25.5.23

Uma sessão do parlamento

Depois de organizados na mesa da presidência os dossiers e os copos de água a contento do senhor presidente e dos secretários, foi declarada aberta a sessão. Passavam já largos minutos da hora marcada, mas ninguém estranhou - eram todos portugueses, estavam habituados.
O presidente teve ainda a prerrogativa de anunciar a ordem dos trabalhos, mas logo um deputado da oposição pediu a palavra. "Para que efeito?" - perguntou o presidente. "É para apresentar um ponto de ordem à mesa, sr. presidente". Surpreendido, o presidente ripostou: "Mas os trabalhos ainda não começaram sequer...". "Por isso mesmo, senhor presidente. A minha intervenção é exactamente para que se verifique se existe quorum. Eu sei que é uma mera formalidade, mas as formalidades são essenciais para o bom decurso dos trabalhos".
O olhar do presidente percorreu com grande cuidado a sala, fila por fila, cadeira por cadeira, cara por cara, e, tendo verificado que a sala estava completamente preenchida, ainda assim teve o cuidado de perguntar: "falta alguém?". Se faltava alguém, não respondeu, pelo que se daria início aos trabalhos, sem mais delongas. Mas a bancada da maioria não pôde conter a sua indignação com o insólito episódio e, para além do burburinho a que se dedicou durante o mesmo, fez questão de requerer também ela um ponto de ordem à mesa: que a intenção com que o deputado anterior requereu o seu protesto não foi mais do que um pretexto para atrazar os trabalhos, devido ao incómodo que a discussão agendada trazia à bancada da oposição. Nisto, entre uma intervenção e outra que colocaram pontos de ordem à mesa, não só a ordem foi quebrada como os trabalhos demoraram mais do que aconteceria se não fossem as reclamações... contra a demora no início dos trabalhos.

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