23.7.11

Como desfazer nações

Na sequência do artigo anterior cito agora parte de uma intervenção de Luis Filipe Menezes acerca da crise europeia, no "Frente a Frente" da Sic-Notícias de 19 de Julho:

Não é por acaso que entre os países que estão com (maiores) dificuldades temos a Irlanda, a Espanha, Portugal e a Grécia, os 4 países da adesão da década de 80. Porque foi a Europa rica do centro que moldou uma lógica perversa de apoio ao desenvolvimento dos países do sul, dizendo:


- tomem lá uns milhões de euros e agora destruam a vossa agricultura e quando precisarem de bens alimentares vêm-nos comprar aqui à Alemanha e à França, baratos,

- agora tomem lá mais uns milhões de euros para fazer uns hospitais e uma auto-estradas e abatam a vossa frota pesqueira que quando precisarem de peixe vêm aqui comprar aqui ao Norte porque nós temos peixe em quantidade para distribuir,

- agora tomem lá mais uns baldes de euros e levem para aí uma indústrias alemãs, subsidiem a sua instalação, elas ficam aí uns dez ou 15 anos e depois quando houver um alargamento a leste elas vão partir para mercados onde a mão de obra é mais barata, os custos de produção são mínimos e vocês nessa altura já devem ter o suficiente para se amanharem e não precisam de mais nada.

Ou seja, as economias fortes do centro da europa moldaram quase conscientemente uma dependência de todos estes países periféricos que se transformaram em consumidores dos seus produtos e produtores de coisa nenhuma.

No mesmo programa, João Soares referia que "os juros da Grécia vão em 40% e os juros portugueses vão em 20 %. Já ouvimos dizer que é a banca alemã que está a ganhar com isto!"

Dois dias depois, a União Europeia aprovou medidas "de ajuda" que incluem a diminuição dos juros e o alargamento do prazo de pagamento da dívida grega mas que se aplicam também a Portugal. Se isso tem alguma coisa a ver com a decisão de hoje, de Passos Coelho, no sentido de vender a participação do Estado na EDP, ao grupo de energia alemão RWE, é assunto sobre o qual se fará luz - para quem não esteja claro.

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