6.3.22

Porque hoje é domingo 114

Neste domingo, 6 de Março, a Igreja invoca mais uma reportagem de Lucas (Lc 4,1-13).

A cena passa-se no deserto, quando Jesus regressava do Jordão era conduzido a vários lugares em que era tentado pelo diabo. Como o evangelista começa por dizer que o Senhor era conduzido pelo Espírito Santo, ficamos sem saber ao certo quem conduzia Jesus, mas não ficamos menos perplexos por saber que o Filho de Deus se deixava conduzir pelo mafarrico! E como Lucas não esclarece quem testemunhou o acontecimento em que apenas estavam presentes as duas personagens, mais ninguém, temos que admitir que a informação lhe pode ter sido dada pelo demo de quem se espera que diga mentiras.

Adivinhando sem dificuldade que o companheiro de viagem “sentiu fome” ao fim de quarenta dias sem comer – a famosa quarentena – o diabo aproveitou para desferir a primeira tentação: “Se és Filho de Deus, manda que esta pedra se mude em pão”. E Jesus respondeu: “Não só de pão vive o homem” – coisa que todos nós já dissemos também algum dia.

Segue-se que o diabo levou Jesus para o alto, mostrou-lhe por um instante todos os reinos do mundo e lhe disse: “Eu te darei todo este poder e toda a sua glória, porque tudo isto foi entregue a mim e posso dá-lo a quem quiser. Portanto, se te prostrares diante de mim em adoração, tudo isso será teu”. «Aqui a notícia carece de exatidão» - digo eu, parafraseando Xico Buarque. Em que lugar da Terra é que se avistam todos os reinos do mundo? E quem podia ter entregue tanta riqueza ao malvado para com ela tentar subornar o próprio Criador?

Depois o diabo levou Jesus a Jerusalém, colocou-o sobre a parte mais alta do Templo e lhe disse: “Se és Filho de Deus, atira-te daqui abaixo! E Jesus, apesar de acompanhar o diabo, obedientemente, terá avaliado o risco da queda – isto sou eu que digo! – e recusou dizendo: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’”. Terminada toda a tentação, o diabo afastou-se de Jesus, para retornar no tempo oportuno – conta o Lucas – que é todo o tempo, como nós próprios podemos testemunhar.

Mas esta história absurda remete para outra reflexão mais abrangente: de que nos serviria Deus se o diabo não existisse?

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