20.9.12

A estratégia da provocação

Não tem época, não tem lugar. Acontece em todo o tempo e em todos os lugares. É apenas uma forma de luta – tão inteligente quanto cobarde. Quem nunca se deixou enganar pelos métodos provocatórios, certamente não frequentou os campos da batalha política.

Para dar um exemplo fácil de reconhecer, pela actualidade,
hesito entre Portugal e o Egipto mas acabarei por invocar os dois até para vermos como o vírus se adapta a contextos tão diversos.

Nas manifestações populares que decorreram em Portugal no passado dia 15 de Setembro, assistimos em Lisboa a uma acção desencadeada por um grupo de manifestantes que atiraram garrafas contra a Polícia, digo contra os polícias que porventura sofrem mais do que eles (aqueles!) os efeitos da política de empobrecimento. No Porto, outro pequeno grupo aproximou-se do pequeno palco onde populares anónimos denunciavam a política vigente - o que este pequeno grupo fazia era ruído para interferir com aqueles depoimentos, um ruído que usava palavras de ordem aparentemente adequadas às circunstâncias.


Ás vezes, como eu testemunhei agora no Porto, são menos de meia dúzia, mas a sua impetuosa animação e um megafone lhes chegam para fazer o trabalhinho que convém à Direita oficial - sujar a imagem da manifestação..

Topo-os há mais de trinta anos nas manifestações organizadas pela CGTP ou pelo PCP. O seu azar é que nestas são mais controlados. Mas até do controlo que sobre eles se exerce para manter as manifestações em ordem, eles tiram partido, dizendo que “um grupo independente” foi impedido por aquelas organizações, de se manifestar – isto é, de provocar, desvirtuando os objectivos e os métodos dos organizadores.

Alguns órgãos de Informação fazem o maior eco possível destas acções provocatórias e exportam “o produto” para o estrangeiro. Este trabalho é remunerado. O que fazem os provocadores, só faz sentido se também for…

Ontem, na Assembleia da República, Carlos Abreu Amorim, ex-analista político "independente", agora deputado do PSD, fazendo o jogo dos provocadores invocou os distúrbios ocorridos junto ao edifício do Parlamento. Mas a sua intervenção saiu-lhe mais frustrada ainda que a tentativa dos "meninos queques" apalhaçados de meninos pobres.

Quanto às caricaturas de Maomé que têm vendido jornais e filmes e têm comprado ódios e retaliações desnecessários, não visam ajudar os EUA e a França a pacificar as suas relações com o mundo muçulmano. Mas ajudam certamente o Partido Republicano americano e os conservadores franceses, à falta de estratégias mais sérias para contrariar os efeitos dos resultados eleitorais naqueles países – resultados previsíveis ou apurados, respectivamente. E que dizer dos efeitos que esta “arte pela arte” provoca na árdua luta dos muçulmanos progressistas pela laicização dos seus estados?

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