A melhor maneira de saber o que transforma num terrorista, um jovem "integrado" socialmente, é perguntar-lhe. Mas, para isso, é preciso não ter medo da resposta.
Os pais, argelinos emigrados em Paris, terão falecido quando Cherif e o irmão, Said, eram ainda crianças. Os dois irmãos Kouachi nasceram em Paris e cresceram em Rennes até voltarem a viver em Paris. Terão feito uma vida pacífica e discreta.
Na década de 90, Cherif é suspeito de tentar engendrar um plano para libertar o cérebro dos atentados de 1995 (oito atentados à bomba, associados à guerra civil argelina e que levaram à suspensão dos acordos de Schengen).
Os dois irmãos, ainda menores de idade, ficaram sob os cuidados dos serviços sociais franceses entre 1994 e 2000 num “centro educacional” de Rennes – um orfanato. Said tirou então um curso de hotelaria, e Cherif fez um curso de eletrotécnica.
Cherif, já com um diploma de professor de desporto, voltou para Paris onde trabalhou a entregar pizzas!
Em 2003, quando tinha 21 anos, Cherif começou a frequentar uma mesquita, onde conheceu um religioso de orientação salafista que era mentor de diversos jovens e que levaria os dois irmãos para a via do extremismo fanático. Para isso teria contribuído, segundo terá dito à Associated Press, as imagens
ultrajantes de tortura infligida a iraquianos, que viu ocorrerem na prisão
norte-americana de Abu Ghraib.
Ao que parece, essa repulsa contra imagens ultrajantes não lhe ocorreu durante a prática dos crimes que ele próprio depois cometeu.
A partir daí, é a história de um jihadista, entre os treinos militares, a participação em atentados, as prisões, as fugas, o recrutamento de novos combatentes, a clandestinidade, viagens à Síria e ao Iraque, novos atentados, novas perseguições – o círculo vicioso do crime. Porque Deus… Porque o Profeta… Porque já não há outra solução: o crime ou a prisão.
Nestas circunstâncias, o melhor que pode fazer, se ainda tiver oportunidade, é vingar-se de alguma forma útil, isso sim, dos mentores que o contaminaram com o vírus do ódio. E entregar-se à Polícia.
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