12.10.14

Porque hoje é domingo (57)

Jesus transformou a água em vinho – conta João, o evangelista, e só ele (2, 1-11).

Até aqui não é nada que o taberneiro da Travessa dos Congregados não fizesse diariamente sem que ninguém lho pedisse. E a gente que se sentava como eu na sala de segunda classe, do restaurante, logo à entrada, onde as mesas não tinham toalha, bebia aquela zurrapa escura e espumosa com o mesmo divino prazer com que chafurdava num prato de tripas quando não umas papas de sarrabulho… Um veneno matava o outro.

Naquele tempo em que Jesus se estreou a fazer milagres, não havia ASAI nem super-mercados nem grandes cuidados preventivos nem fitness nem ciclovias, mas também não havia cancros nem sida nem hospitais privados, se a memória não me atraiçoa.

Mas a questão que se coloca é outra: que importância especial teve esse casamento para que Jesus e a sua mãe mas também os discípulos nela participassem, e para que Jesus desperdiçasse a sua transcendência na coisa fútil de suprir a falta de álcool às mesas – ele que não era o noivo nem o dono da casa, salvo melhor opinião.

1 comentário:

antónio m p disse...

Quando digo que não existia cancro é para significar que a doença não era identificada ou designada como tal. O que não quer dizer que não exista há milhares de anos.