Entre as santas alianças e as guerras santas, a Igreja Católica faz o seu caminho. Com 180 representações diplomáticas distribuidas pela Terra, as relações do Vaticano com os governos dos países são condicionadas, se não determinadas, pelo património que a Igreja detém nesses países, e pela política fiscal destes em relação a ela. Como terá afirmado um arcebispo norte-americano, a Igreja não se administra com ave-marias.
A separação entre o poder político e a autoridade religiosa é uma ameaça para a riqueza da Igreja e dos seus profissionais. Quando essa separação traz consigo a justa tributação dos rendimentos dos sacerdotes, o conflito agrava-se. Mas quando ela vai ao ponto de expropriar o património religioso ou afecto às autoridades religiosas, abre-se uma guerra que a Igreja não hesita travar - com o sangue das suas ovelhas, não dos seus ministros. O anticomunismo da Igreja Católica faz parte deste conflito económico onde se jogam privilégios e fortunas incomensuráveis.
Bem poderia o Papa João Paulo II ser pessoalmente motivado por razões religiosas e ideológicas sinceras, como tudo indica que fosse, mas a sua eleição para Sumo Sacerdote e o papel político que viria a desempenhar no combate ao comunismo, correspondiam aos interesses financeiros da Igreja, aos interesses materiais dos seus bispos e sacerdotes.
É assim que estes escolhem um bispo polaco e com ele uma estratégia de derrube do comunismo na Polónia em 1980, envolvendo-se abertamente no confronto político do movimento "Solidariedade".
A recente proposta do governo checo de restituir aos orgãos eclesiais de diversas igrejas as propriedades confiscadas durante a vigência do regime comunista, em que o governo passou a pagar o salário dos sacerdotes, põe em evidência, uma vez mais, esta realidade.
Por seu lado, a recente decisão do presidente Raúl Castro de restituir bens da Igreja, nacionalizados pelo regime revolucionário em 1961, na sequência de outras medidas de abertura ao Vaticano em 2010 e 2012, servem para evitar – digo eu – que a Igreja faça em Cuba o que fez na Polónia, e não é porque o regime não persiga os seus dissidentes e não mate os seus presos - "La pena de muerte está suspendida, pero ahí está", dizia há dias Raúl Castro com orgulho entusiástico. É porque, mais uma vez, “alguma coisa tem que mudar para que tudo fique na mesma”.
O pacto entre a ditadura cubana e os herdeiros da Inquisição, obedece à lógica diplomática do Vaticano de “ir ao mercado” local”, de salvar o ouro. E à lógica dos Castros de se protegerem à sombra da Igreja. Nada que não se tenha visto noutras proporções, na Espanha do ditador Francisco Franco.
“En 1970, la cantidad total que la Iglesia recibía, directa o indirectamente, sumaba la impresionante cifra de 2,6 billones de pesetas (15.626,3 millones de euros, casi 6.000 millones más que ahora)“, sostiene Callahan. Son, arriba o abajo, las cantidades calculadas por Joan Castellà-Gassol”.
Naquele país, cerca de 80% do património artístico é propriedade da Igreja que também dispõe de 300 museus e 103 catedrais,
Destes compromissos se faz a política dos estados. O Vaticano, em defesa do seu orçamento anual de 300 milhões de dólares, não escapa à regra.
Mas o que eu queria saber, como questionava o jornal “I”, era quando a Igreja portuguesa começa a pagar IMI sobre as suas propriedades de milhões de euros.
Em Itália, por exemplo, onde a Igreja gere um vasto património imobiliário que inclui, além de inúmeras igrejas, milhares de escolas, universidades, clínicas privadas, lares de idosos, hotéis, restaurantes e centros desportivos, num total de 100.000 edifícios que ascendem aos 9.000 milhões de euros, a política fiscal já lhe bateu à porta.
E aqui?
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