29.5.14

Campeonato político no Brasil

Muito se tem dito sobre o risco de o Brasil não estar preparado a tempo para a fase final do Campeonato do Mundo de Futebol que está previsto decorrer em doze cidades, no próximo Verão. A confirmar-se este vaticínio, seria um desastre para o prestígio do país e uma tragédia para o seu governo.

Face às manifestações contra o evento, em nome de investir na eliminação da pobreza os custos associados à realização do campeonato, há que distinguir as reacções violentas com objectivos políticos, de outras, pacíficas e genuinamente sociais.


Por outro lado, há duas questões que não podem deixar de colocar-se:
1ª) Esses custos são ou não compensados em promoção de emprego e retorno económico?
2ª) Como reagiriam os cidadãos brasileiros se o Governo tivesse recusado a realização do evento no Brasil, fosse em nome do que fosse?

Relevam destes acontecimentos dois fenómenos: o grau de consciência cívica e de capacidade criativa dos cidadãos envolvidos na contestação pacífica, por um lado, e o carácter democrático exemplar da presidente do Brasil, Dilma Rousseff.

“Sou a presidenta de todos os brasileiros, dos que se manifestam e dos que não se manifestam” – disse Dilma, há um ano, no contexto daquelas manifestações.

Há quanto tempo não temos nós um chefe de governo a dizer “É a cidadania, e não o poder económico, quem deve ser ouvido em primeiro lugar”? Há quanto tempo não temos nós um presidente assim – dos portugueses que consentem e dos portugueses que protestam?

ADENDA

Em relação à Copa, quero esclarecer que o dinheiro do governo federal, gasto com as arenas é fruto de financiamento que será devidamente pago pelas empresas e os governos que estão explorando estes estádios. Jamais permitiria que esses recursos saíssem do orçamento público federal, prejudicando setores prioritários como a Saúde e a Educação.
Na realidade, nós ampliamos bastante os gastos com Saúde e Educação, e vamos ampliar cada vez mais. Confio que o Congresso Nacional aprovará o projeto que apresentei para que todos os royalties (proveitos para o Estado) do petróleo, sejam gastos exclusivamente com a Educação.
(Dilma Rousseff, 2013-Jun-21)

28.5.14

O PCP e o Euro

«Do mesmo modo que alertámos para os perigos da adesão ao Euro, no passado, hoje não caímos no erro de defender uma pura e simples saída. Isto porque sair do Euro não significaria voltar à posição em que estávamos antes da adesão e acarretaria, mantendo-se a política de direita nos comandos da política económica, prejuízos para os trabalhadores e o povo».

TEXTO INTEGRAL

[Mesmo assunto, neste blogue]

27.5.14

Análise psicológica das eleições


Na análise dos resultados eleitorais, um elemento determinante que parece estar a ser ignorado é que a função afectiva se sobrepõe à função informativa, nas eleições como em todos os fenómenos de comunicação. Isto é, a imagem dos concorrentes é indispensável à adesão dos eleitores.

As figuras de João Ferreira e Jerónimo de Sousa, sabe-se lá porquê, são pessoalmente simpáticas aos cidadãos sem preconceitos ideológicos, o que faz passar o conteúdo das suas mensagens, para além do mérito das mesmas e da coerência do PCP.

Marinho e Pinto, pela sua pose tipicamente popular, também cria empatia com os eleitores, com a vantagem de ser conotado com a denúncia dos poderosos e de não suscitar alergias ideológicas.

Já o estilo arrogante com que as figuras mediáticas do Bloco se apresentam, não compensado por uma consistência política credível ou por uma simpatia genuína, terá feito mais mossa do que a divisão criada pelo “Livre” de Rui Tavares e pelo MAS de Garcia. 
(João Semedo não entra nestas contas como parece não ter entrado na campanha).

Quanto ao estilo “abstenção violenta” de António José Seguro, em que a veemência do discurso morre na boca inexpressiva e na prática ziguezagueante, afasta mais eleitores descontentes do que as medidas agressivas do Governo.

Resto eu, mas não sou candidato. Oppps!

