23.2.08

Ética política

A “ética” neoliberal se reduz às virtudes privadas dos indivíduos. Ignora a visão de institucionalidade ética.
Reforça, assim, a atitude paralisante do moralismo, que a reduz à ilusória perfeição individual.

Ora, se a sociedade é estruturada, a ética é imprescindível para se configurar o mundo histórico. Portanto, exige uma teoria política normativa das instituições que regem a sociedade.

Não basta falar em ética na política. A crítica às instituições geradoras de injustiças e negadoras de direitos exige ética
da
política.


As instituições devem garantir a justiça distributiva - a partilha dos bens a que todos têm direito -, e a justiça participativa, a presença de todos (democracia) no poder que decide os rumos da sociedade.O grande desafio ético hoje é como criar instituições capazes de assegurar direitos universais. Isso supõe uma ruptura com a atual visão pós-moderna, neoliberal, de fragmentação do mundo e exacerbação egolátrica, individualista.
...
Neste mundo desesperançado, apenas a imaginação e a criatividade são capazes de livrar a juventude da inércia, a classe média do desalento, os excluídos do sofrido conformismo. Isso requer uma ideologia que resgate a ética humanista do socialismo de inspiração cristã e abandone toda interpretação escolástica da realidade. Sobretudo toda atitude que, em nome do combate à velha ordem, faz a esquerda agir mimeticamente ao incensar vaidades, apegar-se a funções de poder, ceder à corrupção, reforçar a antropofagia de grupos e tendências que se satisfazem em morder uns aos outros.O pólo de referência de todos que pretendem alcançar “um outro mundo possível”, em torno do qual precisam se unir, é somente um: os direitos dos pobres.


- Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Paulo Freire e Ricardo Kotscho, de “Essa escola chamada vida” (Ática), entre outros livros.

Artigo recortado em : http://alainet.org/active/20839&lang=es

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