As acções terroristas ocorridas em Paris no passado dia 7 de Janeiro, depois de concentrarem as atenções públicas ou mediáticas nos actos criminais, naturalmente, começaram a focar-se nas motivações, nas explicações
pessoais e sociais. E, associadas a estas últimas, as questões políticas, desde
a defesa das liberdades (em manifestações, p.e.) até aos apelos xenófobos (as
declarações de Marine Le Pen, p.e.).
Por minha parte, e associando-me ao posicionamento ateu do jornal "Charlie Hebdo" e porque hoje é domingo!, abordo a questão religiosa.
Miguel Real defende que a religião assenta na “suspeita da existência” de uma realidade exterior àquela que conhecemos, uma “realidade outra”.
E que a fé nessa realidade, nesse “outro mundo”, é um sentimento individual, uma “emoção”.
Quanto ao conteúdo doutrinário da religião, ele diz que é “apenas ficção”.
Na minha opinião, a religião explora os sentimentos mais íntimos e intensos inerentes à natureza humana, tal como a política explora o sentido de justiça, e o comércio explora as necessidades materiais.
Um terrorista é feito de todos estes elementos.
Além disso, tal como o comércio inventa novas necessidades, para sobreviver, a política inventa conflitos e a religião inventa infernos e paraísos, pecados e absolvições, deuses, anjos e santos. E mártires!
Um terrorista religioso que sacrifica a sua vida e a dos outros, faz do sangue o combustível que inflama a sua religião. Até porque é no terror que se fundamenta a fé, como Saramago (*) e outros têm mostrado, com fundamento nos “livros sagrados”.
Enquanto portadora de medos e castigos, a religião é, ela própria, terrorista.
(*) Ver minha adenda em “comentários”.
1 comentário:
O conteúdo crítico e ateu de José Saramago no “Evangelho Segundo Jesus Cristo” levou a que o livro fosse considerado ofensivo e que o governo português, pressionado pela Igreja Católica e por meio do então Subsecretário de Estado da Cultura de Portugal, Sousa Lara, vetasse este livro de uma lista de romances portugueses candidatos ao Prémio Aristeion, por "atentar contra a moral cristã".
«A apregoada beleza literária, a existir nesta obra, longe de atenuante e muito menos dirimente, constitui circunstância agravante da culpabilidade do réu, seu auto»r. D. Eurico, bispo.
O ex-sub-secretário de Estado da Cultura referiu (mais tarde) que a sua decisão teve o apoio do então primeiro-ministro, Cavaco Silva, que terá chegado a mostrar disponibilidade para o acompanhar em actos públicos, de forma a manifestar-lhe o seu apoio pela decisão. (Abril de 2004/TSF)
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