7.4.10

A César o que é de César

e ao Papa o que é do Papa

Supõe-se que a intenção da Igreja esconder os sacerdotes criminosos nas paredes da instituição religiosa, seja preservar o prestígio da instituição, a credibilidade geral dos seus ministros. Nada que a distinga de qualquer outra instituição vulgar, nomeadamente as instituições políticas, mas que no caso e por razões obvias se torna muito mais grave: para além de sonegar os criminosos à Justiça e mantê-los em condições favoráveis à continuação das mesmas práticas, a Igreja remete para o domínio da crença o que pertence ao domínio da criminalidade civil!

Pode dar jeito à Igreja invocar uma frase atribuida a Jesus Cristo: «Não julgueis e não sereis julgados». Mas trata-se aqui, mesmo no plano da exegese, de reprovar o juízo subjectivo; não se trata de encobrir o erro com o silêncio, não se trata de ser permissivo perante o "pecado", como se percebe no episódio em que Jesus expulsa violentamente os "vendilhões", do templo.

Em vez de obedecer a Jesus Cristo que fazia atribuir «a Deus o que é de Deus e a César o que é de César», e em vez de preservar de facto o prestígio da Igreja, as autoridades religiosas arriscam tudo para evitar que a investigação escape ao seu controlo pessoal, o que pode fazer crer que receiam elas próprias ver-se acusadas. Não é o “pecado” que as preocupa, é o mêdo da Justiça.


Pode, enfim, ter Jesus Cristo fundado a sua igreja com os mesmos propósitos bondosos com que Deus teria inventado o Mundo e a Humanidade, mas é manifesta a imperfeição de tudo quanto “foi criado” – desde a Terra com as suas catástrofes até à Igreja com as suas vicissitudes.

Invocando o título de um livro de Gilbert Cesbron (*) que fala de “outra” Igreja Católica, de outros padres, de outras práticas, é caso para dizer que “Os santos vão para o inferno”.



Atrevo-me, enfim, a acrescentar que não é de santidade mas de sanidade o que o mundo precisa – coisa que as religiões nunca ajudaram a instalar, promotoras que são de mistérios e castigos, magias e humilhações de personalidade.

Amén !

* Escritor francês de inspiração católica. Livro de 1956.

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