HOJE
De Rerum Nature de 16 de Outubro de 2014
As organizações representativas de investigadores, docentes e bolseiros de investigação abaixo indicadas, numa ação concertada igualmente com o SNESUP, bem ainda como muitos colegas que em nome individual nos têm apoiado, vão lançar a partir de amanhã, sexta-feira 17 de outubro e até à suspensão/correção das avaliações da responsabilidade da FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia), uma campanha nas instituições de ensino superior e unidades de investigação, intitulada LUTO PELA CIÊNCIA.
Os investigadores e docentes são convidados a exibirem sinais negros de “luto” nos seus locais de trabalho (laboratórios, gabinetes, etc.), em “luta” contra ilegalidades e erros graves das avaliações da responsabilidade da FCT – seja a dos Centros de Investigação, “dizimados” para metade, seja a “poda” de cerca de 2/3 dos candidatos dos concursos de bolsas e contratos “investigador FCT”. Usaremos de todos os meios legais, incluindo os judiciais, para invalidar estas avaliações, e substitui-las por outras que respeitem a legalidade e que sejam não só transparentes como justas. Nesta data, em nome da liberdade académica, solidarizamo-nos igualmente com a astrofísica espanhola Amaya Moro-Martin que criticou o processo de avaliação em Portugal conduzido pela European Science Foundation (ESF) a solicitação da FCT, num artigo de opinião recentemente publicado na revista Nature, e foi ameaçada pela ESF com um processo judicial. Apelamos também à subscrição de uma carta aberta europeia em apoio da Ciência, que pode ser obtida no link http://openletter.euroscience.org.
ONTEM
Os Movimentos Científico e Matemático
Por: Jorge
Rezende, Professor da Universidade de Lisboa (artigo de 2006)
Em 16 de
Novembro de 1936, bolseiros do IAC que tinham estado em vários países da Europa
– Arnaldo Peres de Carvalho, Herculano Amorim Ferreira, Manuel Valadares e António da Silveira – aos quais se juntou Bento de Jesus Caraça, fundaram o Núcleo de Matemática, Física e Química, que pretendia ser o início de uma
verdadeira Escola de Ciência, à imagem da realidade com que tinham contactado e na qual tinham trabalhado no estrangeiro.
(...)
Embora a ideia
inicial fosse muito mais ambiciosa, o Núcleo acabou apenas por promover a
realização de ciclos de conferências de alto valor científico, bem como a sua
publicação em livros de elevada qualidade.
Curiosamente, os dois primeiros conjuntos de conferências foram os de Bento de Jesus Caraça, sobre Cálculo Vectorial, iniciado justamente a 16 de Novembro de 1936, e o de Ruy Luís Gomes, sobre Teoria da
Relatividade Restrita, iniciado a 19 de Abril de 1937. Ambos os cursos deram origem aos dois primeiros volumes da colecção do Núcleo, a qual só viria a ter três volumes... Estes livros são ainda hoje bastante conhecidos, particularmente o de Caraça que já teve várias edições.
O fascismo moveu perseguições diversas ao Núcleo, a principal das quais foi a de fechar as portas das escolas às suas actividades, com destaque para a Faculdade de Ciências (onde Valadares era professor) e o ISCEF (actual ISEG e onde Caraça era professor). Só o Instituto Superior Técnico lhe abriu as portas.
Infelizmente, o Núcleo acabou por se extinguir em 6 de Novembro de 1939, sobretudo devido a divergências internas.
(...)
A formação do Núcleo de Matemática, Física e Química, em 1936, marca o início do Movimento Científico em Portugal, que foi posto entre parêntesis com as expulsões de 1947, e que só retomaria verdadeiramente com a Revolução de 25 de Abril de 1974.NOTA
As imagens dos 3 recortes de imprensa de 1947 fazem parte do meu documentário para a RTP, "Manuel Valadares, um caso exemplar" já invocado e anteriormente.
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