26.5.14

À consideração do Presidente

Se umas eleições legislativas antecipadas registassem um resultado igual ao que foi apurado nas actuais europeias, estaria instalado um desafio à Esquerda-lacto-senso... e a Cavaco Silva:

PS (31,5%) + CDU (12,7%) + BE (4,6%) + MPT (7,2%) = 56%


Pense nisso, professor. Pense nisso!

24.5.14

Vote. Ou cale-se para sempre!


Porque hoje é dia de reflexão, aqui fica a minha contribuição.

Pelo direito ao voto livre, democrático, o general Humberto Delgado sacrificou a vida – ele que vinha das hostes da ditadura salazarista. Pelo direito ao voto e à democracia, milhões de homens, ao longo da História, sacrificaram carreiras profissionais, sacrificaram a harmonia familiar, sacrificaram a sua liberdade individual, sujeitaram-se à clandestinidade e à prisão, à tortura, à morte.

Se mais não fosse, por estas razões, nenhum homem, nenhuma mulher tem o direito moral de desprezar as eleições.

Outra coisa é manifestar o seu protesto contra a organização ou o funcionamento do Estado, contra a incompetência ou a hipocrisia ou a crueldade dos políticos, mesmo que entenda generalizar esse juízo. Que para isso tem o voto em branco ou o voto nulo.

O voto em forças minoritárias que representam uma oposição clara e radical aos partidos mais fortes, seria outra forma de protesto.

Mas abster-se arrogantemente, não revela inteligência nem autoridade moral. Pelo contrário, revela desprezo pelo regime democrático ganho com o sangue dos seus antecessores; contribui, objectivamente, para a restauração de regimes autoritários. Triste ideia de superioridade.

Futuramente, quando as decisões fiscais, laborais, económicas, sociais ou políticas voltarem para atormentar a sua vida ou a sua consciência, não se queixe, cale-se. E cale-se para sempre!

22.5.14

Renovadores e outros senhores

Vital Moreira é um caso exemplar… do que acontece a militantes destacados do PCP que saltam para os braços do PS: depois de atirados ao ar como heróis, são deixados cair como suspeitos

Que alguns caiam num colchão de penas, como Joaquim Pina Moura, ou demorem a cair, como José Magalhães, são já questões de pormenor que se prendem com o preço da indemnização ou a dureza dos ossos dos cadáveres políticos.

Preparem-se pois, “renovadores”, agora que escolheram dar o braço ao PS para as eleições europeias e “para um governo novo, tão necessário, lá mais à frente”. Tanto mais que o Paulo Fidalgo (presidente da Renovação Comunista) não tem o prestígio político de nenhum dos atrás nomeados, e o próprio Carlos Brito nem sequer está em condições “de se deslocar do interior profundo onde vive”.

Até nunca, camaradas!

19.5.14

Teletroika

O Governo aplaude, a maioria PSD/CDS aplaude e os mercados (onde estão muitos membros do Governo e da maioria!) também aplaudem a partida da troika para… o controlo remoto.

No rasto da intervenção presencial do FMI e da União Europeia, ficam os impostos, os cortes nos salários e reformas, o desemprego e a destruição dos instrumentos económicos necessários à recuperação – o chamado aparelho produtivo.


E que futuro? A mesma política. A mesma lógica da crueldade para os reformados e trabalhadores; dos “incentivos” para os capitalizadores. Não são os discursos, as entrevistas, os comentários que governam; são as leis.

O Governo português finge que celebra o sucesso de uma política que afinal “não é a sua”, se tivermos em conta “que lhe foi imposta” como gostam de afirmar, mas prossegue a mesma.

Tão falso como o Governo, só a União Europeia cujas políticas comprometem definitivamente o seu alegado papel solidário e salvífico – ela instalou uma guerra fria entre o norte e o sul do continente, comandada pela arrogância alemã; ela confirmou que os interesses dos especuladores financeiros são incompatíveis com os interesses dos trabalhadores, e colocou-se às ordens dos primeiros.

Até que ponto a percepção dominante desta realidade é contaminada pela desinformação dominante, é o que vamos perceber no dia 25 de Maio.

9.5.14

Vamos eleger o quê?


Escolhemos o quê, nas eleições europeias? Ao longo dos cinquenta anos da União Europeia, o que decidiram os cidadãos sobre o seu rumo e as suas políticas?


