Cansados da dominação norte-americana, os países foram procurando condições para a sua autonomia, através de uniões económicas que valorizam os seus próprios recursos e iniciativas em vez de se submeterem a directivas imperiais que perpetuaram atrasos económicos e politicos. Naquele propósito independentista, criou-se na América Latina o Mercosul (1) e outras organizações, e desenvolveu-se na Europa a União Europeia, a partir da CEE e herdeira do BENELUX.
No plano mundial, parece significativo, por exemplo, um artigo recente da revista inglesa The Economist, onde se falava do temor com que o congresso norte-americano olhava para o Bric, um bloco composto por Brasil, Rússia, Índia e China, e que pareceria vocacionado “para anunciar aos Estados Unidos que os maiores países em desenvolvimento têm opiniões próprias”. No âmbito da União Europeia, as mesmas razões que obrigaram os respectivos países a organizarem-se autonomamente para responder ao domínio económico dos EUA, podem fazer com que alguns deles, os mais débeis, se reorganizem contra a dominação(2) exercida pelas grandes potências europeias em relação a si próprios, se vingar a “lei dos mais fortes” no seio da organização, ou o princípio de “cada um por si” (que chegou a ser defendido por Merkel no início da crise financeira e de que voltou a ser acusada agora, a propósito do comportamento dos especuladores financeiros) .
Com efeito, aquelas potências europeias, nomeadamente a Alemanha, a França e o Reino Unido, enquanto se relacionam com os outros países da União em termos autoritários ou coercivos, relacionam-se com a Rússia ou a China, os EUA ou o Brasil, em termos negociais.
Na busca de novas solidariedades, a Grécia volta-se para a muçulmana Turquia que tem uma relação de amor-ódio com a Europa; a Espanha reforça os laços económicos com as suas antigas colónias (América Latina e Caribe); Portugal tem todo o interesse em consolidar o mais possível, as suas relações económicas com o Brasil e Angola, sobretudo, ainda que não seja um parceiro privilegiado de qualquer destes do ponto de vista económico como decorre do estatuto do Brasil como grande potência emergente e , no caso de Angola – e de Moçambique por maioria de razão – devido às afinidades destes com os vizinhos da “Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral” – sem que se ignore o seu próprio problema de dependância regional em relação à Àfrica do Sul e sem que se ignore o seu interesse nas relações económicas com a UE, no que Portugal finge que tem um papel a desempenhar.
A força centrífuga da União Europeia, portanto, parece atirar os países do sul da europa para outras galáxias. Tanto mais depressa quanto menor se continuar a revelar a força da gravidade, isto é, a força de atracção que liga aqueles países à zona euro.
Que os grandes líderes europeus não estejam interessados nisso, como se vê todos os dias em declarações, parece confirmar a quem interessam as políticas que prosseguem.
(1)Actualmente o Mercosul é composto por Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela, como estados membros, e por Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru como estados associados.
Outros países da região, criaram a ALBA, com um caracter ideológico de esquerda e inscrevendo a solidariedade social como preocupação dominante. Fazem parte Venezuela e Cuba, fundadores, e ainda Bolívia, Nicarágua, Dominica, Equador, Antigua e Barbuda e São Vicente e Granadinas
(2)“Como português, tenho pena, mas passámos a ser uma espécie de protectorado da Alemanha, do ponto de vista financeiro. Mas quando os nativos não se sabem governar, uma boa dose de colonialismo não deixa de ser saudável” – disse Campos e Cunha, antigo vice-governador do Banco de Portugal, professor da Faculdade de Economia da Universidade Nova e actual presidente da SEDES.
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