«A China deverá tornar-se este ano a segunda economia do mundo. E a primeira até 2026, segundo o banco americano Goldman Sachs» – leio no Monde Diplomatique de 5 de Fevereiro de 2010. Estamos a falar do país com o maior crescimento económico dos últimos 25 anos no mundo, com a média do crescimento do PIB em torno de 10% por ano. Estamos a falar de um país socialista.
Marxista à minha maneira como cada um o é à sua, parece-me adequado perguntar o que tem esta China e este processo de desenvolvimento a ver com o Socialismo. E com algum atrevimento acima das minhas posses intelectuais, perguntaria mais: será que o marxismo cometeu um erro fundamental ao politizar a Economia? Isto é: será que as leis económicas podem ser sujeitas a opções ideológicas?
Nacionalizar ou privatizar os meios de produção, por exemplo, são opções do domínio económico que só podem ser avaliadas em contextos específicos, não sendo de estranhar as vantagens de privatizar em contexto socialista, como as vantagens de nacionalizar em contexto capitalista – não é preciso ir longe para encontrar exemplos!
A própria “lógica de mercado” é assimilável pelo Socialismo se tivermos em conta as relações internacionais, não só da China mas até da URSS enquanto existiu. A reclamação de Cuba contra o embargo económico, ela própria, diz muito sobre isso. Afinal as matérias primas, as máquinas e as moedas de troca não têm ideologia, têm funcionalidade, servem a produção, o desenvolvimento, a satisfação de necessidades.
Dir-se-ia, à luz destas experiências históricas, que é o grau de participação de cada estado nas diversas componentes das economias, mais do que a sua inclusão total, o que permite caracterizar o sistema político-económico. E que o resto é retórica ideológica. A própria questão central do capitalismo, o lucro individual, parece sujeitar-se ao critério do grau e não da rigorosa inclusividade ou exclusividade.
Para voltar ao caso da China, o respectivo governo reformou a economia do país no final da década de 1970, no sentido de abri-la ao mercado e valorizar o sector privado. O resultado foi o rápido crescimento que se tem visto e sem que o governo deixasse de se reivindicar e organizar em moldes socialistas.O que resta ao socialismo para se diferenciar do capitalismo no domínio económico ? Ou essa é uma falsa questão e toda a Economia é uma só, como a Ecologia? Neste caso a ideologia socialista deveria confinar-se à política, garantida que estivesse a subordinação da economia à sua soberania.
Saber como este modelo se pode conformar com a “libertação dos povos” proclamada pelo socialismo marxista, sabendo nós que a própria China não é (ainda?) um exemplo nesta matéria, eis a questão.
Questão tão pertinente e incontornável como lembrar que foi o carácter socialista do regime chinês, isto é, a subordinação da economia ao poder político, que permitiu à China dispor e injectar rapidamente dinheiro na economia quando o mundo entrou em crise financeira! É uma vantagem da banca nacionalizada.
3 comentários:
Apreciei algumas das perguntas que aqui levantou embora desconfie, porque devemos assentar em pressupostos de base completamente diferentes, que os caminhos trilhados para lhes responder - às tais perguntas - serão totalmente diferentes.
A começar pelas razões para que a China esteja a regressar ao seu estatuto de polo de vanguarda económica mundial, condição natural que ela sempre teve no último milénio, com excepção destes dois últimos séculos...
E este comentário meu, sendo marxista no seu determinismo histórico, não tem porém nada a ver nem com socialismos, nem com capitalismos.
o mundo estava a precisar de uma mudanca
Beijos
Paula
Obrigado, António Teixeira, por trazer o seu comentário.
Não me atrevo a ir muito mais longe sobre a China ou mesmo apenas sobre a República Popular da China, tão vasta é a minha ignorância da sua riquíssima história, do seu vastíssimo território e da sua imensa população. Compreendo que todos estes factores, de resto, sejam indispensáveis para compreender o micro-cosmos da sua actualidade política e económica - fenómenos estes que não devem realmente a socialismos nem a capitalismos. E compreendo que o seu desenvolvimento económico tenha que ser analisado à luz de tudo isso.
Refiro-me apenas a aspectos objectivos actuais que se prendem com a questão dos méritos "incontroversos" do capitalismo e os deméritos "indiscutíveis" do socialismo.
O meu propósito fica-se pois, como certamente compreendeu, pela reflexão crítica sobre certos dogmas correntes acerca das virtualidades do "mercado livre" e da propriedade privada das estruturas determinantes das economias nacionais. Dogmas só comparáveis aos radicalismos estúpidos de um Albano Nunes, por exemplo, mentor do marxismo-leninismo do PCP.
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