Tudo é negociado e decidido pelos políticos e nem sequer pelos políticos que elegemos, como se torna evidente na crise actual. Quem decide são os “representantes” das economias mais ricas. No caso presente, é a Alemanha e os países mais desenvolvidos do norte, cada um segundo o seu poder económico.

É a isto que chamam “os interesses comunitários”.


exemplo
Em 2005, quando a EU apresentou aos cidadãos de cada país uma proposta de Constituição Europeia, o que aconteceu? Como os cidadãos não aprovaram o tratado para a Constituição, os dirigentes da “União” mudaram o nome ao documento e aprovaram-no sem consulta popular. Chamaram-lhe então Tratado Reformador – vulgarmente designado Tratado de Lisboa.

Não será por acaso que a Constituição Alemã proíbe qualquer referendo! Nem terá sido por coincidência que a resolução do problema criado pela consulta popular – digamos assim! - tenha sido confiado… à Alemanha.

A aprovação de muitas matérias que carecia da unanimidade dos estados-membros, passou a precisar apenas de uma “maioria qualificada”!

Assim vai a inquestionável “União” Europeia… e o circo eleitoral. Não admira que ela tenha gerado o Euro que gerou o empobrecimento dos estados mais frágeis. Afinal, como terá dito Jesus Cristo que não era europeu, «pelos frutos os conhecereis».

opção
Entre o voto em branco e o voto na Esquerda exterior ao “arco do poder”, uma coisa é certa: os tratantes do costume deverão lidar com o voto de protesto.

5.5.14

Os Aloés andam aí

Nunca viu os Aloés?
Então veja!

Não é a minha amizade ao José Peixoto, à Elsa Valentim e ao Jorge Silva que me faz falar. É a sensação que me deixam ao longo de anos a vê-los cultivar teatro da melhor qualidade, neste deserto cultural em que nascemos para ir morrendo na aridez dos consensos, sepultados pela areia das demagogias.

Os Aloés cultivam a elevação do espírito e a compreensão do humano, envolvendo-nos numa atmosfera onírica e poética mas onde se movem personagens autênticos moldados pelos corpos dos actores – pessoas que nós vemos e nos vêem.

Eles andam aí, agora no Porto. De quarta a domingo, no Teatro S. João.

Para os espectadores mais avisados, é uma verdadeira lição de teatro. Para o público em geral, uma verdadeira sensação de teatro.

3.5.14

Observando os observatórios

Além das Fundações, temos os Observatórios...



1) Observatório do medicamentos e dos produtos da saúde
2) Observatório nacional de saúde
3) Observatório português dos sistemas de saúde
4) Observatório da doença e morbilidade
 
5) Observatório vida
6) Observatório do ordenamento do território
7) Observatório do comércio
8) Observatório da imigração
9) Observatório para os assuntos da família
10) Observatório permanente da juventude
11) Observatório nacional da droga e toxicodependência
12) Observatório europeu da droga e toxicodependência
13) Observatório geopolítico das drogas
 
14) Observatório do ambiente
15) Observatório das ciências e tecnologias
16) Observatório do turismo
17) Observatório para a igualdade de oportunidades
18) Observatório da imprensa
19) Observatório das ciências e do ensino superior
20) Observatório dos estudantes do ensino superior
21) Observatório da comunicação
22) Observatório das actividades culturais
23) Observatório local da Guarda

24) Observatório de inserção profissional
25) Observatório do emprego e formação profissional

26) Observatório nacional dos recursos humanos
27) Observatório regional de Leiria

28) Observatório sub-regional da Batalha 
29) Observatório permanente do ensino secundário
30) Observatório permanente da justiça
31) Observatório estatístico de Oeiras
 
32) Observatório da criação de empresas
33) Observatório do emprego em Portugal 

34) Observatório português para o desemprego 
35) Observatório Mcom
36) Observatório têxtil
37) Observatório da neologia do português
 
38) Observatório de segurança
39) Observatório do desenvolvimento do Alentejo

40) Observatório de cheias
41) Observatório das secas
42) Observatório da sociedade de informação
43) Observatório da inovação e conhecimento
44) Observatório da qualidade dos serviços de informação e conhecimento

45) Observatório das regiões em reestruturação
46) Observatório das artes e tradições
47) Observatório de festas e património
48) Observatório dos apoios educativos
49) Observatório da globalização
50) Observatório do endividamento dos consumidores
 
