7.12.23

Liberalismo em crise

As análises sociológicas de Karl Marx, que denunciavam a natureza especuladora e opressora do capitalismo, há muito que deixaram de poderem ser polemizadas em qualquer sector da sociedade - são uma evidência, tal como o antagonismo de classes sociais, o conflito insanável entre os possidentes do poder económico e os seus dependentes.

Uma evidência indisfarçável devido às dimensões escandalosas que atingem, mas também devido à visibilidade que lhes dão os orgãos de informação pública e as redes sociais. A estratégia dos privilegiados já não é esconder, mas inventar explicações bondosas para o fenómeno - a necessidade de refrear a justiça social, a favor do "desenvolvimento económico" de que resultariam benefícios... futuros para todos!!!

Assim, os estados liberais caminham actualmente para o abismo e não conseguem parar a revolta das populações, seja por meios violentos, seja por meios pacíficos. É assim que, na via legal de expressão deste descontentamento, os "partidos moderados" vão cedendo terreno aos "partidos radicais" como se pode aferir nos resultados eleitorais e na consequente instabilidade dos governos.

13.8.23

Porque hoje é domingo (136)

No lema que definiu para as JMJ em 2023, o Papa escolheu de Lucas 1 o versículo 39: “E, naqueles dias, levantando-se Maria, foi apressada”. Que pena não ter escolhido o versículo 52: Deus “depôs dos tronos os poderosos e elevou os humildes”. Se mais não fosse, seria uma ideia mais compreensível. E franciscana.

Quanto ao milagre a que se refere este episódio, é “estranho” que oculte o facto de sua prima Isabel, aquela que Maria foi visitar apressadamente, também fosse objecto de igual milagre do nascimento de um filho “não concebido” por homem.

Diga-se de passagem que o principal suspeito, em ambos os casos!, é um tal Gabriel. Coincidências!

4.8.23

A histeria das massas e dos mass-media

(Imagem do site oficial JMJ Lisboa 2023 / Franciscanos)

Vem de longe a consciência de que a colectividade é uma realidade distinta dos indivíduos e da sua mera soma.
Freud assinala, na psicologia de massas, duas características típicas: o sentimento de desresponsabilização individual – se tantos fazem, eu também posso ou devo fazer– e o seguidismo – a obediência a um líder cujo carisma legitima o comportamento colectivo. A irracionalidade do populismo ou da crença religiosa, por exemplo, encontram neste mecanismo psicológico uma grande parte da sua explicação. A demagogia é o seu instrumento promocional – digo eu.

Ortega y Gasset fala da divisão entre duas classes de criaturas: as que exigem muito de si e acumulam sobre si mesmos dificuldades e deveres, e as que não exigem de si nada de especial, pois para elas viver é ser em cada instante o que já são, sem esforço de aperfeiçoamento em si mesmas, bóias que andam à deriva.

De outro ponto de vista, talvez haja uma consciência mais profunda do que pode parecer: a consciência de que “o caminho é melhor do que o destino”, como dizia Cervantes. E, sendo assim, o objectivo anunciado assume uma importância secundária ou é apenas um pretexto para a caminhada. O que é mais exaltante na descoberta da América, é a América ou é a viagem de Colombo?

No contexto da vinda do Papa a Portugal por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, penso que os “peregrinos” estão pouco interessados no Papa e menos ainda em Jesus Cristo do que na peregrinação em si mesma com tudo o que oferece de diversão e convívio. E a própria motivação da Igreja é menos a evangelização do que o recrutamento de aderentes, numa fase da História em que a evolução cultural e informativa das pessoas deixa cada vez menos espaço à irracionalidade e à ignorância, logo, à mensagem religiosa. Resta a seu favor a vantagem de oferecer o conforto psicológico da alienação, a que outros chamaram “o ópio do povo”. O que, no entanto, não é pouco.

14.7.23

Ver o Papa

"Para ver o Papa" - como dizem - haverá quem pague mil euros de estadia. Por muito menos eu vi o Papa e nem foi com essa intenção que fui a Roma. Eu não daria metade, nem q fosse para ver Sophia Loren ou Gina Lollobrigida, à janela, nos seus anos mais papáveis.

2.7.23

Mensagem ao mar

O tempo toma conta das paredes
Empalidecendo as imagens inventadas;
Muros de medo suspendem no além,
As investidas outrora desejadas,
E o furor das águas, no seu vai-não-vem,
Tinge de branco as rosas desmaiadas
Que algum dia foram lábios de alguém.

Resta a memória viva dos instantes
Em que nos prometemos futuros amantes