nem futebol. Tomo um café enquanto Neymar, Pedrito e Fábregas fazem o seu trabalho pela equipa local, e Jorge Molina marca contra ela o seu golo de honra. Por noventa minutos deixou de ser grave a dependência do poder central; grave mesmo é agora uma lesão no bíceps femoral da perna esquerda de um jogador de futebol que o torna dependente, por sua vez, de um simples médico anónimo.

Este texto sofreu uma alteração na parte final, depois de publicado.

8.11.13

O que falhou

«O que me surpreende são os comentários, de pessoas responsáveis que conhecem a economia, de que este Governo é «incompetente», a «austeridade não está a resultar», as previsões «falharam». Nada falhou nesta política do ponto de vista de quem ganhou até agora. Ela é aliás muito bem sucedida – há mais milionários em Portugal e os milionários têm mais.

Falhou claro, até agora, a resistência. Não acredito que por muito mais tempo. Porque há limites objectivos à tolerância dos «de baixo» que quando derrubam os «de cima» deitam para o caixote de lixo da história o senso comum, o velho senso comum que diz que os portugueses são «brandos, não saem do sofá, são acomodados». Descobre-se então um outro senso: o bom senso de quem já não suporta o terrorismo laboral e a inércia e, às vezes, o bloqueio mesmo, daquilo que deveria ser a oposição.»



Isto é um excerto de um artigo de Raquel Varela em 5dias.net

5.11.13

Não há dinheiro (2)

(Na última semana de Outubro), a EDP apresentou lucros na ordem dos 800 milhões de euros. Curiosamente, nessa semana também, a EDP decidiu desencadear uma mega-operação de corte de electricidade a um sector de privilegiados que vive à grande e à francesa nos “luxuosos” bairros sociais de Lisboa e Porto.

E se aqui se usa de uma certa ironia, veja-se como, na idiossincrasia de João Miranda, se desenha uma vida faustosa das gentes de um desses bairros, no caso o do Lagarteiro, caracterizada por ele como gente que recebe – e coloca tudo ao molho para engrandecer ainda mais a coisa… – “uma data de pensões”. Aquilo é um fartote! É uma data de euros e de euros valentes! Aquilo é que é “mamar”!

João Miranda fala de “complemento solidário para idosos, subsídio social de desemprego, abono de família e pensão social de invalidez” como se estivesse a falar de mais-valias bolsistas, salários milionários de gestores, motoristas particulares, jactos privados, benesses e luxos que auferem e de que beneficiam certamente os Mexias desta louvada terra.

Texto de Ivo Rafael Silva, recortado em CINCO DIAS de 2013Nov02

E ainda... em comentários:

-”EDP pagou 3,1 milhões de euros em remunerações e prémios a António Mexia” .Só no ano de 2012. http://www.publico.pt/economia/noticia/edp-pagou-31-milhoes-de-euros-em-remuneracoes-e-premios-a-antonio-mexia-1590365
-”De acordo com o relatório da eléctrica, o montante global bruto das remunerações pagas aos membros dos órgãos de administração e fiscalização da EDP, no exercício de 2012, rondou os 18 milhões de euros.” http://sol.sapo.pt/inicio/Economia/Interior.aspx?content_id=72464

4.11.13

Qual crescimento?

Num contexto em que a população nacional vê os seus rendimentos violentamente reduzidos e o consumo interno diminui drasticamente, as empresas são obrigadas a desenvolver estratégias de exportação para sobreviverem.

É assim que a economia nacional recupera alguma coisa da recessão em que está mergulhada ou, melhor dizendo, abranda temporariamente a recessão. Não é por mérito das políticas dos governos, salvo no que toca à desvalorização do trabalho; é por um esforço de sobrevivência dos negócios.


Sobretudo, a relativa recuperação económica daquelas empresas que resistem à onda de falências, não se reflecte na vida dos cidadãos que continuam a ser agredidos com o aumento do custo de vida, o aumento de impostos, o confisco em salários e reformas, etc.

É a banca e as grandes empresas quem se apropria dos benefícios económicos. E, por via do abaixamento do imposto sobre os lucros (IRC), são os grandes empresários e os especuladores quem beneficia. E as famílias, claro, as famílias deles.

3.11.13

Administração danosa

Código Penal Português - Artigo 308º - Traição à pátria
Quem, por meio de violência, ameaça de violência, usurpação ou abuso de funções de soberania: a) Tentar separar da Mãe-Pátria, ou entregar a país estrangeiro ou submeter à soberania estrangeira, todo o território português ou parte dele; ou b) Ofender ou puser em perigo a independência do País; é punido com pena de prisão de 10 a 20 anos.

Código Penal - Artigo 235.º - Administração danosa
1 - Quem, infringindo intencionalmente normas de controlo ou regras económicas de uma gestão racional, provocar dano patrimonial importante em unidade económica do sector público ou cooperativo é punido com pena de prisão até cinco anos ou com pena de multa até 600 dias.

O blogue Mito & Realidade conta-lhe o resto. Demagogia? Nada que se compare ás declarações de Passos Coelho ou de Paulo Portas!

1.11.13

Défice de verdade

O défice de 4% previsto para 2014 não será cumprido, tal como aconteceu com os anteriores. É apenas um pretexto para impor mais austeridade e reconfigurar o Estado à medida dos interesses da banca e dos grandes grupos económicos.

Em poucas palavras, Paulo Sá diz tudo o que há a dizer sobre o Orçamento de Estado proposto por Passos Coelho.

31.10.13

Teatro no Porto

Enquanto Paulo Portas apresenta o seu guião
e Passos Coelho apresenta o seu orçamento, 
os Palmilha Dentada,
eleitos pelo público mais exigente do Porto,
apresentam...

(carregue na foto para ampliar)

27.10.13

Não há dinheiro

Rendeiro, Guichard e Fezas Vital (…) na sua qualidade de administradores do BPP, atribuíram-se a si próprios, "antecipadamente [um ano antes do que seria normal] e sem que estivessem reunidas as condições para tal", prémios superiores a cinco milhões de euros, que receberam a poucos meses do banco entrar em colapso.

