18.2.12

Deslocalização geo-trágica

RTP. “Radiotelevisão Portuguesa” - para que não haja dúvidas. Creio que já falei da forma imbecil como foi tratado o Fernando Pessa antes de sair da empresa apesar de todos os louvores públicos: um dia chegou à Redacção e tinha a secretária encostada a uma parede como se encosta um caixote de lixo.

Não vou falar agora do "open-space" no 5º andar da 5 de Outubro, a que eu chamava o espaço dos sem-abrigo. Apesar de ter que levar com o D.O. a pavonear-se pelo salão, de telemóvel na mão para que toda a gente o visse e ouvisse, foi meu privilégio partilhar aquela feira da ladra com figuras gratas como o discreto Joaquim Furtado a falar baixinho pelo telefone fixo (o telefone e ele) com testemunhas e autoridades ligadas ao seu documentário sobre a guerra colonial, ou o inigualável Carlos Santos Pereira, sempre justo nas suas desbragadas críticas às autoridades pardas.

RTP. Administrações do bloco… central PSD/PS. Estava em curso o “saneamento” de trabalhadores do Lumiar. Já não eram critérios ideológicos como pode ter sido o meu caso uns tempos antes. Agora bastava que não satisfizessem o gosto de algumas chefias de direito ou de facto. Agora bastava que fossem um obstáculo aos carreiristas políticos e aos… (Ok, a partir daqui corro o risco de não haver provas, quando muito testemunhas amedrontadas).
Eu via-os chegar, via-as chegar, condenadas a passar oito horas por dia numa sala mais ou menos deprimente a esvaziar dossiers, resmas de papéis inúteis, para… tirar os agrafes! Eram profissionais dos mais competentes até então em funções operacionais raras. Os seus nomes constavam e constam de muitas fichas técnicas de programas exigentes de televisão. (Por aqui me fico para não correr o risco de prejudicar ainda mais alguns deles que possam continuar a trabalhar na empresa).

Depois fui ouvindo de trabalhadores de outras empresas, como isto era um método que se praticava na "gestão de pessoal" em muitos outros locais.

Mas o que eu queria dizer é que sei bem o que são “deslocalizações voluntárias” e “rescisões amigáveis”, reestruturações e flexibilizações. Era só isso que eu queria dizer.

NOTA: Dêmos de barato o pleonasma em curso, "deslocalização geográfica".

2 comentários:

Alf disse...

Disseste bem; excepto «inigualável».
Lamentável, triste, negativa esta generalizada realidade.
Também sei o que é ser despedido (em 1987), depois do "chefe" ter recebido 15000 contos (fundos da CEE) para fazer acções de formação qur nunca aconteceram: foi logo comprar um carro para ele; o resto investiu na Bolsa, pouco antes do crash... como perdeu grande parte, pôs-se a despedir empregados... mas os bandalhos da ASAE ou similares não investigam estoutros bandalhos, bandidos.

antónio m p disse...

AlF, obrigado pela correcção que já contemplei no texto, e sobretudo pelo testemunho.