Acabada a guerra colonial e durante anos, não foram raros os antigos combatentes com perturbações mentais, exibindo na rua a farda militar e outros acessórios mais ou menos ridículos com que expressavam a recusa em aceitar a paz, moldados como foram para a guerra.
Foi o que se passou com o sargento Getúlio – este aqui, personagem de ficção na obra do escritor brasileiro João Ubaldo Ribeiro agora agraciado com o Prémio Camões.
Informado de que a guerra havia terminado e que devia, portanto, abandonar a missão a que se dedicara com total empenho, na selva, recusa a ordem e prossegue o seu combate delirante.
Tive o privilégio de ver o filme há bastantes anos no festival de Cinema de Troia, à margem do circuito comercial que nunca conheceu em Portugal, segundo creio. O autor do livro também participou na feitura do guião – do roteiro, como se diz no Brasil.
Abolida a polícia política e as suas prisões, abandonada a clandestinidade, também a democracia portuguesa manifesta por vezes sintomas desses traumas. E mais não digo sobre combates delirantes, para não ofender quem travou no tempo certo lutas heroicas contra o fascismo português, sofrendo privações, prisões, torturas.
Felismente foram poucos os que perderam o bom-senso. Infelismente estão acantonados onde não deviam, e disparam contra tudo o que mexe.
1 comentário:
Excelente texto a propósito da evocação do Ubaldo que bem merece o prémio.
Diz alguma coisa sobre a sessão do dia 11, o que achaste?
Estou com uma carraspana terrivel há mais de uma semana...preocupada mesmo.
beijo
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