28.10.18

Porque hoje é domingo 98

Neste domingo em que o Brasil caminha de olhos fechados para o precipício, e a Igreja invoca o episódio em que Jesus dá vista a um cego (Marcos 10:46-52), muitos brasileiros gostariam de pedir ao Mestre que lhes desse a lucidez de que precisam para votar na eleição presidencial. 

Mas lá onde não há Mestre que os dispense de curarem-se, a si próprios, acorrerão as vozes da vingança irracional e, em seu apoio, vozes de jornalistas e outros comunicadores informais – jornais, televisões,“redes sociais” da internet e do boca-a-boca.

É assim, ao que se percebe, que está formada a opinião maioritária. É assim que muitos vão votar sem fé nem lucidez.

Não admira que muito em breve os cidadãos do Brasil gritem, como o cego de Jericó, “Filho de Davi, tem misericórdia de mim”.

27.10.18

Apesar de Bolsonaro



Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai se dar mal
Etc. e tal
Lá lá lá lá laiá

18.10.18

Carta aberta ao Ricardo



Estimado Ricardo Araújo Pereira:

Comprei o seu livro “Estar Vivo Aleija” - que não deixa de ser seu apesar de eu o ter comprado. Não comprei para mim, foi para oferecer a alguém que não tem paciência para ler obras mais sofisticadas. Mas como os livros, ao contrário da fruta e dos robalos, podem ser consumidos antes de dá-los, fui lendo aquelas tretas com o mesmo prazer, ou quase, com que li, há muitos anos, “Esta Pressa de Agora” de António Lopes Ribeiro, também neste caso uma compilação de crónicas de jornal (ideologias à parte).

“Serve a presente” – como se escrevia no tempo deste falecido cineasta – para o informar – a si e não ao falecido – que talvez por ter sido criado por uma avó você descobriu desde muito cedo uma coisa que vulgarmente descobrimos nós, os velhos, ao fim de muitos anos de erráticas reflexões sobre o sentido da vida: que a vida não faz sentido ou, citando o nome de um filme cubano, “La vida es silbar”. 

15.10.18

O tufão de S. Bento

Neste fim-de-semana o furacão Leslie passou por S. Bento – Bento e não vento, seus murcões! Depois de ter arrasado um café na Foz do Douro e dezenas de casas em Coimbra, e de ter destruído 200 linhas de alta/média tensão, ainda provocou a queda de muitas árvores e de quatro ministros. Razão tinha Karl Marx em relacionar os fenómenos políticos com os naturais, ao que se vê.

Solidário, por regra, com os ministros que nomeia, é bem possível que António Costa se tenha visto confrontado com divergências insanáveis entre o Orçamento de Estado... de Mário Centeno e as pretensões dos três ministros agora exonerados. Não será indiferente que o Primeiro-Ministro justificasse a remodelação por razões de uma "dinâmica renovada", com "reforço da política económica"... blá blá blá.

O caso do Ministro da Defesa Nacional pode ser explicado para evitar desgaste do Governo e não, como ele afirmou, o “desgaste das Forças Armadas”. Mas sobretudo para evitar o desgaste pessoal do próprio Azeredo Lopes – digo eu. Fez bem, sr. doutor, que cada um é pr'ó que nasce.