26.12.09

O excesso de poder em Ceausescu


No dia 25 de Dezembro de 1989, Ceausescu, presidente da Roménia, foi condenado à morte e executado com a mulher, após julgamento militar sumário em que foi acusado de vários crimes, incluindo genocídio.

Oito dias antes, o seu regime tinha dado ordens para que as forças militares disparassem contra manifestantes anticomunistas, mas a rebelião alastrou-se por todo o país e as próprias forças armadas acabaram por juntar-se aos manifestantes. O regime de Ceauşescu caíu e ele ensaiou uma fuga de helicóptero mal sucedida.

Ao contrário do que possa parecer, Ceausescu não era um fiel seguidor da política soviética. Apesar do seu percurso político, em que foi membro do Partido Comunista Romeno, na altura ilegal, antes da Segunda Guerra Mundial e preso em 1936 e 1940, o dirigente da Roménia distanciou-se mais tarde da União Soviética, acabou com a participação activa da Roménia no Pacto de Varsóvia, e condenou a invasão da Checoslováquia em 1968.


Quando se tornou Presidente da Roménia, em 1974, manteve a sua posição independente. Foi o primeiro país do Bloco de Leste a estabelecer relações oficiais com a Comunidade Europeia. Mas se esta atitude de insubmissão à URSS o tornavam admirado pelo seu povo, não faltavam razões contrárias. Desde logo o seu culto da personalidade com expressão desmesurada, o seu autoritarismo ditatorial e a sua incompetência para resolver problemas essenciais da economia e da população.

Após uma década de industrialização acelerada que levou à acumulação da dívida externa, os anos 80 apresentam uma grave crise económica que Ceausescu tenta resolver com a exportação de grande parte da produção agrícola e industrial do país. Mas com isso sacrifica o acesso ao consumo interno de bens essenciais.

Enquanto isto, desenvolve o culto da personalidade até ao ridículo, promove a sua família aos mais altos cargos e manda construir um palácio faraónico onde consome um milhão de m3 de mármore, 200 mil m2 de tapetes e 900 mil m3 de madeira, envolve mais de 20 mil operários e 200 arquitectos, dia e noite, e sacrifica as casas de 40 mil pessoas que habitavam naquele espaço com sete quilómetros quadrados de bairros históricos de Bucareste.

Foi chamado a Casa do Povo mas o povo diz que «foi traumático termos de sair de uma casa bonita num bloco de apartamentos. Foi uma tragédia, muitos suicidaram-se». É o segundo maior edifício do mundo, a seguir ao Pentágono.

Elena Ceauşescu não se portou melhor. É acusada de uma política de saúde desastrosa que levaria, nomeadamente, a uma das maiores epidemias, incluindo casos pediátricos, no mundo ocidental.

No meio de todas as aparentes contradições extrai-se pelo menos a certeza do costume: que o excesso de poder é o que há de pior em política, independentemente do regime.

3 comentários:

jrd disse...

Quando este tiranete execrável saiu dos tentáculos sufocantes da ex-URSS, caiu nos braços do Ocidente hipócrita(Soares incluido) que (en)cobriu o seu consulado criminoso, de acordo com as conveniências.

Sensualidades disse...

e caso para se dizer que o poder corrompe, ou sera que corrompemos o poder

Jokas
Paula

João Moutinho disse...

Receio estar a tornar-me um habituendo deste blog.
O texto está muito bom.
Mas não nos podemos esquecer que a Máxima de que "o inimigo do meu inimigo meu amigo é" não está ainda excluída da nossa política (filosofia) até porque a sua exclusão poderia ser impraticável.
Quanto ao Ceausescu, ele chegou a ser chamado de "conducator", qualquer coisa que traduzido para espanhol poderia ser "caudilho", em italiano "dulce" em alemão "führer".
Fico sem perceber é como é que uma ideologia que não permite a antítese (a comunista marxista) pode fugir destas situações.