30.1.17

Os milagres de Lúcia

Chamo milagres à ocorrência de fenómenos que escapam à explicação humana desde a mais comum até à científica. Não só que escapam como contradizem o que temos por lógico e adquirido. Afinal, onde está a lógica ou a explicação para a existência da vida e do universo?

Mas também não sou indiferente às evidências.

A ressurreição de Lázaro e de outros santos – por assim dizer – com destaque para Jesus,é muito duvidosa à luz da investigação histórica actual. Então a ascensão “aos céus” até “de corpo e alma”, é de uma infantilidade que nem no catecismo infantil devia ser mencionada.

O que se tem visto dos “milagres” certificados pela Igreja Católica, é que a sua divulgação cumpre uma função utilitária: alimentar o mito de Jesus e do politeísmo, disfarçado este do culto a Maria e todos os “santos”.

Aproveitando e fomentando a popularidade de Fátima, a Igreja deu início à beatificação da “irmã” Lúcia, em Fevereiro de 2008. Eram passados apenas três anos da morte dela, pelo que foi preciso Bento XVI abrir uma excepção às próprias normas do "Direito Canônico". Motivos urgentes…

Entretanto, para lhe atribuir aquele título a quatro meses da vinda do papa Francisco, a Igreja não perde tempo, uma vez mais, e trata de anunciar que «a Sessão de Clausura do Inquérito Diocesano do Processo de Beatificação e Canonização da Serva de Deus Lúcia de Jesus terá lugar no dia 13 de fevereiro de 2017».

Para nossa frustração, nada de novo será revelado. «Todo o material recolhido será entregue na Congregação das Causas dos Santos, em Roma, que dará o “adequado seguimento”, de acordo com as normas estabelecidas pela Igreja».

Intrigante esta história, não acham? Afinal é mais fácil admitir um milagre do que admitir o óbvio: que o processo de Fátima é uma grande fraude!

“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas!” (Mateus 23 13-15).

28.1.17

Rituais populistas

Habituei-me a ver o presidente da Venezuela, Hugo Chavez, e mais tarde Nicolás Maduro, assinarem as suas leis com transmissão directa na televisão. A atitude e até o estilo de Donald Trump copiam-nos de forma descarada até ao pormenor, mutatis mutandis.

Serão rituais populistas ou simplesmente americanos?

23.1.17

Concertação e representação

Uma questão que se tem colocado a propósito da redução da TSU, é saber do valor que têm ou não têm os acordos firmados na “Concertação Social”, sendo que as conclusões daquele orgão não têm nunca um carácter deliberativo – eles apreciam, opinam e propõem mas não decidem nem mesmo nas matérias em que a consulta prévia é obrigatória.

A “Concertação Social” está a cargo do Conselho Económico e Social (CES) e da Comissão Permanente de Concertação Social (CPCS), orgão autónomo em relação à CES. Aqui para nós, a distinção prática entre as duas instituições, não é fácil…!
O assunto remete para o grande e eterno tema da representação social e política, da democracia representativa, da legitimidade dos representantes eleitos e – pasme-se ao que chegamos – do mandato de Donald Trump!!!

O que compete a um representante eleito: representar a vontade subjectiva dos seus eleitores ou representar os interesses deles – admitindo que todos eles tenham os mesmos interesses...?

Aparentemente e porque se aproxima mais da democracia directa, a primeira versão será a mais adequada: o eleito como simples porta-voz dos eleitores. Mas na realidade as matérias em apreciação (p. e. TSU) são mais complexas do que escolher entre um aumento ou não do salário mínimo, por exemplo, e aí é forçoso que o representante tome uma decisão à luz da sua própria razão e interpretação de interesses.

Neste sentido cabe, nomeadamente, saber se um objectivo de longo prazo – como derrubar um governo indesejado – é ou não mais importante do que um objectivo imediato – como compensar os seus representados, da subida do salário mínimo.

Chegamos assim a um factor ainda não considerado no critério de representação: o interesse geral. Isto é: a eleição para um orgão de poder carrega não só uma responsabilidade perante os seus eleitores com seus interesses parciais, mas também uma responsabilidade perante toda a comunidade, a qual decorre de partilhar o poder geral.

Este problema vai-se colocar no dia 23 aos deputados do PS especialmente. É que não basta reconhecer “a coerência do BE, do PCP e do PAV” mas confrontar-se com os seus argumentos.

20.1.17

Irrevogável TSU

O PSD afirma que vai estar ao lado da Esquerda no chumbo à medida do Governo para reduzir a Taxa Social Única (TSU) paga pelos patrões. Mas pode haver uma grande surpresa – digo eu.

Pode acontecer que o PSD, dizendo concordar com a iniciativa do Bloco, discorde “dos termos” da proposta, dos considerandos, razão que invocaria para não a aprovar.

Assim sendo, e para não parecer que o PSD apoia de forma envergonhada a iniciativa do Governo, pode o partido de Passos Coelho apresentar uma proposta alternativa à do Bloco de Esquerda, em termos tais que este, por sua vez, fique inibido de concordar com a alternativa.

