Quando o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, há poucos dias, acusou o líder da oposição conservadora, de usar uma fotografia retocada, num cartaz eleitoral, levantou um falso problema a que o seu rival respondeu da pior maneira ao dizer que “o que está à vista é aquilo com que podem contar”.
Mulher ao Espelho, de Pablo Picasso
Antes de mais, é preciso ter em conta que toda a imagem registada em fotografia ou desenho, em pintura ou qualquer outra forma, não apresenta o objecto; representa-o, como já abordei atrás. E na representação visual dum objecto interferem sempre factores alheios ao próprio. Não é possível obter em suporte electrónico (p.e., neste computador) a mesma imagem que se obtém em suporte papel.
O suporte electrónico – vídeo ou televisão incluídos – emite pixels que são pontos luminosos dispostos em sequência e que se substituem continuamente a grande velocidade;
enquanto que o suporte papel reflecte pigmentos de tinta sobrepostos e misturados que estão fixados no papel por absorção.
As características do papel e da tinta, para já não falar da qualidade da luz que se reflecte no suporte (fotografia, p.e.) e chega aos nossos olhos, definem muito do que é a imagem que vemos. E que não se compara às características do ecrã de televisão ou de computador onde não há tinta nem imagem contínua – na verdade nós não vemos o que lá está mas sim o que o nosso cérebro interpreta, claro. Assim como no cinema não percepcionamos a descontinuidade das fotografias (fotogramas) e o movimento da película, no vídeo não percepcionamos a descontinuidade de pontos e a sua contínua substituição.
Ao contrário do que diz David Cameron, portanto, o que está à vista não é “aquilo com que podem contar” – é uma representação visual condicionada pelos meios de suporte. E também não tem razão Gordon Brown por supôr que as suas fotografias exprimem fielmente a imagem com que pode contar o público que o encontrar na rua, isto é, a imagem com que se apresenta.
Outra questão é que a cara de Brown sempre se parecerá mais com a senhora Ashton do que Toni Blair, em qualquer suporte, mas isso tem a ver com outra questão.
Gordon Brown e Catherine Ashton
Para que uma imagem electrónica de Brown se pareça com o próprio, por exemplo, é preciso que a tecnologia interprete numa grelha de pontos as suas características visuais, as converta em características electrónicas, e instrua o equipamento para fazer corresponder determinados sinais electricos a determinados sinais visuais. Isto é, a imagem que recebemos é o produto de um processo técnico que tenta aproximar a imagem que vemos, da imagem original. Que tenta!
Como os meios técnicos nunca são rigorosamente fiéis ao objecto inicial, o que há a fazer é exactamente retocar a imagem final. Ou pensará o senhor Brown que o efeito “olhos vermelhos” que muitas vezes vemos nas fotografias, não deve ser corrigido, por amor à autenticidade? É que, ao contrário do que pensavam alguns “vermelhos” bem intencionados, quando iam à Televisão em 1974/75, o trabalho de maquilhagem não se destina a alindar a pessoa, destina-se a corrigir os efeitos de distorção que as câmaras produzem e de que os brilhos são os mais notórios.
Mas é claro que no caso da maquilhagem em televisão ou do photoshop nos cartazes, sempre se pode dar um jeitinho...
2 comentários:
:)))
[Sem maquilhagem nem trabalho de photoshop]
[E que boa visita, a sua]
sera que e mesmo isso que interessa?
jokas
Paula
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