Aquela ladainha em que se diz que os homens procuram a paz
ou que os homens procuram a liberdade, mereceu em 1931 um reparo pertinente de
Miguel Unamuno. Escrevia ele (1) que «os homens procuram a paz em tempo de
guerra e a guerra em tempo de paz; procuram a liberdade sob a tirania e
procuram a tirania sob a liberdade».
Sem pretender colocar-me ao nível daqueles que interpretaram
já o sentido completo desta tese, e muito menos ao nível do próprio autor,
invoco apenas a autoridade que me advém de ser humano, racional e interessado
no assunto para exprimir a minha própria opinião. A minha única vantagem é ter mais
noventa anos de História, passe a ironia.
Não perfilho a opinião do autor em sentido literal e menos
ainda a interpretação de Fernando Savater – no que me estou a meter...! Este,
além de aceitar a tese, acrescenta que se trata duma necessidade psicológica de
mudança (palavras minhas). (2)
Necessidade de mudança, sim, no sentido em que o cidadão
vive sempre insatisfeito. Mas sendo verdade que atribui a culpa disso ao regime
vigente, trata-se em última análise da natureza humana ou, afinal, de toda a
Natureza. Doutro modo o mundo e as espécies viveriam imutáveis, isto é, não
viveriam. A vantagem dos homens é ter alguém a quem culpar com maior
ou menor razão e alguém a quem apelar, deuses e santos incluídos.
Basta ver um noticiário, um jornal de qualquer dia, para
encontrar movimentos sociais obstinados na restrição das liberdades (repúdio
das migrações, p. e.) e povos obstinados na morte de outros povos (guerras
“patrióticas”, p. e.).
Os gritos de guerra que a ficção reportava aos índios americanos
são o dia-a-dia de Donald Trump e Benjamim Natanyau de formas mais sofisticadas, é certo, e para citar apenas
“os maus” da fita... mediática.
(1) A Agonia do Cristianismo
(2) A Arte do Ensaio.
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