Público.pt

25.10.13

Que se lixe a troika


Os objectivos financeiros vêm sendo penosamente prosseguidos através de cortes nos salários, nos subsídios de férias e de natal e nas pensões, e no aumento brutal dos impostos, muitas vezes disfarçados em taxas de solidariedade, taxas adicionais, etc.

Todas estas medidas são apresentadas como provisórias, mas tudo voltará à primeira forma se forem eliminadas, tornando as finanças públicas insustentáveis.

Isto demonstra que é preciso fazer face aos problemas financeiros com soluções económicas, além de ser incontornável a renegociação da dívida pública. Que o caminho da troica é um beco sem saída.

24.10.13

Despesa pública

AO CUIDADO DE PASSOS COELHO
C/c: CAVACO SILVA

Na Suécia é assim...


Os seis mil euros mensais brutos que a Presidência do Conselho de Ministros paga a um consultor de conteúdos, os 27 mil euros que a Câmara da Horta pagou por um carro, e os 765 mil euros que o Banco de Portugal gastou num contrato de 2 anos para telecomunicações móveis e as ilegalidades em matéria de licenciamento para a construção, são apenas alguns dos exemplos de despesismo do "arco da governação", denunciados no blogue Má Despesa Pública

Para quem não quiser comprar o livro de Paulo Morais "Da Corrupção à Crise", onde estas coisas estão melhor sistematizadas, contextualizadas e explicadas por razões óbvias.

22.10.13

Manifestação.... artística

Não tendo a manifestação da CGTP do dia 19 p. p. correspondido à criatividade que se esperava, fica ao menos este registo criativo do Porto (Praça da Batalha).

Foto de Leonor Lapa

20.10.13

Porque hoje é domingo (45)

Viúva pressiona juiz

Nada mais a propósito para o contexto político que se vive em Portugal, a passagem do Evangelho que a Igreja Católica invoca hoje nas suas homilias.

Conta S. Lucas (18 1-8) que uma viúva recorreu a um juiz pedindo:‘Faça-me justiça contra o meu adversário!’. Durante muito tempo, o juiz se recusou. Por fim ele pensou que a insistência da viúva já o estava a aborrecer demais e por isso resolveu atender à sua reclamação – fazer justiça.

Não espero que os sacerdotes usem esta metáfora para defender o caracter ilegal dos cortes nas pensões de viuvez, a ser ponderado pelos juizes do Tribunal Constitucional, ou para defender a persistência das reclamações populares, mas não duvido que seria mais útil e compreensível do que usar a metáfora a favor da perseverança na oração como se Deus fosse pressionável.

18.10.13

Manif na Ponte do Infante

VAMOS CONTRA A CORRENTE



PORQUE HÁ 2 LADOS

15.10.13

Hoje é a ponte, amanhã se verá.


Em Junho deste ano, as “autoridades” reprimiram manifestantes que impediam o acesso à ponte 25 de Abril. Agora querem proibir manifestantes de ter acesso à mesma ponte. Afinal em que ficamos, ó Macedo? Se tens medo não vás mas deixa-nos em paz.

9.10.13

Qual é a pressa?

No próximo dia 15 de Outubro, o Governo apresenta o Orçamento de Estado para 2014.

Nele se reflectirão os buracos existentes na dívida pública e no défice orçamental - o Orçamento para 2013 já revelou até Agosto uma degradação do défice e aumento da dívida pública que já vai em 130% do PIB.

No O.E. de 2014 se reflectirão, enfim, os erros decorrentes do enorme aumento de impostos aplicados aos cidadãos com efeito desastroso no poder e na confiança destes para consumir, e a falta de condições para o investimento privado. Nele se justificarão as “medidas de austeridade” em curso ou em preparação.

Cada orçamento que passa, cada avaliação da troika, cada pacote de austeridade, é mais um golpe na economia nacional e nas condições de vida dos portugueses – são mais falências, mais desemprego, mais empobrecimento, mais degradação geral. Por isso é que custa a entender que o PS de José Seguro a António Costa continuem a perguntar “qual é a pressa” de derrotar o Governo.

«António José Seguro avisa que o PS não será cúmplice do empobrecimento de Portugal nem contribuirá para um estado "low cost"». Entretanto, vai deixando passar a caravana e a gente adivinha a explicação em forma de pergunta: “qual é a pressa”?

Por seu lado, António Costa, revela que avisou o secretário-geral do partido, na Comissão Política Nacional, que "ou havia um conjunto de condições que era possível reunir para unificar o partido" ou que se "sentia na obrigação de avançar para a liderança". E mais recentemente, a propósito dos resultados para as autárquicas, considerou: - Ganhámos em votos, ganhámos em câmaras, mas há ainda bastante caminho a fazer. – Afinal, digo eu, qual é a pressa?

Francisco Assis tampouco acha que chegou o momento… E Augusto Santos Silva, por muito que goste “de malhar na direita”, também parece pouco decidido. Ele defende “um consenso pluripartidário assente noutras bases”, isto é, com “outra liderança”. Santos Silva concretiza: uma coligação que integre o Partido Socialista, uma parte do CDS (na linha de Pires de Lima) e parte importante do PSD – aqui reunindo, nomeadamente, a linha de Rui Rio e de Cavaco Silva! (TVI24, 2013-10-08)

Mesmo ignorando esta bizarra “alternativa” sugerida por Santos Silva, se o regresso do PS significa prosseguir o programa de privatizações e destruição da produção, dos PECs e Memorando com a troika, que ocorreu durante o governo de José Sócrates, faz todo o sentido perguntar: qual é a pressa?

6.10.13

Porque hoje é domingo (44)

As leituras de hoje, nas igrejas católicas, chamam-nos a atenção para a fé.

“Aumenta-nos a fé!”, disseram os apóstolos a Jesus (Evangelho: Lc. 17,5-10). “Aumenta-nos a fé!”, adivinha-se nos rostos dos apóstolos de Passos Coelho. “Aumenta-nos a fé!”, parece ouvir-se o Povo confrontado com a inutilidade do empobrecimento para o “ajustamento económico e financeiro”.



Na carta aos Hebreus está bem explicado o que é a fé: “firme fundamento das coisas que se esperam, uma posse antecipada, um meio de demonstrar as realidades que não se vêem”.

