11.8.19

"Que fazer" com esta greve?

A greve de camionistas marcada para 12 de Agosto em diante parece ser um episódio típico da luta de classes na perspectiva marxista. Será assim que a entendem os marxistas mais representativos entre nós?

Comecemos por analisar a posição do PCP. Transcrevo dois parágrafos significativos recolhidos na secção de Opinião do jornal oficial do partido, o Avante, de 8 de Agosto.

«A legislação para o sector (aprovada por PS/PSD/CDS) legitima formas de organização do trabalho com impactos brutais na vida dos motoristas, que passam demasiado tempo longe de casa em condições muitas vezes deploráveis e ainda fazem cargas, descargas, segurança e manutenção dos veículos, muitas vezes fora do horário de trabalho».

«O que se impõe? Que o Governo cumpra e faça cumprir as leis que defendem os trabalhadores. Que a associação patronal aumente os salários e concretize uma mais justa organização do tempo de trabalho, repercutindo os custos nos seus lucros e nos dos seus clientes. Que se eliminem os bloqueios à negociação e contratação colectiva. Que a lei deixe de tratar o motorista como uma mera peça da maquinaria necessária ao transporte de mercadorias. Que se combatam aqueles que usam as justas reivindicações dos motoristas, seja para se promoverem, para alimentar projectos políticos reaccionários ou para atacar o direito à greve».

A posição do BE aparece assim no esquerda.net de 9 de Agosto 

A coordenadora do Bloco (Catarina Martins)  fez um apelo à serenidade de todas as partes, que considerou muito crispadas: "quando ouço as várias partes, parece que toda a gente está à procura de uma crise, em vez de uma solução". Há um problema real que é preciso resolver, afirmou: muitos motoristas recebem remuneração à parte do salário, sem descontos, o que é mau para a Segurança Social e mau para os motoristas, "que não vão ter a reforma a que devem ter direito". O essencial, prosseguiu, é conseguir um novo contrato coletivo de trabalho, que garanta um salário digno aos motoristas com os devidos descontos à Segurança Social, de forma a proteger a sua carreira contributiva e reforma.

É manifesto que o PCP aposta na luta de classes e que o BE aposta na serenidade contra as posições “muito crispadas” das “várias partes” envolvidas.

Como Karl Marx já morreu e Arnaldo de Matos também, resta-nos ler o que ambos disseram sobre esta temática... e fazer o que nos aconselhou o ministro Pedro Nuno Santos: encher o frigorífico e o depósito de gasolina “na medida das nossas possibilidades”.

A imagem acima reporta a greve dos motoristas de matérias perigosas, de 15 de Abril p. p., por tempo indeterminado...
(recolhida do Notícias de Aveiro)

Sem comentários: