24.10.10

Importa que não se importe

2010 Outubro 24

Todos os dias e em toda a parte, os políticos e economistas com voz nos orgãos de difusão, insistem na necessidade de aumentar as exportações como medida para reduzir o défice da nossa Balança Comercial e assim reduzir a dívida externa.

Parece que faz sentido! Mas atendendo às enormes dificuldades de exportar quando os outros países estão “em contracção”, eles a braços com problemas da mesma natureza, e quando o nosso “aparelho produtivo” tem sido destruído por decisão política nacional e europeia, esta parece ser uma questão retórica.

Tal discurso exprime mais desejo do que viabilidade, mas há um "efeito colateral" que não passa despercebido: ele serve de pretexto para defender a diminuição dos apoios sociais e do rendimento dos trabalhadores “a fim de diminuir os custos de produção e tornar os nossos produtos mais competitivos no mercado”.
Claro que as exportações têm que ser promovidas e não sou eu quem venha desmoralizar o Primeiro-Ministro num dia forte de vendas à Venezuela, mas há sinais, e nem a minha formação económica me habilita a dizer mais, de que há muito a fazer “do lado” das importações numa sociedade onde o consumo supérfluo foi incentivado com grande sucesso por parte das empresas, dos bancos e dos governantes.

Parece evidente que é prioritário, por razão de eficiência, contrariar os consumos supérfluos e muitas vezes sumptuários dos governantes (a Direita diria “do Estado”), dos empresários e dos cidadãos mais abastados. No caso dos governantes, de forma coerciva, aos restantes através de desincentivos a esse tipo de consumo – aqui sim, talvez seja o IVA um instrumento de correcção onde não venha agravar custos de produção nacional.

Desculpem, mas é que ainda faltava eu dizer qualquer coisinha...

Nota:
«No período de Junho a Agosto de 2010, as saídas de bens registaram um aumento de 14,2% e as entradas de 10,0% face ao período homólogo (Junho a Agosto de 2009), resultando, ainda assim, no agravamento do défice da balança comercial em 161,2 milhões de euros.» - INE

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