Aí está: a fé não consiste em acreditar no que se vê, no que se sabe, é acreditar no que se não vê nem antevê. Se estivessemos a assistir a um país em crescimento, com aumento de produção e investimento, com aumento de emprego e de salários, com equilíbrio do défice e redução da dívida pública, enfim, não seria preciso ter fé para acreditar no Governo, mas não é isso que se vê, pelo contrário.

É neste sentido que devem entender-se as palavras de Passos Coelho e os silêncios de Paulo – não do santo mas do Portas.

4.10.13

A história repete-se

Explicação... para estrangeiros:

Na foto actual, treinador do Benfica, Jorge Jesus (!), defende um adepto que está a ser dominado pelas autoridades ao invadir o campo de futebol no fim do jogo. Na outra imagem, não sei.

Recebido por e-mail.

3.10.13

Soares e Menezes, a mesma luta

Nas eleições autárquicas recentes, os eleitores do Porto não escolheram Rui Moreira contra Filipe Menezes, escolheram sobretudo um candidato que representa a oposição mais fracturante ao partido do Governo. Luis Filipe Menezes não aprendeu com a derrota de Mário Soares em relação a Manuel Alegre nas presidenciais.

A acusação de endividamento da Câmara de Gaia durante a presidência de Menezes, cuja dimensão está por apurar, pesa menos no critério dos eleitores do que a incriminação de Isaltino Morais em Oeiras - este que foi apoiado nestas eleições por interposto candidato.

Esperava o PSD que votassem no partido do Governo os funcionários públicos em geral, os médicos e os enfermeiros, os professores e os juízes, os polícias e os roubados, os falidos e os desempregados, os pensionistas e os reformados?

É claro que os portugueses não deviam precisar das eleições autárquicas para exprimir o seu repúdio pela política nacional, mas precisam! Quando as suas reclamações, os seus protestos, as suas lutas são desprezadas pelo poder central, os cidadãos encontrarão sempre forma de lembrar que é neles que reside a soberania e são eles que escolhem os governos. Ou os rejeitam.

2.10.13

Oeiras e as eleições

No “Sinédrio” de Oeiras Pôncio Pilatos perguntou ao povo se escolhia o prisioneiro ou o polícia, ao que o povo respondeu: queremos o prisioneiro. Foi assim que este saíu premeado e aclamado pelos companheiros de cela.

Quanto ao polícia, foi crucificado.


Investigações mais aprofundadas revelaram que afinal o criminoso não era candidato senão por interposta pessoa, e o polícia também já não prendia, pelo que Pilatos foi lavar as mãos e ver televisão. Fazia pena a cara triste, ensimesmada, do Francisco Moita Flores, mas a malta já está habituada.

29.9.13

Partidos e representação (II)

Sabemos que entre nós, na prática, são os partidos e não os eleitores que escolhem os deputados, uma vez que estabelecem os nomes e a ordem de distribuição nas listas com base no conhecimeto dos “lugares elegíveis”. O eleitor não só está impedido de propor candidatos da sua própria escolha, como está inibido de escolher ou rejeitar individualmente os nomes que lhe são apresentados numa lista.

Nestas condições, os deputados não são escolhidos pelos cidadãos mas sim pelos partidos, isto é, pelas direcções dos partidos, elas próprias constituidas por processos internos de designação que padecem de vícios idênticos – uma elite dirigente assegura candidaturas que a reproduzam.

Assim, o deputado não representa a vontade dos eleitores mas sim a vontade da direcção partidária a que obedece obrigatoriamente, mesmo que isso vá contra a sua consciência – a defesa do partido, isto é, da sua direcção, sobrepõe-se à defesa do cidadão que “o” elege.

Nos casos de partidos ligados ao poder económico-financeiro, em que os seus membros circulam entre a política e os grandes negócios, a defesa do partido que fazem os deputados, corresponde à defesa daqueles negócios em detrimento ou mesmo contra os interesses dos eleitores.

POLÍTICAS EM PACOTE

Tal como acontece com o mecanismo viciado das listas partidárias que impede os cidadãos de escolher individualmente os deputados, também acontece que os eleitores estão impedidos de escolher as leis que se votam ou rejeitam no parlamento – elas fazem parte do pacote partidário, não é possível apoiar um partido e defender uma iniciativa de um partido diferente.

REFERENDO

A figura jurídica do referendo, podendo resultar de “iniciativa popular” de 75 mil cidadãos, é uma tentativa aparente de resolver este conflito entre a vontade do eleitor e a vontade dos partidos do Governo em matérias específicas – é, ao mesmo tempo, o reconhecimento de que este conflito existe. Mas o referendo depende da decisão do Presidente da República e abrange um âmbito restrito de matérias (Lei 15-A/98). Mais:“a iniciativa é obrigatoriamente apreciada e votada em Plenário” que pode aprová-la ou rejeitá-la.

A complexidade formal e legal, bem como as necessidades de organização e de publicidade, porém, são de tal modo exigentes e dispendiosas que dificilmente ocorre um referendo deste tipo sem que acabe entregue à confiança de um partido e, porventura, ao apoio financeiro de alguma empresa ou entidade…
CONCLUSÃO INCONCLUSIVA

Enfim, bem vistas as coisas, a solução democrática seria um sistema assente em partidos… apartidários! Mas enquanto isso não for possível, talvez valha a pena aprofundar a ideia do voto nominal em listas abertas, tal como se pratica em outros países. Fica a ideia aberta.

28.9.13

Partidos e representação (I)

O sistema eleitoral assegura uma relação de proporcionalidade entre os votos dos eleitores e a representação partidária. Mas não assegura que essa representação partidária corresponda às opções dos eleitores, visto que estes deixam de participar nas decisões dos partidos, desde o momento em que os escolhem.

Esta delegação de poderes acaba por ser, nesta medida, não o exercício de soberania do Povo mas sim o exercício de alienação de poder e responsabilidade em relação ás políticas concretas. É aqui que reside a a insatisfação dos cidadãos que se absteem de participar nos actos eleitorais.

Mas isto não justifica a campanha anti-partidos que tem alastrado nos últimos tempos. A abolição dos partidos é uma opção que vigora em Cuba, na China ou na Coreia do Norte e que vigorou no Portugal de Salazar, na Itália de Mussolini ou na Alemanha de Hitler, sem que o sistema seja recomendável.

