A Igreja Católica invoca e interpreta hoje, nos seus incontáveis templos reais e virtuais, uma das três versões do Evangelho sobre o mesmo episódio. Nesta narrativa, Marcos 8,27-35, conta-se que Jesus perguntou aos discípulos: ‘Quem dizem os homens que eu sou?’. Eis a resposta: “Alguns dizem que tu és João Batista; outros, que és Elias, outros, ainda, que és algum dos profetas”.
“Algum dos profetas” exprime claramente uma realidade histórica que passa geralmente despercebida aos cristãos: que Jesus era apenas mais um dos muitos profetas daquela época como de épocas anteriores.
“E vós, quem dizeis que eu sou?” “Tu és o Messias” – terá respondido Pedro.
Neste ponto convém esclarecer que o Messias que os judeus esperavam era um guerreiro, um libertador, um restaurador do reino de David - uma expectativa que foi alimentada por muitos séculos, desde a época do exílio!
Jesus, porém, frustrou essa esperança ao esclarecer que não veio para restaurar o reino de Davi, mas para implantar “o Reino de Deus”, o que causou discussão, mas que ali mesmo ficou sanada – a discussão, não sabemos se a convicção!
E eu pergunto se esta frustração de expectativas não terá alimentado a fúria daqueles populares que uns anos mais tarde apelaram à sua crucificação.