26.12.21

Somos mais porcos do que deuses

A arrogância do ser humano impede-o de se ver tal como é. Desde logo inibe-o de reconhecer a sua natureza predominantemente irracional. O seu comportamento, porém, denuncia-o e de forma exuberante: desde as peregrinações religiosas até às concentrações “desportivas” e à fidelidade partidária ou ao fervor patriótico. Mas também, a cada passo, a cada gesto, nos sentimentos de ódio e de paixão, na reacção raivosa e no fascínio pelo belo – na verdade, em todos os sentimentos.

Neste imenso domínio do ser humano, a irracionalidade ultrapassa e esmaga a componente racional do Homem. Muito mais nos parecemos com os porcos que existem do que com os deuses que imaginamos.

Não digo estas coisas para que nos humilhemos, como fazem os religiosos. Digo isto para que nos libertemos das algemas que nos furtam ao direito de aceitar a realidade, de nos conciliarmos com nós mesmos, de nos satisfazermos sem remorso. Aproveitando a dimensão racional, sem dúvida, mas conciliando-a com a dimensão irracional na circunstância da unidade de que somos feitos.

Esta tese suscita algum desenvolvimento teórico em diferentes campos da ciência: da antropologia à psicologia, nomeadamente.

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