Entre os que defendem ou consentem o regime autoritário e os que reclamam liberdade política e democracia, Cuba divide-se cada vez mais.
Pesa de um lado o papel histórico da revolução de 1959 e o odioso do inimigo norte-americano com as suas tentativas de interferir violenta e economicamente na vida interna do país, por razões ideológicas; pesa do outro lado a traição que o próprio regime exerce contra os seus proclamados ideais libertadores, impondo o autoritarismo, a censura e a repressão políticas e também a incapacidade para implementar soluções económicas adequadas.
No recrudescimento deste conflito reprimido, as novas tecnologias de comunicação abrem uma brecha parcialmente incontrolável no silêncio imposto - os cubanos retidos e os exilados usam agora a internet e as mensagens via telemóvel, os blogues, o facebook e o twitter. Os que podem e na medida em que podem.
Apesar de tudo, porém, nada se compara à força afectiva da canção. Nós, os portugueses, sabemos quanto nos inspiraram e ainda inspiram as vozes de Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira, José Mário Branco e Sérgio Godinho, Jorge Letria, Fanhais, Cília, Samuel... E quanto desprezámos - os poucos que assumiam o lado da "desordem" - nomes consagrados no altar do conformismo e que a História se encarrega de esquecer.
“A cantiga é uma arma”, por isso os cubanos vão tentando arrumar entre os seus cantores, os amigos e os “inimigos”. E neste contexto vamos assistindo a fenómenos dramáticos para o nosso imaginário, como aquele que separa Sílvio Rodriguez e Pablo Milanés, esses dois magos da canção que o continuam sendo, juntos ou separados.
Mais triste do que esta diferença, só mesmo a divergência entre o Fidel das últimas décadas e o revolucionário de 1959. Ou é tudo o mesmo assunto?
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