Se o papel dos partidos na organização política é criticável, não é porque eles não representem as diferentes vontades dos eleitores em matérias essenciais como a configuração do Estado, e não é também porque eles não tenham mecanismos de selecção, de apuramento dos melhores cidadãos do ponto de vista dessas questões políticas essenciais, é porque os escolhidos são investidos de poder para decidir sobre todas as outras matérias da política corrente - votar num partido é votar num pacote de opções políticas, umas desejadas e outras não.

Além disso, escolhemos um partido e os seus dirigentes em função de grandes objectivos, de razões ideológicas, digamos, mas alienamos o controlo e a decisão sobre as políticas concretas. Quem escolhe um partido democrata-cristão, por exemplo, não controla se as leis que o partido propõe ou aprova, são democráticas ou cristãs e muito menos se elas são conformes aos ideais e à vontade dos apoiantes partidários. António Costa contra A. José Seguro, Manuela Ferreira Leite contra Passos Coelho ou Bagão Felix contra Paulo Portas, são alguns dos exemplos mais visíveis deste problema – quer tomemos por genuínas as suas posições públicas, quer reflictam elas, apenas, os sentimentos dos seus correligionários.

Organizações recentes e antigas, como a Associação dos Pensionistas e Reformados ou a Associação de Inquilinos, entre tantas outras, exprimem esta necessidade de criar formas de representação de interesses específicos que atravessam os espaços ideológicos dos partidos. Não é porque estas organizações não possam ser contaminadas por estratégias partidárias ou até sindicais, mas são-no muito menos, devido à sua composição politicamente transversal. Penso que é mesmo sua função dialogar com outras organizações e poderes.

A questão, portanto, é saber se a organização política através do sistema eleitoral pode, ou como pode, fazer representar a vontade concreta dos cidadãos no poder político e não os deixar na dependência da filtragem partidária. A grande questão, em última análise, é saber como eleger os políticos e as políticas, nominal e especificamente, em vez de assinar cheques em branco. E como removê-los do poder, por iniciativa dos cidadãos, sem ter que recorrer à violência.

25.9.13

Pior que troika

Se a troika, com suas exigências, é má, o Governo, com seu radicalismo, é pior.

Os três aplicam um “programa de ajustamento” das contas públicas exigente, austero e sobretudo ineficaz do ponto de vista dos objectivos anunciados. Mas o Governo não só aprova o programa de forma acrítica como fornece às próprias instituições internacionais muita da lenha que ateia a destruição do país. A leitura dos planos de resgate revela elementos significativos que só podem basear-se, pelo seu detalhe, em propostas do próprio Governo.

E é este mesmo Governo que no contexto da presente campanha eleitoral, encomenda ao partido que o suporta declarações patéticas contra as “exigências da troica”! Para esta hipocrisia eleitoral, prestou-se o meu vizinho Marco António Costa, que um dia está na Câmara de Gaia, outro dia está no Governo, outro dia representa o PSD, ora no Grande Oriente Lusitano, ora na Grande Loja. Olá Miguel Relvas, olá Carlos Abreu Amorim...

Eu bem vejo o Marco António a correr em Gaia de um lado para o outro, que ninguém está seguro de não ser atropelado entre a Avenida da República e o nó do Fojo – acesso à auto-estrada Norte-Sul!

"Há uma hipocrisia institucional da parte do FMI, porque há relatórios que sublinham essa preocupação (declarações piedosas para os países que estão sob resgate) mas depois, no concreto, na postura que revela na mesa das negociações, na atitude que assume no dia-a-dia de relacionamento com os estados, com os governos (...), o que mostra é uma atitude muito pouco flexível". Assim falava Marco António Costa, na quarta-feira, 18 de Setembro de 2013.

Mas quem compara o Memorando de Entendimento, com as medidas do Governo, percebe que quem critica a hipocrisia, não é mais sincero! Com a diferença de que o FMI faz o seu papel, por assim dizer, e o Governo faz o papel do FMI – com muito orgulho pessoal, chantagem sobre os portugueses e propaganda manhosa.

24.9.13

Da crise à troika (III)

Em Portugal, a sustentabilidade das finanças públicas para fazer face ao pagamento da sua dívida, num contexto da actual crise internacional, revelou-se muito frágil e suscitou a pressão dos credores internacionais (mercados financeiros).

Face a esta perturbação, Portugal pediu assistência financeira à União Europeia, aos Estados-Membros da zona do euro e ao Fundo Monetário Internacional (FMI) em 7 de Abril de 2011.

Esta assistência em forma de empréstimos da troika, obedece a um plano de ajustamento económico-financeiro que contempla as condições de pagamento do emprèstimo (valor, prazo e juros) mas também exigências em matéria de condução político-económica destinadas a garantir a recuperação do país para pagar aqueles empréstimos – é o famoso Memorando de Entendimento acordado entre Portugal e a UE, durante o governo de José Sócrates mas que teve também a concordância do PSD e do CDS-PP.

MEMOR(IZ)ANDO

De notar que o referido Memorando é um plano de assistência destinado a «apoiar um programa de políticas para restaurar a confiança e permitir o regresso da economia a um crescimento sustentável, preservando a estabilidade financeira em Portugal, na zona euro e na U.E.».

O Estado-Membro que pretende recorrer ao apoio financeiro a médio prazo avalia as suas necessidades financeiras com a Comissão e apresenta um projecto de programa de ajustamento à Comissão e ao Comité Económico e Financeiro.

Na prática, é esta “troika” de instituições internacionais, como credora, que estabelece as condições e, através de um grupo de técnicos seus representantes, a “missão conjunta”, verifica o seu cumprimento e impõe novas medidas destinadas a corrigir discrepâncias e garantir os objectivos do plano – são as avaliações trimestrais. Inicialmente, cada uma das instituições emprestou um terço do montante total, ou seja, 26 mil milhões de euros.


RESULTADOS

Chegados a 2013 por este caminho, Portugal atingiu no primeiro semestre deste ano uma dívida superior a 130% do PIB, isto é, 214.573 milhões de euros, acusando uma tendência crescente de endividamento.

