«Pela inteligência o ser humano não tem condições de penetrar nos mistérios de Deus, de conhecer a sua essência, de entender plenamente como Deus é». Para comprendê-Lo, só através da fé – diz a Igreja acerca do “Mistério da Santíssima Trindade”.
A Fé é uma crença no incrível, é uma fantasia, um delírio, uma atitude irracional, sim, mas não estupidez, ao contrário do que possa parecer.
Ela tem a função de nos ajudar a viver fora da realidade quando esta se torna insuportável.
Entre a espada e a parede, é a única forma de evitar a loucura: acreditar que há uma saída ainda que escape à nossa compreensão. Em último caso a saída é a sublimação da morte – acreditar que a morte é boa. Por isso foi criada "a contemplação eterna" para os que morrem em nome de Jesus, e "72 virgens" para os que morrem em nome de Alah.
No domínio religioso, os sacerdotes fingem que sabem de Deus, nós fingimos que acreditamos e, neste jogo de enganos, torna-se mais suportável viver neste inferno em que “fomos criados”. Em circunstâncias mais prosaicas, digamos assim, pode cultivar-se a fé no clube, no amor, no "regresso aos mercados"…
A fé religiosa vende-se nas igrejas; a fé na sorte está disponível em forma de desporto, de casamento, de política, e tem a vantagem de poder realizar-se. Eventualmente. Mas aquela que melhor transcende a realidade, sem perigo para a saúde física ou mental, tem a forma de Arte. O espectador de uma exibição de ilusionismo não tem que acreditar que nascem cartas nas mãos do artista; basta-lhe o fascínio da ilusão. E acaso os católicos acreditam que há tantas "Nossas Senhoras" como se pinta - Senhora de Fátima, Senhora de Lourdes, Senhora da Agrela...? Não, mas inventam-nas à medida das suas necessidades psicológicas. Como se inventam santos, anjos, deuses e demónios. Como se santificam, endeusam, os nossos herois; como se demonizam os nossos inimigos.
A pintora surrealista Leonor Carrington que "Queria ser pássaro" (quadro acima), conseguiu voar do hospício onde a família a internou em Espanha, e voar para longe do nazismo, escapando por Lisboa para o México em 1941. Faleceu em 25 de Maio de 2011.
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