51) Observatório do sul Europeu
52) Observatório europeu das relações profissionais
53) Observatório transfronteiriço Espanha-Portugal 
 
54) Observatório europeu do racismo e xenofobia
55) Observatório para as crenças religiosas 

56) Observatório dos territórios rurais
57) Observatório dos mercados agrícolas
58) Observatório dos mercados rurais

59) Observatório virtual da astrofísica
60) Observatório nacional dos sistemas multimunicipais e municipais 
61) Observatório da segurança rodoviária
62) Observatório das prisões portuguesas
63) Observatório nacional dos diabetes
64) Observatório de políticas de educação e de contextos educativos
65) Observatório ibérico do acompanhamento do problema da degradação dos povoamentos de sobreiro e azinheira
 
66) Observatório estatístico
67) Observatório dos tarifários e das telecomunicações
 
68) Observatório da natureza
69) Observatório da qualidade

70) Observatório quantidade 
71) Observatório da literatura e da literacia
72) Observatório nacional para o analfabetismo e iliteracia
73) Observatório da inteligência económica

74) Observatório para a integração de pessoas com deficiência
75) Observatório da competitividade e qualidade de vida
76) Observatório nacional das profissões de desporto
77) Observatório das ciências do 1º ciclo
78) Observatório das ciências do 2º ciclo

79) Observatório nacional da dança
80) Observatório da língua portuguesa
81) Observatório de entradas na vida activa
82) Observatório europeu do sul
83) Observatório de biologia e sociedade
84) Observatório sobre o racismo e intolerância
85) Observatório permanente das organizações escolares
86) Observatório médico
87) Observatório solar e heliosférico
88) Observatório do sistema de aviação civil

89) Observatório da cidadania
90) Observatório da segurança nas profissões
91) Observatório da comunicação local

92) Observatório jornalismo electrónico e multimédia
93) Observatório urbano do eixo atlântico

94) Observatório robótico
95) Observatório permanente da segurança do Porto
 
96) Observatório do fogo 
97) Observatório da comunicação (Obercom)
98) Observatório da qualidade do ar
 
99) Observatório do centro de pensamento de política internacional
100) Observatório ambiental de teledetecção atmosférica e comunicações aeroespaciais
 
101) Observatório europeu das PME
102) Observatório da restauração
103) Observatório de Timor Leste
104) Observatório de reumatologia
105) Observatório da censura
106) Observatório do design
107) Observatório da economia mundial
108) Observatório do mercado de arroz
109) Observatório da DGV
110) Observatório de neologismos do português europeu
111) Observatório para a educação sexual
112) Observatório para a reabilitação urbana
113) Observatório para a gestão de áreas protegidas
114) Observatório europeu da sismologia

115) Observatório nacional das doenças reumáticas
116) Observatório da caça
117) Observatório da habitação
118) Observatório Alzheimer
119) Observatório magnético de Coimbra


Perguntas:
- O que é que toda esta gente observa realmente?
- Que utilidade têm na prática?
- Quem paga?

1.5.14

Os inventores da "austeridade"

Em Maio de 1981, em menos de uma hora, Guy Abeille, então alto responsável da Direcção do Orçamento da França, inventou a infame relação dos 3% entre o défice e o PIB da UE.

"Mitterrand queria uma regra, nós demos-lhe. Não pensávamos que ela fosse perdurar para além de 1981".
...
"Precisamos algo simples", disse ele. Escolheram o produto interno bruto, PIB, "porque na economia toda a gente refere-se ao PIB".

Um número redondo para o défice? Eles consideraram um rácio do défice em relação ao PIB de 1%. Mas "este número foi eliminado pois era impossível de atingir. Os 2% então? Isto também nos colocava sob pressão". Os 3%? "Isto era um bom número, um número que atravessou todas as eras, que recordava a Trindade". Assim, eles foram para os 3%.

E nasceu assim o festival da austeridade europeia.

Excertos de um texto publicado em resistir.info

Seguem dois quadros adaptados a partir da PORDATA, que podem ser ampliados por pressão sobre os mesmos.


Desde que a troika chegou a Portugal, a dívida pública do país aumentou 35%. Comparando o valor da dívida com as previsões da troika, há um "desvio colossal" superior a 60%.