Quando penso no Chile, lembro-me de Salvador Allende e Pablo Neruda, Victor Jara e Violeta Parra. Mas qualquer coisa me diz que, salvaguardada a devida distância, o nome de Michelle Bachelet vai passar a ocupar também algum espaço no meu pensamento. Afinal, se as pessoas fazem a História, a História também faz as pessoas, e a América Latina está a escrever páginas novas.
Saído de uma violenta ditadura que vigorou desde o golpe de Estado de Pinochet que assassinou o presidente Allende em 1973, até às eleições de 1989, o Chile veio a eleger Michelle Bachelet, na primeira vez, em Janeiro de 2006, derrotando nessa altura Sebastian Piñera. Mas o conservador e ultra milionário Piñera ganharia as eleições de 2010, governando o Chile até hoje de acordo com a sua ideologia.
Michelle e Piñera
Michelle acaba este domingo de vencer novamente as eleições presidenciais no Chile, apoiada por uma aliança formada pelos socialistas, os democratas-cristãos e os comunistas, isto numa época em que a corrente progressista vem crescendo na América Latina. E não é por ser considerada uma socialista moderada, que as circunstâncias do mundo actual, entre a ofensiva ultraliberal e a resistência progressista lhe dispensarão gestos audaciosos. Para quem sofreu a prisão e a tortura às ordens de Pinochet, tal como aconteceu com o seu pai, não é esperar demais.
Michelle Bachelet tem a seu favor um resultado eleitoral de 62,16% contra os 37,83 % de Evelyn Matthei. Mas tem sobretudo a aspiração do seu povo a uma política “mais justa, mais solidária e mais humana” – para usar as suas palavras no discurso de agradecimento.
Se a abstenção de cerca de 53% é de facto muito relevante, não parece que ela possa contar a favor ou contra as candidaturas em presença – é objecto de outra análise.
Três grandes objectivos foram afirmados na sua candidatura e confirmados no discurso de vitória: reforma tributária, reforma da Constituição e reforma do Ensino. Isto é: uma política de impostos que ajude a diminuir a desigualdade entre ricos e pobres; alteração da actual Constituição do Chile que foi aprovada num plebiscito nacional altamente irregular em 1980, sob o governo militar de Augusto Pinochet (embora já tenha sofrido algumas emendas), e alargamento do ensino gratuito às universidades no prazo de 6 anos.
Para cumprir o seu programa, Michelle Bachelet conta na coligação que a apoia, com a maioria de 55% que possui nas duas Casas do Parlamento – a Câmara de Deputados e o Senado. Mas aquela aliança não dá a maioria de dois terços necessária para a revisão da Constituição – para isto terá de contar com os conservadores.
No domínio social – “en la calle” - terá de contar com uma população desenganada, desiludida, descrente na política (uma das causas da abstenção). Terá ainda de contar com a herança e a oposição das forças que antes apoiavam Sebastian Piñera. Terá que se apoiar no Povo, enfim, e numa política de alianças internacionais próxima do Brasil, da Argentina, da Venezuela, do Equador…
Da esquerda: Evo Morales, José Mujica, Dilma Rousseff, Cristina Kirchner, Rafael Correa.
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