5.9.12

Argentina com Cristina

Enquanto os nossos governantes, economistas, e comentadores “do arco do poder” escondem, caricaturam ou aldrabam a situação política e económica argentina, e enquanto o jornalismo ideológico do asco do poder financeiro internacional anda a catar defeitos em Cristina Kirchner, a Argentina liberta-se dos malefícios do FMI e constrói a sua independência, desenvolvimento e melhoria social. Ele que é o país com maior salário industrial da América Latina.

Cristina acredita nas virtudes de um capitalismo controlado. Mas é manifesta a sua preocupação com a “inclusão social”, com o proteccionismo económico (restrições às importações e desenvolvimento da produção nacional), e com os prejuízos que resultam do facto dos EE.UU. serem o único emissor de dólares.

E aposta na industrialização como factor de desenvolvimento, de emprego e de independência nacional.

O seu longo mas denso discurso de improviso na celebração do Dia da Indústria, na noite de 3 de Setembro, valeu por muitas “universidades de Verão” das que por cá se usam. Lá, onde agora começa a Primavera.

A tese mais repetida por Cristina Kirchner é que "não são os modelos económicos mas sim os projectos políticos" que determinam o rumo das nações. Uma tese que, na minha leitura, responsabiliza os políticos de todas as trincheiras que se escudam na invencibilidade do poder financeiro para desculpar as crueldades da Direita e as incompetências da Esquerda.

Enquanto governantes, ex-governantes e aspirantes debatem a melhor forma de disfarçar as suas próprias responsabilidades na austeridade imposta aos portugueses, chega da menosprezada Argentina, para quem quiser ouvir, este discurso responsabilizador. De lá, onde se nacionalizam os sectores estratégicos que aqui se alienam a interesses privados: linhas aéreas e correios, águas e combustíveis, por exemplo.


Não admira que a presidente Cristina Kirchner tenha detractores militantes dentro e fora do seu país. Tanto o grupo que controla o jornal Clarín, como os controladores do segundo maior jornal argentino, o La Nación, disparam contra ela que nem José manuel Fernandes contra os comunistas - passe a comparação. Em causa, na Argentina, está a fome insaciável do agronegócio, entre outros. É que o capitalismo controlado – por assim dizer - só existe na China e ninguém tem grande confiança em que resista às suas contradições.

Aqueles que acusam Cristina de uma proximidade “perigosa” com o “chavismo” da Venezuela, não se dão conta de que podem estar a empurrá-la para lá mesmo - que é o menos preocupante, entenda-se.

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