 Em Lisboa, eu frequentara com assiduidade o restaurante R., no Bairro Alto. Daí que o meu amigo A. com quem me encontrava ali muitas vezes, perguntasse ao dono, por mim. Vim a saber que o dono lhe respondera que eu deixara de frequentar o restaurante porque me tinha mudado para o Porto. Era mentira, mas ao comerciante não interessava revelar que eu me havia zangado por causa de uma factura inflaccionada e outros problemas do género.
Em Lisboa, eu frequentara com assiduidade o restaurante R., no Bairro Alto. Daí que o meu amigo A. com quem me encontrava ali muitas vezes, perguntasse ao dono, por mim. Vim a saber que o dono lhe respondera que eu deixara de frequentar o restaurante porque me tinha mudado para o Porto. Era mentira, mas ao comerciante não interessava revelar que eu me havia zangado por causa de uma factura inflaccionada e outros problemas do género. Pela mesma altura, um camarada meu perguntava por mim no Centro de Trabalho do PCP, estranhando que eu não tivesse actividade política, havia meses. Acontece que a explicação do “responsável” foi exactamente a mesma do comerciante: que eu me tinha mudado para o Porto. Escondia assim o meu conflito com o partido e as razões do mesmo – não fosse o assunto merecer alguma reflexão.
Pela mesma altura, um camarada meu perguntava por mim no Centro de Trabalho do PCP, estranhando que eu não tivesse actividade política, havia meses. Acontece que a explicação do “responsável” foi exactamente a mesma do comerciante: que eu me tinha mudado para o Porto. Escondia assim o meu conflito com o partido e as razões do mesmo – não fosse o assunto merecer alguma reflexão.Na verdade, ambos sabiam que eu projectava ir viver para o Porto mas também sabiam que eu não tinha mudado ainda, nem estava certo de o concretizar e de quando o faria. Isso veio a realizar-se anos mais tarde! Ambos mentiam, portanto, e ambos inventaram a mesma explicação convincente para salvar as aparências.
Não devo admirar-me que tantos como eu sejam traídos pelas costas com infâmias de todo o género. Espantoso é que ex-dirigentes de grande dimensão política e humana que defendem com dignidade a sua independência política, continuem a ser referidos pelos ocupantes da instituição partidária com o desprezo e a injúria mais abjectas. São aqueles os guardiões da “sociedade fraterna”. É com este hálito de ódios fraticidas que pronunciam a palavra “camarada”.
 Álvaro Cunhal pode ter cometido muitos erros, pode ter feito demasiadas cedências à estratégia externa e interna, mas não o vejo a partilhar destas mentalidades. Tenho até razões para julgá-lo vítima delas, no silêncio das “paredes de vidro”.
Álvaro Cunhal pode ter cometido muitos erros, pode ter feito demasiadas cedências à estratégia externa e interna, mas não o vejo a partilhar destas mentalidades. Tenho até razões para julgá-lo vítima delas, no silêncio das “paredes de vidro”. 
 
 
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