18.10.18

Carta aberta ao Ricardo



Estimado Ricardo Araújo Pereira:

Comprei o seu livro “Estar Vivo Aleija” - que não deixa de ser seu apesar de eu o ter comprado. Não comprei para mim, foi para oferecer a alguém que não tem paciência para ler obras mais sofisticadas. Mas como os livros, ao contrário da fruta e dos robalos, podem ser consumidos antes de dá-los, fui lendo aquelas tretas com o mesmo prazer, ou quase, com que li, há muitos anos, “Esta Pressa de Agora” de António Lopes Ribeiro, também neste caso uma compilação de crónicas de jornal (ideologias à parte).

“Serve a presente” – como se escrevia no tempo deste falecido cineasta – para o informar – a si e não ao falecido – que talvez por ter sido criado por uma avó você descobriu desde muito cedo uma coisa que vulgarmente descobrimos nós, os velhos, ao fim de muitos anos de erráticas reflexões sobre o sentido da vida: que a vida não faz sentido ou, citando o nome de um filme cubano, “La vida es silbar”. 

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