31.8.16

Cadê os votos do povo?

(Clique na imagem para ampliar)

21.8.16

Porque hoje é domingo (77)

Nas missas católicas deste domingo é invocada em versões naif e com as mais fantasiosas especulações sacerdotais, uma passagem do Evangelho (Lucas, 1) que trato de comentar.

Segundo a lenda, Isabel que era estéril e já com idade avançada, deu à luz um menino que se chamou João, e seis meses mais tarde, a prima dela, Maria, que era virgem, deu à luz Jesus.

Além da proximidade dos acontecimentos, outra coincidência se assinala: em ambos os milagres o respectivo anúncio foi feito por um anjo que disse chamar-se Gabriel.

Segundo contam os evangelistas sem que saibamos quem lhes contou a eles, as duas primas muito se alegraram e juntas agradeceram a Deus, mostrando-nos que o poder de Deus é infinito! Ou a imaginação dos evangelistas.

Nota curiosa é que o anjo que anunciou o nascimento de João, fizesse questão de informar expressamente o futuro pai, Zacarias, que o seu Joãozinho, “não beberia vinho nem bebidas fortes” quando fosse grande, o que nos leva a suspeitar que Jesus foi pouco escrupuloso nas bodas de Caná. Adiante; pela minha parte está perdoado.

Mais se sabe que o idoso pai de Joãozinho deixou de falar até ao nascimento do menino e que a idosa mãe se fechou em casa durante seis meses depois do milagroso nascimento. Tanto secretismo – passe o aparte – faz-nos lembrar o voto de silêncio de Lúcia, a “vidente” de Fátima!

Consumado o nascimento de João, foi o mesmo anjo Gabriel anunciar a Maria idêntico milagre – não que esta fosse velha (infértil, nunca o saberemos!) mas porque fosse virgem segundo testemunho dela própria...

Aqui chegados, as coisas ganham uma inegável importância política. Se não, reparem em que termos é que o mensageiro falou do nascimento inusitado de Jesus: “o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai, e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim.

Pela minha parte, fico por aqui. O resto deixo à consideração de quem me ler.

12.8.16

Paris 3ª Parte

“Malgré tout”, os portugueses devem a Paris e aos franceses em geral, mais do que devem talvez a qualquer outro povo europeu.

A foto seguinte bem podia representar essa homenagem se as manifestações de vitória pessoal dos refugiados políticos e económicos fossem tão expressivas como as vitórias no futebol.


Com este reconhecimento sincero fecho o tríptico sobre a cidade.

«Finalmente!!!!! Isto pode ser o penico da Europa, mas que felicidade respirar a liberdade. Finalmente!!!!». Reproduzo de memória as primeiras palavras do Luelmo, na carta que recebi de Paris, dias depois que eu dei pela sua ausência no quartel e na casa que alugámos em Tavira. Seria 1970.

O Luelmo fugiu! O sacana pirou-se e nem me perguntou se eu queria fugir também. Já não estaria em Paris quando eu recebi a carta, que a prudência assim mandava. Creio que foi dali para Inglaterra e depois para a Suécia, aceitando vários trabalhos, mas disso não direi mais porque é falar da vida de terceiros.

Mais tarde, quando eu já “militava” num outro quartel e a mobilização para a guerra de África estaria por poucas semanas, a minha disposição para “dar o salto” já só dependia de saber como fazê-lo. Nunca o soube. Logo, o único salto que estava ao meu alcance era mesmo o que me destinava o regime: “para Angola, rapidamente e em força”!

Mas quantos Luelmos ficaram definitiva e justamente agradecidos por serem acolhidos ou poderem transitar por França para outros destinos democráticos! E quantos exilados políticos, como o professor Manuel Valadares em 1947, de quem fiz um documentário para a RTP. E quantos emigrantes clandestinos como o tio Joaquim, nomeadamente na grande vaga dos anos sessenta mas ainda hoje.


Deixo apenas referências pessoais porque não faltam fontes de informação acerca da emigração económica portuguesa para França e das mais prestigiadas figuras públicas dos nossos dias que encontraram em Paris refúgio para as perseguições salazaristas. Menos de uma semana antes do 25 de Abril de 1974, por exemplo, Álvaro Cunhal e Mário Soares, entre outros, estiveram reunidos em Paris!

