(Imagem do site oficial JMJ Lisboa 2023 / Franciscanos)
Vem de longe a consciência de que a colectividade é uma realidade distinta dos indivíduos e da sua mera soma.
Freud assinala, na psicologia de massas, duas características típicas: o sentimento de desresponsabilização individual – se tantos fazem, eu também posso ou devo fazer– e o seguidismo – a obediência a um líder cujo carisma legitima o comportamento colectivo. A irracionalidade do populismo ou da crença religiosa, por exemplo, encontram neste mecanismo psicológico uma grande parte da sua explicação. A demagogia é o seu instrumento promocional – digo eu.
Ortega y Gasset fala da divisão entre duas classes de criaturas: as que exigem muito de si e acumulam sobre si mesmos dificuldades e deveres, e as que não exigem de si nada de especial, pois para elas viver é ser em cada instante o que já são, sem esforço de aperfeiçoamento em si mesmas, bóias que andam à deriva.
De outro ponto de vista, talvez haja uma consciência mais profunda do que pode parecer: a consciência de que “o caminho é melhor do que o destino”, como dizia Cervantes. E, sendo assim, o objectivo anunciado assume uma importância secundária ou é apenas um pretexto para a caminhada. O que é mais exaltante na descoberta da América, é a América ou é a viagem de Colombo?
No contexto da vinda do Papa a Portugal por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, penso que os “peregrinos” estão pouco interessados no Papa e menos ainda em Jesus Cristo do que na peregrinação em si mesma com tudo o que oferece de diversão e convívio. E a própria motivação da Igreja é menos a evangelização do que o recrutamento de aderentes, numa fase da História em que a evolução cultural e informativa das pessoas deixa cada vez menos espaço à irracionalidade e à ignorância, logo, à mensagem religiosa. Resta a seu favor a vantagem de oferecer o conforto psicológico da alienação, a que outros chamaram “o ópio do povo”. O que, no entanto, não é pouco.
Sem comentários:
Enviar um comentário