Para suster o crescimento desta dívida seria necessário corrigir o défice das contas públicas, isto é, fazer subir as receitas e diminuir as despesas até se equilibrarem. Mas uma subida de receitas baseada em impostos e alienação de património, incluindo as empresas lucrativas do estado, e uma descida de despesas baseada em despedimentos e desinvestimento na saúde e na educação, não só não atingem os seus objectivos como geram novos problemas.


De resto, mesmo que o défice fique mais ou menos controlado, enquanto a recessão prolongada reduzir o PIB, a dívida pública em percentagem do PIB continuará a aumentar.

Vale a pena transcrever a seguinte passagem do Memorando:

«O programa de ajustamento económico e financeiro inclui:
- reformas estruturais para aumentar o potencial de crescimento, criar empregos e melhorar a competitividade;
- uma estratégia de consolidação orçamental, apoiado por medidas estruturais de carácter orçamental e um melhor controlo orçamental sobre as parcerias público-privadas e as empresas estatais, visando colocar o rácio da dívida pública bruta/PIB numa trajectória descendente, a médio prazo, e reduzir o défice para valores inferiores a 3% do PIB em 2013;
- uma estratégia para o sector financeiro com base na recapitalização e na desalavancagem, com esforços para salvaguardar o sector financeiro contra a falta de apoios, através de mecanismos de mercado apoiados por instrumentos de assistência».


Fica demonstrado o falhanço dos objectivos traçados, afinal o falhanço da estratégia. Nada que desvie o Governo do rumo traçado, numa interpretação ultra-radical do Memorando, porque o objectivo mais transcendente é outro e esse está a ser cumprido: fazer regredir os direitos sociais aos níveis do século XIX e reduzir o Estado à ínfima espécie de defensor armado da classe privilegiada. Passos Coelho já disse que tinha uma missão...

Não é por acaso que a "narrativa" da direita vem sendo tão violenta contra o Estado e as suas instituições democráticas. A ver vamos até onde é que as condições socio-políticas lhes permitem ir.

23.9.13

Da crise à troika (II)

A crise norte-americana contagiou inevitavelmente a economia mundial e desencadeou a crise financeira internacional.

Num contexto de economia globalizada como aquele que vivemos, a quebra de confiança, aliás justificada, no sistema financeiro internacional, faria prever as consequências mais graves a todos os níveis.


O fantasma da crise de 1929, também conhecido por Grande Depressão, pairou no imaginário colectivo de forma mais ou menos assumida e não está de modo algum eliminado. Os sintomas são demasiado semelhantes para serem ignorados.

Os governos injectam dinheiros públicos nas instituições financeiras para salvá-las e recuperar a confiança dos depositantes e dos mercados, e adoptam políticas fiscais e monetárias para incentivar a produção, o consumo interno e as exportações. Por seu lado, instituições internacionais como o FMI, o Banco Mundial e a Organização Mundial de Comércio articulam-se para apoiar os governos dos países mais necessitados mediante a inposição de regras.

Na Europa, em particular, a crise foi causada pela dificuldade de alguns países do continente em pagar as suas dívidas.

O crescimento económico da Grécia, Portugal, Irlanda, Itália e Espanha, nomeadamente, não gera recursos suficientes para pagar os empréstimos dos seus credores, acumulados durante décadas. O risco de incumprimento é visível e tem consequências que ultrapassam a própria zona euro. Na Grécia, por exemplo, o primeiro-ministro George Papandreou foi o primeiro a assumir que a Grécia não tinha mais condições de pagar as suas contas.


Os investidores reagiram de imediato, exigindo maiores rentabilidades sobre os títulos da Grécia, o que elevou o custo dos encargos da dívida do país e exigiu uma série de salvamentos pela União Europeia (UE) e Banco Central Europeu (BCE). A partir do episódio grego, o mercado passou a exigir maiores rentabilidades sobre os títulos dos outros países endividados da região, tentando antecipar problemas semelhantes ao que ocorreu na Grécia.

"Para tentar equilibrar a economia dos países em maior dificuldade", a troika (FMI, BCE e CE) adoptaram medidas que se traduzem na libertação de uma série de empréstimos, os famosos pacotes de resgate, mas que são acompanhados de pacotes de austeridade em matéria de governação política que muitos consideram estrangular a capacidade de sobrevivência do país, para além dos mostruosos efeitos sociais.

O presidente do Eurogrupo afirmava há um mês que a Grécia precisará de um terceiro resgate no próximo ano, a juntar aos 240 mil milhões de euros que o país já recebeu das instituições internacionais desde o início da crise. Angela Merkel e o seu ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble o haviam defendido, aliás.

Uma vez mais se poderá dizer que "Portugal não é a Grécia", mas o percurso do nosso país, pesem embora essas diferenças, levar-nos-há a outro destino?

Próximo post: parte III - Portugal

22.9.13

Da crise à troika (I)

Para responder à recessão económica dos EUA em 2001, foi adoptada uma estratégia de facilidades de crédito que se revelou perigosa.

O entusiasmo da procura criado pelas facilidades de crédito, fez subir os preços e os juros, especialmente no sector da construção civil, o que gerou endividamento dos proprietários e retracção dos potenciais compradores. Em 2004 os juros estavam já em 5,25%. Mas com a execução das hipotecas, os imóveis retomados pela banca voltam a ser colocados à venda, agora por baixos preços, o que agrava ainda mais a crise da indústria de construção.

Foi um desastre para o sector imobiliário e automóvel, especialmente, que deixaram de vender e de cobrar os empréstimos. Mas, além disso, deixaram de alimentar a banca que acabou por apresentar falta de liquidez – é a crise financeira de 2008.

Neste processo teve um papel importante a negociação de títulos que ofereciam taxas altas mas também grandes riscos (subprime) e que deixaram de merecer a confiança dos investidores.

Retracção do crédito, crise de liquidez, falências de empresas imobiliárias que ficam na posse da banca com os seus prejuízos, falência no próprio sector bancário!

Em 2008, o Lehman Brothers, o quarto maior banco de negócios dos Estados Unidos, declarou falência. Começava assim o colapso do sistema financeiro norte-americano. A falência do banco centenário,que perdeu mais de 4 mil milhões de dólares foi anunciada depois da administração Bush ter decidido não intervir no sistema bancário.


