Imagine-se - por uma questão de actualidade - a história de um casal homossexual feminino cuja relação está ameaçada com a reaproximação do ex-marido de uma dessas mulheres. Embora esta história tenha à partida condimentos suficientes para sustentar o interesse do espectador, a necessidade de prolongar “indefinidamente” a narrativa – no caso de uma telenovela – pode levar o espectador ao cansaço e ao desinteresse. Mas se uma vizinha do casal homossexual se puser a conversar com outra vizinha sobre a sua própria vida passada e presente, a propósito daquela relação, esta história paralela e autónoma suscita um interesse no público, que compensa o eventual desinteresse pelas personagens principais.
Mas já tem acontecido que o “sub-plot” ganha mais força dramática, mais interesse para o espectador, do que a história principal, devido ao desempenho excepcional dos actores secundários, nomeadamente.
Mal comparado, talvez, é como aquelas “cumbres” ibero-americanas em que a presença de Fidel Castro, por si só, dominava as atenções dos orgãos de informação, independentemente de qual fosse a agenda da cimeira, de quem fossem os seus promotores e de qual fosse a importância de Castro nessa agenda. Mais: independentemente de ele estar ou não presente na própria cimeira!
Se a questão é quase incontornável no caso da abordagem jornalística das cimeiras presidenciais, já no caso da ficção, o “desgraçado” do guionista, provavelmente “sequestrado” num hotel a receber ordens da Produção, vai ter que diluir à força a presença das tais personagens secundárias ou então receberá ordens para fazê-las evoluir ainda mais na história de modo a ganharem protagonismo idêntico ou superior às personagens principais, a fim de se rentabilizar o seu sucesso imprevisto. Por exemplo: a mulher lésbica parte com o ex-marido e as duas vizinhas iniciam uma disputa pela mulher abandonada. (Aceitam-se melhores sugestões!).
Nota post-scriptum:O protagonismo que a Igreja Católica atribui à Virgem Maria não seria pior exemplo, talvez, de uma personagem secundária que ofusca a personagem principal - o próprio Deus.
O desenho inicial foi copiado de umaliberdadevirtual.blogspot
2 comentários:
Bem visto. Os seus textos "prendem-me". Tomara que alguns "guionistas" deste país o leiam.
as vezes acho que ja nao vejo a realidade a algum tempo
Jokas
Paula
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