12.11.13

Messidependência

Eu descia pacificamente La Rambla, na noite deste Domingo, dia 10, sem me dar conta de que muitos catalães estavam preocupados com outra coisa mais que a luta independentista da sua província.


Mas será que havia catalães a percorrer aquele extenso “passeio público” de Barcelona, lá onde o espaço amplo e o comércio apelativo, mas também a comodidade de descer até ao porto e desfrutá-lo, distraíam de qualquer preocupação? Percebi mais tarde que o cidadão local tinha a cabeça noutro sítio. Aqueles com quem me cruzava eram turistas, na sua esmagadora maioria, o que em Barcelona é óbvio.

Para perceber onde os naturais tinham a cabeça àquela hora, ouvi uma mulher gritar por 3 ou 4 vezes, num tom indignado: messidependencia, messidependencia, messidependencia… Depressa a mensagem se encontrou no meu cérebro com a imagem que havia captado em vários estabelecimentos por onde passava: a transmissão de um jogo de futebol, um facto tão habitual no meu país, que não mereceu a mínima atenção da minha parte.

O que eu não sabia era que nessa noite se disputava um jogo importante entre o clube local de futebol, o Barça, e o Bétis. E muito menos podia imaginar que a estrela do Futebol Clube de Barcelona tinha saído do jogo aos 22 minutos com uma lesão grave. Vá-se lá dizer que “quem corre por gosto não cansa”...



Alheio ao acontecimento dominante, saí pela Carrer de Colon, sem lesões, e desfrutei da “Plaça Reial de Barcelona” formada interiormente por quatro paredes de edifícios idênticos de arquitectura antiga. Em todos eles se apresentam arcadas preenchidas por esplanadas de restauração diversa, discretamente iluminadas, à noite, para acrescentar sossego à tranquilidade geral do ambiente.

Aqui não há música gravada ou ao vivo, nem futebol. Tomo um café enquanto Neymar, Pedrito e Fábregas fazem o seu trabalho pela equipa local, e Jorge Molina marca contra ela o seu golo de honra. Por noventa minutos deixou de ser grave a dependência do poder central; grave mesmo é agora uma lesão no bíceps femoral da perna esquerda de um jogador de futebol que o torna dependente, por sua vez, de um simples médico anónimo.

Este texto sofreu uma alteração na parte final, depois de publicado.

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