Invocando as lutas estudantis em Portugal durante a ditadura de Salazar, por comparação com o Maio de 68 em Paris, Eduarda Dionísio lembrava num artigo do seu blogue Pimenta Negra esta coisa insólita:
«Quarenta anos depois, ninguém dirá que vários governantes, deputados e destacados dirigentes partidários (de agora) foram os que imaginaram e fizeram estas lutas, passadas e apagadas.
E que o autor e apresentador (na televisão pública) de um programa semanal, que se diz «de História», foi o Ministro da Educação que as reprimiu em 1969».
Este fenómeno de ausência de memória, dos mais novos, e apagamento da memória, dos mais velhos, mas também de tolerância injustificável para com os verdugos da humanidade, esta cumplicidade com o crime, encontrámo-la já noutros países, e não faltou quase nada para reaparecer de forma incompreensível no Peru, este fim de semana em que as eleições presidenciais deram uma diferença mínima entre os dois candidatos da segunda volta: 51,37% para Humala, contra 48,63% para Keiko.
Keiko Fujimori, a filha do ditador Alberto Fujimori não responde pelos crimes do seu pai, ex-presidente condenado em 2009 a 25 anos de prisão por autoria intelectual de duas chacinas que mataram 25 pessoas, além de casos de corrupção. Mas a actual candidata fez questão de defendê-lo e de se identificar com ele ao ponto de Mario Vargas Llosa, que não é propriamente um esquerdista, dizer que a derrota de Keiko "foi uma derrota do fascismo”. O facto é que, na criação do seu partido, ela declarou: “Vamos a demostrar que el pueblo no está de acuerdo con el linchamiento que se está haciendo con Alberto Fujimori”.
A cortesia com que Keiko lidou com o seu opositor, o novopresidente eleito Ollanta Humala, assim que foram conhecidos os resultados, tem que ser entendida à luz das diligências para Fujimori-filha livrar o pai da Justiça.
Voltando aos resultados eleitorais em Portugal, fico igualmente apreensivo. Admito que o CDS-PP já não seja o partido que nos anos 70 albergou a extrema-direita descontente com a revolução de 1974, mas não deixa de ser preocupante a entrada para o Governo de Portugal, de um partido que herdou um passado tão suspeito. Por alguma razão Paulo Portas pedia agora que votassem nas pessoas e esquecessem o partido...
Passos Coelho e Paulo Portas em debate eleitoral na SIC
2 comentários:
Na verdade a história está cheia de ditadores simpáticos
e alguns até de boné a fingir de agricultores
com o devido respeitos pelos bonés
que nunca foram às feiras da ladra
Há os ditadores que nos levantaram da m***a, onde chafurdavamos há décadas, desde o Napoleão, e democratas que nos re-colocaram novamente na m***a. há decadas, desde o Botas de Santa Comba!
De joelhos perante três anónimos caixeiros viajantes do FMI!
Enviar um comentário