Ao verificar os efeitos desastrosos desta não intervenção do Estado, a administração norte-americana teve que inverter a sua estratégia e logo nacionalizou a maior seguradora do mundo, a AIG. Afinal era o Estado quem podia resolver os problemas e não o livre funcionamento dos mercados! «Depois do colapso, o governo norte-americano foi o campeão dos apoios públicos para enfrentar a crise, ao libertar 3.6 milhares de milhões de dólares para dinamizar a economia».

Depois do Lehman Brothers, outros bancos importantes, nomeadamente o Bank of America, o Citigroup e Wells Fargo foram afectados pela crise económica.

O governo americano aprovou em outubro de 2008 um pacote de ajuda de 700 milhares de milhões de dólares para ajudar os bancos afetados com os produtos envolvidos no "subprime" (créditos de alto risco) mas também empresas de créditos, montadoras de automóveis, entre outros. Sucessivos pacotes de ajuda de muitos milhões de dólares, destinada a sectores fundamentais da economia como o sector automóvel, nomeadamente a General Motors e a Chrysler, ou destinadas a obras de infraestrutura, sem perder de vista o combate à elevada taxa de desemprego, foram disponibilizados pelo Estado ultraliberal, isto é, pelos impostos dos cidadãos norte-americanos, para resolver o problema financeiro criado pela desregulamentação.

É a lógica dos mercados... a falhar!

Próximo post: Parte II

19.9.13

Ideias para o Porto e disparates

Em Lisboa, a Avenida de Roma não fica nada atrás da Avenida da República e o bairro de Telheiras (na foto) não é menos simpático do que Alfama ou o Bairro Alto – são espaços, arquitecturas, atmosferas e até culturas diferentes. Mas cada um deles vale por si mesmo sem substituir nenhum dos outros.

A criação e desenvolvimento dos bairros periféricos, é a melhor solução contra o congestionamento do trânsito, contra a especulação imobiliária e contra a asfixia geral dos centros históricos. Pólos dispersos de atracção de moradores através de infraestruturas satisfatórias, resolvem mais problemas nas grandes cidades do que estratégias de circulação que sempre se traduzem em constrangimentos, e mais do que parques de estacionamento em espaço exíguo e com grandes custos de implementação e de utilização.

Com acessos e transportes adequados – e pouco há que gastar, porventua, para isto – viver no centro da cidade é uma vantagem duvidosa. Hospitais, escolas, mercados e empresas fora do centro satisfazem melhor do que o congestionamento insolúvel a que se assiste geralmente no desenvolvimento concentracionário da cidade.

O Porto merece um Douro fascinante como tem, e um centro vivo, é certo, como merece e necessita da recuperação do parque edificado e dagradado, mas também precisa de pólos habitacionais dispersos pelas zonas periféricas, dotados de serviços e comércio, de lazer e transportes que os tornem atractivos especialmente para os habitantes locais, compensando assim o congestionamento da cidade.

Conheço pessoas que vivem em bairros periféricos de metrópoles ou até em subúrbios, que perderam o hábito de frequentar o centro ou mesmo a cidade, uma vez que encontram tudo o que precisam, perto de casa.


Londres, um velho caso de estudo

Este conceito é antigo e é bom que tenha sido defendido por um ou mais autarcas do Porto na campanha eleitoral; assim haja capacidade para implementá-lo na estratégia de um “Porto Forte” ou de um “Porto de Futuro”, de uma candidatura “Por Todos” ou de outra que reivindica “Mudar o Porto”…

Já a proclamação para “Virar o Porto ao Contrário” é um mero exibicionismo verbal de quem não troca uma frase “bombástica” por um gesto simplesmente útil, ou, segundo Lenine, a expressão de um “radicalismo pequeno-burguês de fachada socialista”.

17.9.13

É ditadura mas é minha

Robertico Carcasses é um cantor e pianista cubano que se faz acompanhar por uma banda musical. Recentemente participou num espectáculo anti-imperialista destinado a reclamar a libertação dos cinco cubanos presos nos Estados Unidos por acusação de espionagem.

Notícias recentes mostram bem com que autoridade moral os EUA condenam a espionagem internacional, mas isso é outro dossier…

Neste caso, a notícia é que Robertico Carcasses aproveitou para cantar uma denúncia… da ditadura cubana!



Ora eu não pude deixar de me lembrar de um episódio semelhante que ocorreu em Portugal durante a ditadura de Salazar.

Durante um programa da RTP, no arranque das emissões de televisão em Portugal, o "cantautor" - como hoje se diz - Tristão da Silva terá proferido declarações de denúncia do regime – uma corajosa farpa no “nacional-cançonetismo”. Estavamos nos finais dos anos 50 e eu era ainda uma criança mas lembro-me do regozijo discreto que partilhei com quem me contou.

Tristão da Silva (1927/1978) esteve preso e na prisão escreveu uma das suas famosíssimas canções: “Daquela janela virada para o mar”. A partir de uma descrição de Urbano Tavares Rodrigues, de quando esteve preso em Caxias, eu imagino que a letra invoque uma janela daquela mesma prisão da época, a partir da qual poderia ver o mar.



Outra coisa que eu imagino é que alguns revolucionários da corte de Jerónimo de Sousa, sentiram o mesmo prazer que eu senti quanto ao episódio de Tristão da Silva, mas já em relação ao episódio cubano, em tudo idêntico, só lhes ocorre indignarem-se contra o cantor. É o calcanhar de Aquiles de certos combatentes da “democracia avançada” - uma fragilidade que os impede de sair da ilha eleitoral a que se confinam.

11.9.13

O Porto está morto, viva o Porto

Escurece, e o Porto desaparece, foge do centro. As ruas principais vão-se tornando sombrias, ameaçadoras. Deserto, mais parece um cemitério. Quais mausuléus, também tem majestosos monumentos de granito trabalhado que se erguem para o céu e ali se perdem.

O Porto, à luz do dia, mostra-se esventrado e desfigurado; à luz da noite, é um labirinto de ruelas pardas e assustadoras por onde se arrastam vagabundos sombrios e prostitutas de carnes suadas.
O Porto foi entregue à indignidade.

