O Arrastão, fazendo jus ao nome, conseguiu com o assunto quase tantos comentários como "Generación Y" sobre o dia a dia cubano.
O senhor Daniel Oliveira intitula o artigo como “Os ex-combatentes”, mas o que provocou foi uma mobilização inaudita de novos e entusiásticos combatentes, completamente contrastante com a indignação dos "ex" que, como eu, foram arrastados para aquele exílio dourado – dourado pelo sol, entenda-se.
Nem eu seria digno da Pátria em que nasci se não trouxesse à liça uma história porventura engraçada daqueles dias – daqueles anos! – de terrorismo salazarista.
Tinha chegado nessa noite do Cuango, quilómetros de picada intransitável que seria moroso descrever, e gozava a relativa tranquilidade de Quimbele, sede da Companhia a que viera buscar mantimentos. Alguns camaradas de farda já estariam a dormir, talvez, e outros a discutir com as botas a posição exacta em que deviam ficar enquanto o dono dormisse – não por disciplina mas por superstição.
Então o furriel não se lembra de mim? O furriel deu instrução ao meu pelotão em Abrantes (julgo que foi ali). Eu que passara por vários quartéis antes de ir para África e fizera tanta coisa que não queria fazer, tinha a vantagem de esquecer o que fizera e nesse processo se apagavam as próprias pessoas que comigo se cruzavam por mero imperativo militar. Daí, não me lembrava.
Num generoso esforço para me recordar o que Deus me ajudava a esquecer, o soldado acrescentou: «Não se lembra que até nos falava de levarmos uns livros para a instrução, assim umas coisas de moral…». Como é próprio dos livros, fez-se luz no meu espírito!
Nos tempos mortos da instrução teórica eu aproveitei para sugerir que nos quotizássemos para comprar livros – coisa que no espírito simples daquele soldado arrancado à terra, era coisa de moral porque só o padre, lá na aldeia, fazia uso de tais instrumentos.
 Que eu lhes tivesse falado de “A Mãe” de Gorki, como foi o caso na minha ingénua imprudência, ou de “A Virgem Mãe” (se tal livro existe) não fazia qualquer diferença para o grau de informação a que tinha acesso. Pobre de mim que falava de livros e não tinha a sabedoria de me fazer entender. Pobre António Barreto em quem ninguém mais acredita mesmo que fale do que todos entendem.
Que eu lhes tivesse falado de “A Mãe” de Gorki, como foi o caso na minha ingénua imprudência, ou de “A Virgem Mãe” (se tal livro existe) não fazia qualquer diferença para o grau de informação a que tinha acesso. Pobre de mim que falava de livros e não tinha a sabedoria de me fazer entender. Pobre António Barreto em quem ninguém mais acredita mesmo que fale do que todos entendem.P.S.:
E para que não fiquem dúvidas de como sou esquecido, quando fui à procura de uma fotografia para este artigo descobri AQUI , que já tinha contado esta história! Valha-me A Mãe de Máximo Gorki. Nem os excessos de vinho me puseram neste estado a que cheguei por excesso de água.
 
 
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