3.2.12

Vai uma bala, amigo?

O recém-empossado presidente do Centro Cultural de Belém (CCB), Vasco Graça Moura, fez distribuir ontem à tarde uma circular interna, na qual dá instruções aos serviços do CCB para não aplicarem o Acordo Ortográfico e para que os conversores – ferramenta informática que adapta os textos ao Acordo Ortográfico – sejam desinstalados de todos os computadores da instituição.


A propósito e em homenagem sincera à decisão de Vasco Graça Moura, conto um episódio relacionado com as diferenças entre o português de Portugal e o português do Brasil.

A amiga Paula Oliveira, brasileira, professora na Universidade de S. Paulo, estava em Lisboa com uma amiga para fazerem um “pós-doc”. O  trabalho da Paula era sobre Filosofia com Crianças e o trabalho da outra amiga estava relacionado com educação para crianças em espaços problemáticos.

À parte da amizade, nada me ligava a elas pelo que a minha colaboração para o pós-doutoramento se limitava a orientá-las nas ruas de Lisboa e a trocar dicas sobre as diferenças de vocabulário entre o Brasil e Portugal. Foi assim que aprendi que sumo é “suco”, chávena é “xícara”, caixa é “boceta e rebuçado é “bala”. Que cueca é “calcinha” já eu sabia das telenovelas, ?

No âmbito do seu trabalho, elas quiseram participar numa actividade que estava a ser desenvolvida com crianças no bairro da Cova da Moura, conhecido sobretudo por ser um espaço problemático onde a droga circula com mais facilidade do que as pessoas, segundo consta.

Acompanhei-as de táxi. Os motoristas não aceitam geralmente fazer serviços para ali mas nós pedimos que nos deixasse num ponto da estrada que ficava perto. Ainda assim o motorista exprimiu o seu medo, através de maus modos e interjeições ilegíveis. Interjeições e maus-modos que se foram acentuando no percurso. As relações estavam tensas e todos percebemos que o silêncio seria a melhor forma de chegar ao fim da viagem.

 Eis senão quando, saído do silêncio pacificador, a amiga da Paula abre um saquinho de rebuçados e dirige-se ao motorista com esta:
- Você quer bala?

Agora sim, um silêncio sepulcral caiu sobre aquelas quatro almas até o carro parar no ponto combinado, pagarmos e sairmos sem mais “chus nem mus”! Ou “bus”?

Nota final:
Na sequência desta notícia, a Secretaria de Estado da Cultura (SEC), a cargo de Francisco José Viegas, assegurou hoje que aplica o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa em todos os seus organismos.
Suponho que o Francisco J. Viegas terá escrito: "Eu tô nem aí"

2 comentários:

O Puma disse...

Pela primeira vez estou de acordo

com o Vasco Graça Moura

jrd disse...

De "fato"...

Parece que o "Amigo" quer executar o acordo.