Rua Sá da Bandeira

Senhores gestores do que resta da cidade: convido-os a descer as ruas da baixa, o ex-libris da cidade, ao que se diz. Desçam Santa Catarina de noite, quando o comércio está fechado. Mas não vão em cortejo porque assustam os fantasmas. Um hoje, outro amanhã, sem escolta, sem cão e sem BMW. A pé, abandonados à cidade que inventaram.

Se tiverem a coragem de seguir mesmo até ao fundo da rua que oferecestes aos vossos eleitores, ireis desaguar na Praça da Batalha onde dorme tudo quanto de dia é ouro: o café Chave d’Ouro, o cinema Águia d’Ouro e o mijadouro que existia por baixo da Igreja e já não há porque foi soterrado.

Era suposto ser o "hall" de entrada sul, da cidade que fizestes, a Praça da Batalha, mas nem o Cine-Teatro S. João lhe empresta respeitabilidade; está para ali, entre os tremoços e as cervejas das esplanadas terceiro-mundistas que rodeiam a praça. Experimentem sentar-se a uma mesa dessas chafaricas. E como prémio pelo esforço, ficam dispensados de conhecer o resto da cidade, a pé. Que, de carro, eu sei, conhecem tudo. Pode-se conhecer o mundo até de avião; viver lá é que não.
Depois, há aquelas duas zonas onde uma juventude estudantil se estuda, faz o seu curso nocturno para a vida adulta: entre o "Piolho" que não por acaso fica junto da Reitoria da Universidade, a Rua Galeria de Paris, José Falcão e Praça Filipa de Lencastre – um rodopio de gente linda e subsidiada que nos faz esquecer a outra gente, as outras famílias. Se não fossem os carros do lixo a importunar, limpando o que a gente linda suja, nem se dava por que há outra realidade. Mas "está-se bem": seja feliz quem pode e nos contagie com a sua alegria. "Do tipo. Tás a ver?"


A questão é que nada desta animação se deve aos autarcas do Porto. O que se lhes deve é a degradação das ruas centrais: Santa Catarina, Sá da Bandeira, Avenida dos Aliados…

Ah, sim, eu sei: a ribeira, a histórica e deslumbrante ribeira que embalou gerações de tripeiros e foi descoberta, finalmente, pelos estrangeiros. Aqui há algum mérito das Câmaras de Porto e Gaia no desenho das luzes que discretamente pontuam como estrelas, como luas, a paisagem sombria dos velhos casarios.

O resto, a animação, foi puxada pelo comércio local - com as virtualidades e as indigências locais. Animação que é feita mais uma vez pelos próprios frequentadores, um palhaço pobre, uma estátua humana e um cantor de bom gosto que à sua custa e do restaurante que o patrocina, entretém os circunstantes mais próximos.



Espanta-me, portanto, que um candidato a presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, venha declarar que não quer que o Porto se transforme numa Disneylândia para turistas. O que vale é que já ninguém quer saber o que pensa Moreira desde que Menezes vê legitimada a sua candidatura.

Nota:
A última foto é de Carlos Albuquerque e foi copiada de olhares.sapo.pt

10.9.13

O Porto pensa nas alternativas

11 de Setembro de 2013 às 18h30


E aproveite para conhecer a Cooperativa Árvore, nas traseiras do Palácio da Justiça do Porto, ali ao Campo Mártires da Pátria onde fica a antiga Cadeia da Relação... - tudo relacionado como se percebe.

Cooperativa Árvore

Se a conferência estiver fastidiosa, o que não acredito, tem ali perto o "Piolho" de seu nome oficial Café Âncora D'Ouro. É outra alternativa.

7.9.13

Obama, Hollande, UE e o boomerang

«Se, em vez de cadáveres gaseados e com aspecto de anjos imaculados, o crime perpetrado na Síria tivesse produzido corpos esfacelados e tingidos de sangue, isso já seria aceitável do ponto vista dos valores humanitários?

No referencial ético dos chefes militares e políticos ocidentais, a tal linha vermelha de Obama, é essa a mensagem legível».


Recortei este texto de um desenvolvido artigo de Demétrio Alves de 30 de Agosto, cuja leitura recomendo em
Praça do Bocage

Mas gostaria de acrescentar uma pergunta no momento em que acabo de ouvir que a "comunidade internacional" aguarda a confirmação da ONU sobre o uso de armas químicas, para legitimar um ataque militar contra a Síria:

e se os inspectores da ONU chegarem à conclusão de que foram os opositores do regime que usaram essas armas - ele há também indícios - a "comunidade internacional" vai legitimar um ataque contra os "rebeldes"? Hummmm...

4.9.13

Autárquicas 2013

Zangam-se as comadres… do PSD

Luís Filipe Menezes diz que uma das vantagens da candidatura de Carlos Abreu Amorim é que «este é quem manda na sua candidatura e não creio que seja isso que aconteça nos outros principais adversários: são outras pessoas, outras motivações e outros interesses que mobilizam essas candidaturas!

E não me consta que nesta candidatura, quando se abre uma sede de campanha de outro adversário, se ponha alguém de binóculos para ver quem está a entrar e a sair, para no dia seguinte o perseguir nos corredores da Câmara, nos corredores da Junta ou em qualquer sítio
». (1)


Guilherme Aguiar, outro candidato do mesmo partido, diz que o PSD, «cedeu a interesses mesquinhos e egoístas em detrimento dos interesses de Gaia»(2) ao preterir a sua candidatura a favor de Abreu Amorim,

Esta exibição de roupa suja, enfim, não pesará muito nas opções do eleitorado e Abreu Amorim vai ganhar as eleições como ganharia um calhau que se apresentasse com o apoio de Luís Filipe Menezes, de tal modo este "lavou" a cidade . E se a qualidade das obras, em Amorim, for tão diferente da qualidade do seu discurso, quanto acontece com Menezes, até pode ser que se escreva direito por linhas tortas! (3). Mas o percurso político de Carlos Abreu Amorim, bem como o seu populismo rasteiro, não deviam deixar indiferente quem gosta de laranjas mas separa as que estão "tocadas".

Fontes: (1) Folheto de candidatura; (2) JN 2013-05-06 (3) iOnline

2.9.13

Síria em contra-ponto

O programa incendiário dos Estados Unidos da América e Israel, para o Médio Oriente, vai cumprindo o seu calendário, ateando os fogos previstos pela forma prevista. Primeiro, semeando o descontentamento interno e incentivando as revoltas, depois manipulando a opinião pública mundial.