Com esta última solução, Passos Coelho lavaria as mãos como Pilatos, e faria vingar a redução da TSU que hipocritamente contesta.

O que se espera é que a Esquerda “saiba escrever” o texto adequado a estas circunstâncias. E que o PSD não mude a sua posição “irrevogável”. Pelo sim, pelo não, o CDS já anunciou que irá abster-se…

18.1.17

Trump que se cuide

Quatro presidentes dos Estados Unidos da América foram assassinados. Lincoln foi vítima de um movimento independentista dos estados do sul; James Garfield foi baleado por um advogado a quem o presidente faltou com uma promessa de emprego; William McKinley foi vítima de um anarquista isolado em nome “da boa gente, dos bons trabalhadores”; John Kennedy terá sido alvejado por um louco – segundo a versão oficial…

Conclusão: os inimigos mais perigosos dos presidentes norte-americanos…, são norte-americanos.

Quando Donald Trump souber disto, vai expulsar do país os seus compatriotas e trocá-los por imigrantes.

15.1.17

Porque hoje é domingo (84)

Porque hoje é o segundo domingo do Tempo Comum, na agenda da Igreja Católica, invoca-se João Baptista. Ele que foi ou não primo de Jesus; ele que era ou não mais velho seis meses do que este; ele que perdeu a cabeça ou tão só a banda que usava à volta da cabeça - conforme o tradutor para "kephalë" - por capricho de uma tal Salomé; ele que terá baptizado Jesus ali para os lados da Jordânia que há perto de um mês sofreu um ataque, terrorista ou não…

Mas de nada disto falarão os profissionais da Igreja nas suas homilias. Pegarão no tema do baptismo para dizer que João Baptista anunciou a sua chegada – lá de onde andou fugido de casa ou não, para aprender a ser Deus.

Invocando uma profecia das antigas escrituras, outras seitas anunciaram a chegada do Salvador, antes e depois de João, pelo que não faltou quem duvidasse de Jesus e quem o acusasse de impostor, mas João Baptista teve o empenho, o mérito ou a sorte de ver o seu familiar singrar no partido, mal podendo adivinhar, talvez, quão dramática e frustrante veio a ser a morte do seu Messias.

Já a Igreja Católica não tem razões de queixa, a avaliar pelo poder temporal que exerceu e exerce no mundo. Mas deste assunto não tratarão as homilias deste dia, que o marketing do Vaticano sabe como cortar a cabeça aos fiéis, isto é, destitui-los de saber e de pensar.

11.1.17

Isto é dialéctica

O BE, o PCP e a CGTP estão "domesticados" pelo PS, como alguns dizem, ou é o PS que está prisioneiro daqueles? Está-se mesmo a ver que são ambas as coisas naquilo a se chama uma relação dialéctica - uma relação construtiva, no caso.

8.1.17

Porque hoje é domingo (83)

Seria difícil pregar alguma coisa sobre o tema católico deste domingo, sem repetir muito do que já escrevi em Paradoxos Cristãos, nomeadamente sobre a frustração do povo judaico relativamente à missão de Jesus: libertar a Palestina da dominação romana.

Em vez de liderar a revolta de libertação, de espada em riste, o “Salvador” quis afastar-se da política, atribuindo “a Deus o que é de Deus e a César o que é de César” – o que deixou muitos judeus indignados, outros admirados e o próprio César muito satisfeito certamente.

Durante várias semanas, esta frase foi capa de jornais e tema de discussão na rádio e na televisão, com muitos comentadores, analistas e politólogos debruçados sobre a resposta genial, disseram uns, ou a resposta habilidosa, outros disseram.

É claro que o Presidente dos Afectos e o Ministro da Geringonça fizeram oportunas declarações, assim como os diferentes partidos com assento no templo parlamentar.

E para que eu próprio não ficasse de fora desta vez, é que escrevi o que aqui fica registado.

3.1.17

Terrorismo militar e financeiro

A luta contra o financiamento do terrorismo está intimamente ligada com o combate à lavagem de dinheiro, já que as técnicas utilizadas para lavar o dinheiro são essencialmente as mesmas utilizadas para ocultar a origem e o destino final do financiamento terrorista, para que assim as fontes continuem a enviar dinheiro sem serem identificadas.

Normalmente essas transacções financeiras ocorrem diversas vezes, sempre transferindo pequenas quantidades de dinheiro, que irão passar por diferentes contas bancárias, abertas em "paraísos fiscais" para dificultar o trabalho das autoridades e também para proteger a identidade de seus patrocinadores e dos beneficiários finais dos fundos.

Segundo o jornal Al-Araby al-Jadeed, todos os integrantes do Estado Islâmico recebem algum tipo de apoio financeiro. Por exemplo, um combatente comum ganha de 500 a 600 dólares por mês. Além disso, o EI também tem apoiado programas de caridade para beneficiar órfãos, viúvas e feridos simpáticos a sua causa. Ainda segundo o jornal, o grupo terrorista possui, em 2015, um orçamento de pelo menos dois bilhões de dólares.

( Excerto de um artigo do politze.com.br )