“Malgré tout”, os portugueses devem a Paris e aos franceses em geral, mais do que devem talvez a qualquer outro povo europeu.
A foto seguinte bem podia representar essa homenagem se as manifestações de vitória pessoal dos refugiados políticos e económicos fossem tão expressivas como as vitórias no futebol.
Com este reconhecimento sincero fecho o tríptico sobre a cidade.
«Finalmente!!!!! Isto pode ser o penico da Europa, mas que felicidade respirar a liberdade. Finalmente!!!!». Reproduzo de memória as primeiras palavras do Luelmo, na carta que recebi de Paris, dias depois que eu dei pela sua ausência no quartel e na casa que alugámos em Tavira. Seria 1970.
O Luelmo fugiu! O sacana pirou-se e nem me perguntou se eu queria fugir também. Já não estaria em Paris quando eu recebi a carta, que a prudência assim mandava. Creio que foi dali para Inglaterra e depois para a Suécia, aceitando vários trabalhos, mas disso não direi mais porque é falar da vida de terceiros.
Mais tarde, quando eu já “militava” num outro quartel e a mobilização para a guerra de África estaria por poucas semanas, a minha disposição para “dar o salto” já só dependia de saber como fazê-lo. Nunca o soube. Logo, o único salto que estava ao meu alcance era mesmo o que me destinava o regime: “para Angola, rapidamente e em força”!
Mas quantos Luelmos ficaram definitiva e justamente agradecidos por serem acolhidos ou poderem transitar por França para outros destinos democráticos! E quantos exilados políticos, como o professor Manuel Valadares em 1947, de quem fiz um documentário para a RTP. E quantos emigrantes clandestinos como o tio Joaquim, nomeadamente na grande vaga dos anos sessenta mas ainda hoje.
Deixo apenas referências pessoais porque não faltam fontes de informação acerca da emigração económica portuguesa para França e das mais prestigiadas figuras públicas dos nossos dias que encontraram em Paris refúgio para as perseguições salazaristas. Menos de uma semana antes do 25 de Abril de 1974, por exemplo, Álvaro Cunhal e Mário Soares, entre outros, estiveram reunidos em Paris!
Leia-se, enfim, nas expressões irónicas e sarcásticas dos meus artigos anteriores, uma homenagem à cultura de Liberdade que a França representa e apresenta.
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