Quando eu ia passar as férias à aldeia do meu pai, em criança, havia duas coisas que me divertiam especialmente: andar de bicicleta e “tocar aos bois”. No primeiro caso era um prazer compreensível de quem não tinha acesso a essa experiência durante o resto do ano, no Porto; no segundo caso, era um sentimento confuso, uma estranha consciência do poder de dominar um animal enorme.
Eu, pequeno, frágil, sem outro recurso que não fosse uma vara do meu próprio tamanho, obrigava o boi a percorrer em círculo o perímetro do poço durante todo o tempo que eu quizesse, preso o animal pelo cachaço à vara que se prendia, na outra ponta, à nora, fazendo-a subir os baldes carregados de água.
Era espantoso como o possante animal se submetia, obediente, esforçado e temeroso, a uma criança sem força e sem coragem para mais do que seguir a prudente distância o bicho poderoso e bem armado de chifres.
Esta eficácia do mêdo apesar da desproporção das forças, devia ter-me ensinado desde cedo aquilo que só vim a compreender com a consciência política: o poder do mêdo. E pensar que já compreendi, talvez seja um engano.
A foto que acrescento a seguir , ilustra uma situação comparável, numa fazenda do Brasil.
Quando assisto ás revoltas que disparam pelo norte de África e Médio Oriente, eu vejo como é frágil o Poder que submete os povos pelo mêdo, mais que tudo. E como estes se agigantam e tornam invencíveis quando se libertam do jugo que os domina cruelmente. E como tardam, quantas vezes, a tomar consciência da sua própria força.
A primeira foto foi encontrada num site de Oliveira de Azemeis
1 comentário:
É preciso perder o medo... e rapidamente!
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