Criadas as condições subjectivas, o ódio contra “o inimigo”, desencadeiam-se os fogos violentos e acentuam-se as acusações convenientes enquanto se alimentam as fogueiras. Já só falta um pretexto “legal” para intervir assumidamente desde o exterior – e aqui, à falta de melhor, recorre-se a estafados argumentos sobre uso de armas proibidas cuja comprovação, de resto, virá ou não virá, tanto faz, depois da decisão de atacar. Obama diz que mata, a NATO diz que esfola, Putin diz que não há razões suficientes, a ONU ainda não tem provas...


Entretanto, para que ninguém diga mais tarde que não sabia de nada, AQUI fica uma entrevista que só vi na Ewronews – apesar da sua grelha editorial de direita.

30.8.13

Eles andam aí, são do FMI

O Fundo Monetário Internacional (FMI) tem sido, no quadro da ‘troika', a instituição mais preocupada com as consequências económicas das medidas de ajustamento orçamental, mas a agenda de mudança no mercado laboral que mantém viva e quer reabrir na oitava e nona avaliações só pode significar que ainda não percebeu bem o País onde está. E o que se passou nos últimos dois anos. (Blá blá blá blá…) A intenção é bondosa, os resultados “seriam” catastróficos.

Assim escreve (29Ago)um tal António Costa, muito requisitado “comentador” económico alojado no jornal Económico.

Merecem a nossa ternura estes analistas ingénuos, angelicais, que não distinguem entre a Madre Teresa de Calcutá e a Madame Christine Lagarde.


24.8.13

O tempo e as cinzas

Olhei o homem que olhava a menina que olhava na câmara

que olhava assim

Foi há 25 anos, no Chiado. Um tempo que se esfumou. (Fotos originais)

20.8.13

Porto tão perto (2)


Já foi fotografada um milhão de vezes. Mais, muito mais. Mas a gente tem sempre a sensação de que há um ângulo que não foi explorado, ou uma luz, ou uma neblina… Há sempre, com certeza, alguém que por lá passa e que não passou das outras vezes. E até os barcos, cópias dos rabelos com pipas vazias ou turistas deslumbrados – justamente deslumbrados, entendamos.


A ponte D. Luis não é como a Torre Eiffel que não serve para nada – a ponte liga o Norte ao Sul de Portugal. Não estou a exagerar, que o bairrismo exacerbado de muitos portuenses chama a Gaia, Marrocos, e, aos lisboetas, mouros, logo Espinho, Aveiro, Coimbra, Entroncamento, é tudo sul!...

Mas dizia eu que a Ponte D. Luis, em rigor, Ponte Luis I, com tabuleiro em cima e tabuleiro em baixo donde salta para o Douro a “canalha” local, além de grande, magestosa e linda, abraça Porto a Gaia com férrea solidez e belo rendilhado como é a gente que ali nasce, franca e afectuosa “p’ra carago”.

De um lado, pitoresca, a ribeira portuense de longas tradições, conhecida no meu tempo de criança, pelas cheias e as inundações entretanto controladas; do outro lado, o chamado Cais de Gaia que copiou a evolução do Porto e criou bares e restaurantes que foram ganhando qualidade, e profissionalismo na arte de agradar aos visitantes. Mas cuidado: há que escolher.

Actualmente percorrem o leito do rio para montante e para jusante, os cruzeiros de pequeno e grande porte. Percorrendo as margens de ambos os lados, os automóveis parecem flutuar na estrada, gozando sem pressas a paisagem. E há os que fazem uma paragem com a cana de pesca ou a câmara fotográfica, que há sempre uma imagem imprevista que faltou capturar. É uma pena que se não possa levar o Douro para casa! (Isto sou eu a falar porque nunca levei com ele no tempo das cheias...).

(Fotos originais mas sem reserva de propriedade)

18.8.13

Incêndio numa chávena de café

Peço um café quase cheio. Ás vezes nem peço, de tal modo é habitual. Vejo o café a chegar ao balcão e a empregada das mesas a mandar encher um pouco mais. É o costume.

Tirar um café na máquina é-lhes tão frequente que se tornou um gesto automático. Daí que, quando o movimento é muito, nem reparam no “pormenor” do pedido: "quase cheio!".

Mais um centímetro de altura ou menos um, poderia ser esquisitice, extravagância, vontade de complicar, se me referisse a um jarro de água ou de vinho, a uma garrafa ou até a um copo, mas numa chávena de café “expresso” ou “simbalino” – para usar uma expressão regional - faz uma diferença “do carago” – para usar outra expressão local.

O que mais irrita é que não há qualquer justificação para que o pedido não seja correctamente atendido – o café gasto é na mesma quantidade e o preço também. Pior: voltar com a chávena à máquina para acrescentar o café que faltou, duplica o trabalho e o tempo dispendido pela trabalhadora. Além de que o resto acrescentado prejudica a qualidade do produto final.


Pessoal competente e com tempo para fazer bem feito é portanto uma receita para a qualidade do serviço e para a satisfação do cliente. É assim no café e na sapataria, no serviço de saúde, no ensino e no governo da nação. É assim na satisfação e no conforto das pessoas, na sua disposição e no contágio para a comunidade.

Mas o episódio, tantas vezes repetido, teve desta vez a minha reclamação e uma desculpa esfarrapada que era mais uma injustificada justificação. Mais irritado ainda, paguei o café e saí sem o tomar mas com um comentário: - Ofereço-lho!

O volume ou o tom ou a má impressão que a ocorrência poderia causar na clientela, levou à intervenção do gerente que admoestou a empregada de mesa que chutou para a colega que acusou o gerente da falta de pessoal, que não tardou a dispensar os seus serviços… Já nem vou projectar o que se terá passado em casa da rapariga quando fez constar o despedimento nas barbas do marido e dos dois filhos.

Para bom entendedor: quando o terreno e o clima são propícios, a mais pequena chama ateia um enorme incêndio pelo que o melhor será “limpar a mata” – e nem sai mais caro do que tê-la queimada.
 
(Fotos inéditas e originais)