Leia-se, enfim, nas expressões irónicas e sarcásticas dos meus artigos anteriores, uma homenagem à cultura de Liberdade que a França representa e apresenta.

10.8.16

Paris não está a arder

Chovia em Paris enquanto Portugal, esse sim, estava a arder. O autocarro que me levou do aeroporto de Orly, terminou a sua viagem e a minha no Arco do Triunfo, um enorme calhau perfurado que parece ter caído de outro planeta, meteorito que aterrou no princípio do século XIX, sepultando muitos soldados desconhecidos de Napoleão e devastando uma larga área em seu redor.

Quase cem anos mais tarde, os franceses mandaram construir um brinquedo gigantesco que viria a inspirar as torres de lançamento de foguetões - digo eu. A isto deram o nome do seu projectista, o senhor Eiffel. Tivessem os franceses menos arrogância e mais imaginação e fariam como os portugueses que deram o nome de D. Luís à ponte projectada pelo mesmo engenheiro na cidade do Porto – apesar de tudo…

Quem fala assim dos grandes monumentos europeus, como eu falo, o que aprecia mesmo é gastronomia, já se vê. Mas que desilusão. À saída camioneta, descendo do "meteorito", pelos Campos Elísios, valha-nos Alá: tudo é caro e quase nada presta.

Aproveita-se o espectáculo que se oferece, por exótico, das muitas muçulmanas que por ali passeiam, mil rostos lindíssimos e olhos bem cuidados que espreitam pelos únicos rompimentos das vestes que usam e que mais me parecem orgulhosos sinais de identidade e apelos à curiosidade, do que imposição religiosa.

Serve esta referência para ligar o post, digo artigo, ao anterior, está-se mesmo a ver.


A foto-montagem foi criada para este blogue.

7.8.16

Pic-nic em Paris

(Esta foto, retirada do Google, reproduz fielmente o local apenas; não a situação abaixo relatada)

Até que nos dissesse que era muçulmano, a conversa andou pelas noções de ofensa e de perdão segundo a sua religião, tudo a propósito de estarmos a beber cerveja no pic-nic que improvisámos numa margem do Sena.

Que não era permitido beber cerveja ali! A princípio pasmámos, depois perguntámos: - Mas onde é que está isso escrito?

O segurança apontou para um pequeno cartaz discretamente afixado a poucos metros dos bancos de pedra que nós ocupávamos. Olhamos todos três ao mesmo tempo para o sítio que o homem apontava e lá estava o aviso.

Espantoso: numa cidade ameaçada e atacada violentamente por terroristas, aqueles três pacíficos turistas, tão perigosos como os três pastorinhos de Fátima, eram abordados pelas autoridades para a proibição de partilharem uma cerveja no sítio mais discreto e mais deserto das margens do Sena.

Depois veio a tolerância – desde que não se visse a lata de cerveja – e um início de conversa informal: donde vínhamos, da relação de Portugal com países africanos… É altura de esclarecer que a origem africana do segurança lhe estava estampada na pele, ao que ele acrescentaria ser libanês de origem e muçulmano de confissão religiosa.

Moral ateia da história: o que o homem queria não era exercer represálias pela transgressão alcoólica e nem mesmo converter-nos ao islamismo; queria conversa apenas. E talvez um pouco de cerveja que entretanto se escoara conforme o que estava destinado por mim, pelas minhas amigas e certamente por Alá.

1.8.16

Terrorismo e religião

A credibilidade é a chave do sucesso da banca… e da religião.

Na estratégia da guerra, mas sobretudo do terrorismo, a legitimidade conferida pela religião para a crueldade, o genocídio, o extermínio, é indispensável lá onde não haja a capacidade de atingir o mesmo através de meios militares e para-militares como tiveram Hitler e Estaline entre outros.

Só a religião tem a capacidade de incutir nos indivíduos o fanatismo necessário para o grau de crueldade que o terrorismo exige. Só a religião oferece uma razão à delinquência. Afinal, como se lê no Alcorão (Sura 8: 13-17), “Não fostes vós quem os matastes; foi Alá"!

Ao invocar motivações ou justificações religiosas, os terroristas levantam o véu que encobre o papel histórico das igrejas. Estas, ameaçadas nos seus negócios, procuram na fusão de iniciativas – tal como a banca – uma estratégia de reforço.

Até que "os lesados" se apercebam da natureza do contrato que fizeram com a religião.