10.9.19

Interpretando o museu

Chame-se Museu Salazar ou Centro Interpretativo blá blá, não é por chamar gato ao cão que este começa a miar. O projecto não podia ser menos oportuno.

Tratando-se de "apenas e só fazer um levantamento científico e histórico de um regime político, enquanto acontecimento factual", onde cabe a designação de centro interpretativo?

Um dos argumentos que se lançam a favor da iniciativa é o valor da “imparcialidade”. Cumpre prevenir os incautos de que a justiça não é imparcial quando condena um criminoso mas sim quando o julga. Reconhecido o crime, a sociedade deixa de tolerar o infractor. E o crime hediondo que constituiu o regime do Estado Novo foi julgado e condenado em 25 de Abril de 1974. E não é reabilitável! Isto sem acrescentar que é prudente, sempre, pensar duas vezes antes de aceitar declarações de imparcialidade!

Das mesmas bandas intelectuais dos defensores do museu de Salazar – ou é só razões turísticas que pretendem criá-lo na terra do ditador? – emana o argumento de que a sua obstrução seria contrária à liberdade de expressão. Aqui fingem ignorar que o maior inimigo das liberdades é o abuso. E que esses abusos perigosos para a sociedade não podem evitar-se apenas com as leis democráticas mas carecem também de práticas democráticas, nomeadamente a oposição aos avanços ideológicos fascizantes.

Há quem alegue que “a Democracia não pode ter medo dos autoritarismos e totalitarismos que procura atacar, nem dos seus eventuais defensores”. Mas  é precisamente dos autoritarismos e totalitarismos que a Democracia deve ter medo – esse medo-útil que avisa dos perigos!


Pior que tudo, há quem finja que as correntes fascizantes não têm eco na opinião pública. Como se as Marine Le Pen da Europa ou os Bolsonaros da América do Sul fossem fenómenos insignificantes – refiro-me aos votos que os elegeram, mais do que a eles próprios. 

1 comentário:

antónio m p disse...

A extrema-direita francesa é o segundo partido mais votado, com 19,4% e 19 eurodeputados ao próximo Parlamento Europeu.

Se Giuseppe Conte acaba de receber o apoio do parlamento italiano para governar o país, fá-lo num processo muito disputado com a extrema-direita.

O partido de extrema-direita Alternative für Deutschland foi o segundo mais votado nas eleições regionais alemãs na Saxónia e em Brandeburgo, no passado dia 1 de Setembro.

Na Áustria, a extrema-direita do Partido da Liberdade (FPO), arrecadou cerca de 31% dos votos nas últimas eleições. O partido, que já tinha forte expressão em 2000, tem agora muito mais poder, incluindo o controlo de importantes ministérios.

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