1.9.18

Paz, liberdade e mitos

Aquela ladainha em que se diz que os homens procuram a paz ou que os homens procuram a liberdade, mereceu em 1931 um reparo pertinente de Miguel Unamuno. Escrevia ele (1) que «os homens procuram a paz em tempo de guerra e a guerra em tempo de paz; procuram a liberdade sob a tirania e procuram a tirania sob a liberdade».

Sem pretender colocar-me ao nível daqueles que interpretaram já o sentido completo desta tese, e muito menos ao nível do próprio autor, invoco apenas a autoridade que me advém de ser humano, racional e interessado no assunto para exprimir a minha própria opinião. A minha única vantagem é ter mais noventa anos de História, passe a ironia.

Não perfilho a opinião do autor em sentido literal e menos ainda a interpretação de Fernando Savater – no que me estou a meter...! Este, além de aceitar a tese, acrescenta que se trata duma necessidade psicológica de mudança (palavras minhas). (2) 

Necessidade de mudança, sim, no sentido em que o cidadão vive sempre insatisfeito. Mas sendo verdade que atribui a culpa disso ao regime vigente, trata-se em última análise da natureza humana ou, afinal, de toda a Natureza. Doutro modo o mundo e as espécies viveriam imutáveis, isto é, não viveriam. A vantagem dos homens é ter alguém a quem culpar com maior ou menor razão e alguém a quem apelar, deuses e santos incluídos.

Basta ver um noticiário, um jornal de qualquer dia, para encontrar movimentos sociais obstinados na restrição das liberdades (repúdio das migrações, p. e.) e povos obstinados na morte de outros povos (guerras “patrióticas”, p. e.). 

Os gritos de guerra que a ficção reportava aos índios americanos são o dia-a-dia de Donald Trump e Benjamim Natanyau de formas mais sofisticadas, é certo, e para citar apenas “os maus” da fita...  mediática.  

(1) A Agonia do Cristianismo
(2) A Arte do Ensaio.

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